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São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2003

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VAZIO DE PODER

Membro de grupo opositor diz que foi nomeado por conselho, mas EUA ignoram decisão

No caos de Bagdá, surge um vizir

DA REDAÇÃO

Tentando preencher o vazio de poder político em Bagdá, um membro do grupo opositor Congresso Nacional Iraquiano (CNI) se disse vizir (chefe) da capital.
Mohammed Moshen Zubaidi disse ter sido eleito por um conselho interino formado por acadêmicos, xiitas, sunitas, cristãos e escritores. O CNI é liderado pelo xiita Ahmad Chalabi, apoiado pelos EUA. Mas as tropas americanas que controlam Bagdá disseram ignorar a iniciativa.
Os saques generalizados que tomaram conta da capital iraquiana após a derrubada do regime de Saddam Hussein têm feito muitos moradores de Bagdá pensar que talvez antes a situação fosse, apesar de tudo, menos ruim.
"Estou feliz de que ele (Saddam) tenha sumido, mas a situação hoje é realmente muito pior do que já foi", disse Sayed Al Hashim, um funcionário do governo que trabalhava no centro da cidade.
"Este é um período muito duro para nós. Não sei o que aconteceu em meu país. Quem está governando? Onde estão as autoridades? Onde está a polícia?"
Al Hashim foi um dos cem funcionários do governo que protestaram ontem, em frente ao hotel Palestine, pedindo que as forças dos EUA apressem os planos para uma nova administração no país.
Enquanto um novo governo não se forma, o principal museu do país foi saqueado, hospitais são invadidos e cidade continua sem abastecimento regular de água e energia elétrica.
Ontem, num assalto criativo, ladrões abriram um pequeno buraco na parede de um banco e jogaram dentro dele algumas crianças, encarregadas de fazer passar o dinheiro pelo rombo.
Ao terem notícia do assalto, centenas de pessoas correram ao banco e exigiram que os ladrões distribuíssem o dinheiro
Depois de uma troca de tiros, forças norte-americanas chegaram ao local, prenderam uma dúzia de homens e recuperaram o equivalente a US$ 4 milhões.
Em meio à mais absoluta pobreza das favelas de Bagdá, rodeado de sujeira, cheiros nauseabundos e civis armados, o hospital Saddam Hussein -renomeado Chewader- é o único da capital que continua funcionando.
"Somos o único centro médico de Bagdá que continua trabalhando 24 horas por dia com todo o seu pessoal e usando 100% de sua capacidade", diz o diretor do hospital, Mowafk Gorea.
Nos últimos nove dias, vários centros públicos foram pilhados: a polícia, os registros civis e muitos órgãos estatais.
O comando das forças dos EUA no Iraque disse ontem que suas tropas terminarão rapidamente com os saques em Bagdá e restaurarão o poder no país, enquanto continuam a busca por Saddam.
O general James Mattis afirmou numa entrevista que o fornecimento de energia elétrica seria restabelecido hoje em algumas zonas da cidade, acrescentando que os marines estavam trabalhando ao lado de iraquianos para tentar recuperar outros serviços.
Enquanto isso, tiroteios são frequentemente ouvidos nos subúrbios da cidade. Mas os marines encarregados da patrulha dizem que a maior parte dos tiros vem dos moradores, que buscam defender suas propriedades dos saqueadores. O general Mattis disse que a sua divisão, que dispõe de mais de 20 mil homens, está no momento concentrada na captura de líderes do governo iraquiano. "Continuamos procurando pessoas que estavam envolvidas com o governo de Saddam, pessoas que intimidaram a atormentaram este país", disse o general.
Diante do vazio de poder deixado pela queda do regime de Saddam, a hierarquia religiosa xiita do Iraque está tentando tomar o controle do país, o que já é visível em alguns bairros de Bagdá.
Abdel Rahman Chuili, responsável por uma mesquita no populoso bairro de Saddam City (hoje rebatizado de Sayyed Sadr), disse que a população respondeu favoravelmente ao chamado de seus chefes religiosos.


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