São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Chineses e sul-coreanos deixam país em massa

Com medo da radiação, estrangeiros usam voo fretado para sair do Japão

Comércio em Tóquio já volta a funcionar, mas o movimento nas ruas continua baixo e falta comida em mercados

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO

Vizinhos do Japão, a China e a Coreia do Sul são os países que estão fazendo de forma mais rápida a retirada em larga escala de seus cidadãos do território japonês. A técnica é fretar voos e fazer retiradas em massa. Estados Unidos e Reino Unido estão adotando a mesma medida.
"O aumento de passageiros para o Ocidente é pouco significativo, mas há um grande embarque de chineses e sul-coreanos", disse à Folha Shohei Kagawa, porta-voz do aeroporto de Narita, o maior do Japão para voos internacionais.
Ele afirmou que não tinha estatísticas sobre o fluxo de passageiros.
Ontem à tarde, chineses formavam uma grande fila para entrar num voo fretado.
Outros dois voos, com destino à Coreia do Sul, esperavam para partir.
Autoridades sul-coreanas disseram ontem que detectaram três passageiros provenientes do Japão com níveis anormais de radiação.
"Estamos com medo", disse a chinesa Wang (nome fictício), que abandonou seu emprego anteontem numa empresa de software para voltar, com quatro colegas, à China. Elas disseram que a orientação de Pequim pesou na decisão.
O grupo, que viajaria num voo comercial, disse que tiveram de pagar R$ 4.260 por cada passagem, cinco vezes mais caro do que o normal.
A China tem milhares de cidadãos no Japão. Só estagiários são 171.800, segundo a agência Xinhua. Pequim não deixou claro se pretende retirar apenas os cidadãos que estão na zona atingida ou em todo o país.
Em casa, os chineses têm dado sinais de que temem a contaminação nuclear. Em Pequim e outras cidades, o sal sumiu das prateleiras.
A explicação é um temor infundado de que o produto estará em breve com radiação, pois a água do mar estaria sendo contaminada no socorro à usina nuclear de Fukushima.
Ontem, o governo chinês exortou Tóquio a dar informações mais precisas sobre a crise nuclear, aumentando o coro de países descontentes com a atuação do premiê japonês Naoto Kan, entre os quais os EUA.
Washington começou a oferecer voos fretados para cidadãos que queiram deixar o país. França, Austrália, Alemanha e Reino Unido recomendaram seus cidadãos a deixar o Japão.
O governo americano disse ter havido relatos de que cargas chegadas ao país com origem no Japão registraram radiação acima do normal.
Diplomatas brasileiros devem enviar amanhã um segundo comboio de ônibus para retirar brasileiros das áreas mais atingidas pelo terremoto e pelo tsunami.

TÓQUIO
As ruas da capital do Japão continuam mais vazias do que o habitual. Quase todo o comércio funcionou, inclusive restaurantes, mas há problemas de desabastecimento na região metropolitana.
Na estação do Shinkansen, o trem-bala japonês, havia passagens disponíveis à tarde em todas as partidas em direção ao sul do Japão.
Ontem, os níveis de radiação na capital japonesa estava um pouco mais alto do que o normal, sem representar ameaça à saúde.
A brasileira Graziela Kazuma, 30, da cidade satélite de Kawaguchi, diz que o abastecimento dos supermercados da região está precário. Segundo ela, arroz, água mineral e leite estão escassos.
Ela precisou rodar cinco supermercados para encontrar água mineral. No entanto, ela diz que a situação está ficando melhor. "Leite estava em falta, mas hoje eu já encontrei", diz ela.

Com ROBERTO MAXWELL


Texto Anterior: Sobrevivente de bomba atômica reage à crise nuclear com calma
Próximo Texto: Prejuízo recorde: Recuperação pode custar R$ 336 bilhões
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.