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São Paulo, terça-feira, 18 de março de 2003

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Para analistas, ditador não renunciará

DA REDAÇÃO

A renúncia de Saddam Hussein, colocada como condição central pelo governo Bush para evitar um ataque ao Iraque, é muito improvável por duas razões centrais: a auto-determinação do ditador e seu código de honra. Essa é a avaliação de especialistas em política iraquiana e estudiosos da trajetória de Saddam.
Em recente artigo publicado pelo Instituto Brookings (EUA), o israelense Amatzia Baram, chefe do departamento de história do Oriente Médio na Universidade de Haifa (Israel), recorre à biografia de Saddam para mostrar como o líder iraquiano crê ser um predestinado.
"Saddam diz crer em seu destino desde o nascimento, quando sua mãe teria tentado abortá-lo", afirma Baram. "Esse e outros casos em que ele conseguiu sobreviver em situações desesperadores deram-lhe uma forte convicção de que nunca será abandonado pela sorte", completa.
Essa crença está alicerçada, segundo o acadêmico, na articulação política do ditador. "Após a Guerra do Golfo, Saddam fez concessões significativas para a ONU, permitindo que inspetores de armas vasculhassem seu território quase livremente. Foi um duro golpe para a soberania iraquiana, mas a concessão permitiu que Saddam continuasse no poder, mantendo intacto seu regime."
Analistas apontam também que o rígido código de honra do ditador dificulta qualquer possibilidade de renúncia. "Saddam veria a hipótese de deixar o país como um sinal de fraqueza", argumenta Ellen Laipson, presidente do Henry L. Stimson Center, "think tank" especializado em relações internacionais.
O professor Amatzia Baram confirma esse raciocínio: "Entre os apoiadores de Saddam, a honra muitas vezes é mais importante do que a vida."
Outro ponto importante da argumentação de Baram é o papel histórico do ditador. "Saddam está convencido de que é seu destino ser o redentor da nação árabe. E os EUA representam seu maior inimigo", diz.

Caçada difícil
Para esses especialistas, na hipótese, considerada remota, de Saddam decidir fugir, os EUA teriam dificuldades para rastreá-lo, principalmente se a fuga ocorresse no início do conflito. Os norte-americanos, dizem, ainda não são capazes de monitorar a movimentação do ditador.
Entretanto, esses analistas dizem não ser possível comparar esse cenário com o do desaparecimento do saudita Osama bin Laden, pois Saddam não teria uma rede como a Al Qaeda para dar-lhe cobertura.
"Será muito mais difícil para ele buscar abrigo fora do Iraque. E ele não parece ser o tipo de personagem que se esconda em cavernas", opina Laipson.


Com agências internacionais


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