São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2010

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Bento 16 vai enviar carta a fiéis da Irlanda condenando pedofilia

Papa, contudo, é cobrado a abordar publicamente abusos em sua terra natal

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

O papa Bento 16 anunciou ontem em sua audiência na praça São Pedro que enviará uma carta aos fiéis irlandeses na qual aborda os recentes escândalos de abuso sexual de crianças por membros da Igreja Católica no país. O líder religioso afirmou que a instituição foi "profundamente abalada" e que ele está preocupado.
Com a carta, que será assinada amanhã e cujo teor exato não foi revelado, Bento 16 disse esperar ajudar a "curar" a comunidade. "Peço a todos vocês que a leiam com o coração aberto e o espírito da fé. Minha esperança é que isso ajude no processo de arrependimento, cura e renovação", declarou, segundo agências de notícias.
A Igreja Católica irlandesa passa por uma crise com a revelação, nos últimos meses, de uma série de casos de abusos contra crianças praticados por padres entre os anos 30 e 90.
Ontem, dia de são Patrício, padroeiro da Irlanda, o cardeal Sean Brady, chefe da Igreja Católica no país, veio a público se desculpar por ter participado do acobertamento do escândalo à época, quando era padre. No mês passado, o Vaticano convocou um encontro apenas para lidar com o tema.
Em maio de 2009, um relatório que compilou nove anos de investigações expôs uma prática disseminada de molestamentos e violações em parte das instituições irlandesas que atingiu mais de 15 mil crianças e adolescentes. Quatro bispos renunciaram desde então.
O filme "Em Nome de Deus" ("The Magdalene Sisters", de Peter Mullan, 2002) faz um retrato perturbador da vida nos orfanatos e instituições correcionais católicos nos anos 70.

Outros países
A exposição do caso irlandês colocou na berlinda a Igreja Católica em outros países europeus, como Holanda, Áustria, Suíça e sobretudo a Alemanha natal do atual papa. Mas Bento 16 não abordou os demais casos na audiência de ontem.
Na semana passada, a Igreja Católica alemã admitiu "erros" cometidos na Arquidiocese de Munique entre o fim da década de 70 e o início da de 80, quando o próprio papa, então bispo Joseph Ratzinger, a presidia.
Nos últimos meses, emergiu que pelo menos 250 ex-alunos de instituições católicas alemãs foram submetidos a abusos físicos e psicológicos. A partir de 30 de março, a igreja no país terá uma linha exclusiva para a denúncia de abusos.
A chanceler Angela Merkel afirmou ontem no Parlamento que o tema é um "desafio para a sociedade alemã". "Não simplifiquemos as coisas. Temos de falar a verdade e com claridade sobre o que houve."
Recentemente, tem crescido o coro pedindo que o papa fale publicamente do problema em seu país -ele já tratou em particular, com o líder da conferência dos bispos alemães.

Com agências internacionais



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