São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

EUA reclamaram de japonês na AIEA

Ontem, presidente americano elogiou "esforço heroico" de japoneses após mal-estar entre os dois governos

Para americanos, chefe da segurança nuclear era leniente com Japão, apontam documentos divulgados por site

DA REUTERS

Dois anos antes da atual crise nuclear no Japão, desencadeada pelo tsunami da semana passada, integrantes do governo dos EUA fizeram duras críticas ao então diretor de segurança da AIEA (agência de energia atômica da ONU), o japonês Tomihiro Taniguchi, por falta de rigor no controle das usinas de seu próprio país.
As reclamações partiram de diplomatas americanos, que apontaram "fraquezas" e "limitações" do japonês em telegramas secretos do Departamento de Estado obtidos pelo site WikiLeaks e divulgados ontem pela agência Reuters.
As críticas aumentaram o mal-estar entre os governos dos dois países, que vêm divergindo publicamente nos últimos dias em relação ao grau de risco apresentado pela usina de Fukushima 1.
Anteontem, o chefe da comissão nuclear dos EUA, Gregory Jaczko, havia dito que acreditava que a radiação no reator 4 da usina era "extremamente alta" e que suspeitava de que não há mais água em seu reservatório. As declarações contradizem a versão da Tepco, empresa local que opera a usina atingida.
Ontem, no entanto, o presidente americano, Barack Obama, amenizou o desconforto ao elogiar o país que protagoniza o drama nuclear. Segundo ele, os japoneses vêm fazendo um "trabalho heroico" para controlar os efeitos do colapso nos reatores da usina.
As suspeitas dos EUA em relação ao japonês, que era responsável pela área de segurança da AIEA até o ano passado, partiram de diplomatas credenciados junto à agência, com sede em Viena.
"Nos últimos dez anos o Departamento [de Segurança da AIEA] tem sido tremendamente prejudicado pela falta de habilidades do (vice-diretor geral) Taniguchi em termos de gestão e liderança", afirmou um diplomata em um telegrama de dezembro de 2009.
Em outro comunicado enviado ao Departamento de Estado em julho de 2009, um funcionário afirma que "Taniguchi vem sendo um administrador e defensor fraco, particularmente para questionar as práticas de segurança do Japão".
Conforme o mesmo diplomata, o japonês "decepciona os Estados Unidos especialmente pelo tratamento de enteado não amado que dá ao ao setor de Segurança Nuclear".
A AIEA não comentou o conteúdo de telegramas divulgados.

SUSPEITAS DE FRAUDE
A crise nuclear provocada pelo tsunami desencadeou também uma análise minuciosa das autoridades nucleares do Japão, sobretudo da Tepco, que opera os reatores danificados.
A empresa tem um histórico de escândalos, que envolvem a falsificação de informações relativas ao controle de segurança de suas usinas.
Em 2002, cinco executivos da companhia tiveram de pedir demissão em razão de suspeitas de falsificação de dados fornecidos em inspeções.
Na época, cinco reatores operados pela empresa tiveram de suspender as operações temporariamente.
Já em 2006, novas suspeitas de fraude fizeram com que o governo japonês exigisse que a Tepco revisasse os registros históricos da temperatura da água que resfriavam os reatores da usina de Fukushima.
Conforme investigações realizadas, as temperaturas da água foram falsificados em 1985 e 1988. Posteriormente, esses dados foram fornecidos em inspeções obrigatórias concluídas em outubro de 2005.


Texto Anterior: Agricultor é vítima esquecida da tragédia
Próximo Texto: Pré-sal terá cooperação de Brasil e EUA
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.