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SAÚDE
Instituto finlandês, com apoio da OMS, oferece a chance de ganhar até US$ 10 mil a quem ficar um mês sem fumar
Concurso premia quem abandona cigarro
CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES
Fumantes que conseguirem
provar que se mantiveram longe
do cigarro por quatro semanas
poderão ganhar até US$ 10 mil como parte de um concurso internacional antitabagista.
A iniciativa, com o lema "Abandone e ganhe", faz parte de uma
campanha mundial organizada
pelo Instituto Nacional de Saúde
Pública da Finlândia (KTL, na sigla em finlandês), com apoio da
OMS (Organização Mundial da
Saúde) e está sendo implementada neste ano pela primeira vez na
Argentina.
Para participar é preciso ser
maior de 18 anos e fumante diário
há pelo menos um ano. Os inscritos não poderão fumar entre os
dias 2 e 30 de maio. Ao fim desse
período, caso o teste de urina confirme a abstinência, poderão concorrer aos prêmios divulgados.
No caso da Argentina, o prêmio
nacional a ser sorteado é um pacote turístico para duas pessoas a
Villa la Angostura, na Patagônia.
O segundo prêmio, disputado por
todos os participantes da região,
será de US$ 2.500. À premiação
máxima, de US$ 10 mil, concorrerão participantes de todos os países que entraram na campanha.
Segundo dados do Ministério
da Saúde argentino, há no país
cerca de 9 milhões de fumantes, o
que corresponde a cerca de 40%
da população adulta. Cerca de
cem argentinos morrem por dia
por doenças ligadas ao tabaco -a
maioria em idade ativa.
Por isso, para Ginés González
García, ministro da Saúde, é preciso "dar incentivo a quem quer
deixar de fumar".
"Está comprovado que quem
deixa de fumar durante um mês
tem muita probabilidade de deixar de fumar definitivamente, o
que, na realidade, é o maior prêmio a que se pode aspirar", disse,
ao anunciar a campanha.
Kristina Patia, coordenadora do
programa antitabagismo do KTL,
confirma. Segundo a médica, estudos de acompanhamento realizados pelo instituto um ano após
cada campanha mostram que
20% dos participantes não voltaram a fumar nesse período.
"Já estamos no décimo ano de
campanha em nível internacional
e temos tido bastante sucesso",
disse Patia à Folha.
Para a médica, um dos elementos de sucesso do projeto é o baixo
custo. Em média, as campanhas
feitas em 2002 custaram US$
5.000 por país. "Isso torna possível que sejam realizadas mesmo
em países de baixa renda."
O "Abandone e ganhe" é realizado internacionalmente a cada
dois anos desde 1994 - antes disso, era uma iniciativa apenas da
Finlândia. Desde então, não pára
de crescer. Enquanto na primeira
edição internacional participaram 60 mil pessoas de 13 países,
em 2002 os participantes chegaram a quase 700 mil, de 77 países.
Para este ano, a expectativa do
KTL é que 1 milhão de pessoas de
mais de cem países se inscrevam.
O Brasil não participa.
O papel do KTL na campanha
inclui o fornecimento de material
promocional, dos kits para teste
de urina, além de acompanhamento dos países participantes.
Cada país tem liberdade para operacionalizar a campanha como
deseja -seja por parcerias com
ONGs, empresas privadas ou hospitais.
Já a OMS, além de apoio institucional, entra com o dinheiro para
o pagamento dos prêmios internacionais.
Etapa
"Esse programa é uma das etapas [do controle do uso do tabaco], não resolve o problema sozinho", disse a brasileira Vera Costa
e Silva, diretora da Iniciativa por
um Mundo Livre do Tabaco, da
OMS.
"É preciso todo um entorno favorável, por exemplo, tornando o
cigarro menos acessível com aumentos dos preços, criando ambientes livres do fumo e proibindo publicidade."
Além disso, diz ela, é necessária
uma política de suporte e direcionamento médico e constante monitoramento da população.
Para a diretora, porém, o
"Abandone e ganhe" exerce o papel importante de abrir o debate
antitabagista, sem mexer diretamente nos interesses econômicos
em questão -que poderão ser
tratados em etapas posteriores.
"Já foram incorporados vários
países onde há barreiras [lobbies]
para tratar o tema."
Costa e Silva justificou a não
participação do Brasil na campanha pela forte atuação do governo
brasileiro, citando como exemplo
a legislação do país que controla a
propaganda de cigarros e a iniciativa de distribuição de medicamentos.
"O Brasil tem um programa antitabagista que passa por outras
vertentes", afirmou.
Para Costa e Silva, o mais importante agora é que o Congresso
brasileiro ratifique a Convenção
de Controle do Tabaco, assinada
em junho do ano passado. "Essa é
a grande questão política agora."
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