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Irã rejeita receber relatores da ONU para direitos humanos
Brasil insiste em pedido de que enviados do organismo visitem o país persa, expondo contraposição a iranianos
Teerã rechaça ainda outras 43 recomendações, como a de dar proteção legal a minorias, adotando 101 que são tidas como inócuas
DE GENEBRA
O Brasil se afastou mais um
passo do governo iraniano na
questão dos direitos humanos
ao insistir ontem em que o Irã
receba relatores especiais da
ONU. A intervenção em sessão
no Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, não só tornou mais explícita a posição
brasileira como se contrapôs ao
"não" de Teerã aos relatores.
O Itamaraty, como a Folha
revelou, tem coordenado sua
posição mais dura sobre o Irã
em Genebra com o debate no
Conselho de Segurança, em
Nova York, sobre sanções ao
programa nuclear do país -cujo objetivo declarado é pacífico,
mas que EUA, França, Rússia e
outros temem ser a bomba.
Assim, mantém sua posição
contra sanções e em defesa do
diálogo. Mas, ao mesmo tempo,
tenta mostrar que não é aliado
irrestrito do governo Ahmadinejad, o que lhe daria mais credibilidade como mediador.
Ontem, o Brasil deixou isso
claro ao pedir a emenda explicitando as visitas de relatores
especiais da ONU ao documento final da revisão periódica do
Irã em Genebra, que compila o
relatório de Teerã e as recomendações dos demais países.
A recomendação, como antecipado pela Folha, foi feita na
segunda. Ao ser reforçada (sem
a veemência de EUA, França,
Chile e outros), ganha peso por
vir após o Irã rejeitar o pedido
por relatores e por Brasília estar sendo vista como capaz de
persuadir Teerã, na opinião de
diplomatas estrangeiros, ativistas e observadores.
O mecanismo de relatores é
uma das bases do processo sobre direitos humanos na ONU.
Inclui tanto os relatores especiais temáticos, que reportam
sobre questões específicas (como tortura) quanto os relatores especiais por país, com poderes e acesso maiores.
O Brasil deixou a porta aberta para ambos ao não especificar de quais fala. Indagada, a
embaixadora brasileira na
ONU em Genebra, Maria Nazareth Farani Azevedo, disse à
Folha que o país está disposto a
avaliar a criação de um relator
específico sobre o Irã.
Mas evitou assumir uma posição. "O Brasil nunca foi abordado no conselho para tratar de
relator especial para o Irã. Se
for, examinará a proposta."
Esse mecanismo poderá ser
ativado em junho, quando o
conselho examinar a implementação das recomendações.
Teerã rechaça o pedido, assim como vetou ontem outras
43 -inclusive as que pedem
proteção legal às minorias religiosas e políticas, o fim da perseguição à fé Bahá'i e o fim da
pena de morte para menores.
O argumento usado pelo representante iraniano, Mohammad Larijani, é o de que os pedidos foram feitos usando "linguagem venenosa", por países
sem moral, e estão ligados a outro contexto geopolítico: o debate das sanções.
Foram adotadas 101 recomendações, a maioria inócua
ou revertida no próprio texto.
Para ativistas, o processo é "hipócrita".
(LUCIANA COELHO)
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