São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

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SAÚDE

Instituto finlandês, com apoio da OMS, oferece a chance de ganhar até US$ 10 mil a quem ficar um mês sem fumar

Concurso premia quem abandona cigarro

CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES

Fumantes que conseguirem provar que se mantiveram longe do cigarro por quatro semanas poderão ganhar até US$ 10 mil como parte de um concurso internacional antitabagista.
A iniciativa, com o lema "Abandone e ganhe", faz parte de uma campanha mundial organizada pelo Instituto Nacional de Saúde Pública da Finlândia (KTL, na sigla em finlandês), com apoio da OMS (Organização Mundial da Saúde) e está sendo implementada neste ano pela primeira vez na Argentina.
Para participar é preciso ser maior de 18 anos e fumante diário há pelo menos um ano. Os inscritos não poderão fumar entre os dias 2 e 30 de maio. Ao fim desse período, caso o teste de urina confirme a abstinência, poderão concorrer aos prêmios divulgados.
No caso da Argentina, o prêmio nacional a ser sorteado é um pacote turístico para duas pessoas a Villa la Angostura, na Patagônia. O segundo prêmio, disputado por todos os participantes da região, será de US$ 2.500. À premiação máxima, de US$ 10 mil, concorrerão participantes de todos os países que entraram na campanha.
Segundo dados do Ministério da Saúde argentino, há no país cerca de 9 milhões de fumantes, o que corresponde a cerca de 40% da população adulta. Cerca de cem argentinos morrem por dia por doenças ligadas ao tabaco -a maioria em idade ativa.
Por isso, para Ginés González García, ministro da Saúde, é preciso "dar incentivo a quem quer deixar de fumar".
"Está comprovado que quem deixa de fumar durante um mês tem muita probabilidade de deixar de fumar definitivamente, o que, na realidade, é o maior prêmio a que se pode aspirar", disse, ao anunciar a campanha.
Kristina Patia, coordenadora do programa antitabagismo do KTL, confirma. Segundo a médica, estudos de acompanhamento realizados pelo instituto um ano após cada campanha mostram que 20% dos participantes não voltaram a fumar nesse período.
"Já estamos no décimo ano de campanha em nível internacional e temos tido bastante sucesso", disse Patia à Folha.
Para a médica, um dos elementos de sucesso do projeto é o baixo custo. Em média, as campanhas feitas em 2002 custaram US$ 5.000 por país. "Isso torna possível que sejam realizadas mesmo em países de baixa renda."
O "Abandone e ganhe" é realizado internacionalmente a cada dois anos desde 1994 - antes disso, era uma iniciativa apenas da Finlândia. Desde então, não pára de crescer. Enquanto na primeira edição internacional participaram 60 mil pessoas de 13 países, em 2002 os participantes chegaram a quase 700 mil, de 77 países.
Para este ano, a expectativa do KTL é que 1 milhão de pessoas de mais de cem países se inscrevam. O Brasil não participa.
O papel do KTL na campanha inclui o fornecimento de material promocional, dos kits para teste de urina, além de acompanhamento dos países participantes. Cada país tem liberdade para operacionalizar a campanha como deseja -seja por parcerias com ONGs, empresas privadas ou hospitais.
Já a OMS, além de apoio institucional, entra com o dinheiro para o pagamento dos prêmios internacionais.

Etapa
"Esse programa é uma das etapas [do controle do uso do tabaco], não resolve o problema sozinho", disse a brasileira Vera Costa e Silva, diretora da Iniciativa por um Mundo Livre do Tabaco, da OMS.
"É preciso todo um entorno favorável, por exemplo, tornando o cigarro menos acessível com aumentos dos preços, criando ambientes livres do fumo e proibindo publicidade."
Além disso, diz ela, é necessária uma política de suporte e direcionamento médico e constante monitoramento da população.
Para a diretora, porém, o "Abandone e ganhe" exerce o papel importante de abrir o debate antitabagista, sem mexer diretamente nos interesses econômicos em questão -que poderão ser tratados em etapas posteriores. "Já foram incorporados vários países onde há barreiras [lobbies] para tratar o tema."
Costa e Silva justificou a não participação do Brasil na campanha pela forte atuação do governo brasileiro, citando como exemplo a legislação do país que controla a propaganda de cigarros e a iniciativa de distribuição de medicamentos.
"O Brasil tem um programa antitabagista que passa por outras vertentes", afirmou.
Para Costa e Silva, o mais importante agora é que o Congresso brasileiro ratifique a Convenção de Controle do Tabaco, assinada em junho do ano passado. "Essa é a grande questão política agora."


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