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EM BUSCA DO PAPA
Arcebispo de Salvador surge como nome de conciliação, segundo o "Corriere", caso as primeiras votações registrem impasse
Conclave começa hoje; d. Geraldo é cotado
Lalo de Almeida/Folha Imagem
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O cardeal brasileiro Geraldo Majella Agnelo celebra missa na igreja de San Gregorio Magno, um dia antes do início do conclave |
CLÓVIS ROSSI
IGOR GIELOW
ENVIADOS ESPECIAIS A ROMA
Dom Geraldo Majella Agnelo,
71 anos, cardeal primaz do Brasil,
arcebispo de Salvador e presidente da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil, entrou ontem na
lista dos favoritos para suceder a
João Paulo 2º.
Seu surgimento como "papável" ocorreu na véspera da abertura do conclave que elegerá o sucessor de João Paulo 2º, que morreu no último 2 de abril. Os 115
cardeais com menos de 80 anos, já
em Roma, deverão votar hoje pela
primeira vez, e continuarão a fazê-lo até que, nessa primeira fase,
um dos candidatos atinja dois terços mais um dos votos.
A hipótese de d. Geraldo ser o
escolhido está na manchete da página 12 do "Corriere della Sera",
mas no contexto de mera suposição: a de que, mantido o impasse
entre os grandes nomes já listados
como papáveis, pode dar-se uma
espécie de "Wojtyla-bis", ou seja,
a eleição de um nome surpreendente (pelo menos para os especialistas em Vaticano).
O jornal cita um segundo motivo para atribuir força ao nome de
d. Geraldo, mas é um dado que
pertence mais ao misticismo: ele
foi ordenado bispo no dia 6 de
agosto de 1978, justamente o dia e
a hora em que morreu Paulo 6º. O
"Corriere" chega a antecipar que,
se eleito papa, d. Geraldo tomará
o nome de Paulo 7º.
Essa última informação é de fato bastante verossímil: o arcebispo de Salvador é um fã entusiasmado de Paulo 6º, a quem considera "um dos maiores papas da
história" do cristianismo.
É d. Geraldo e não d. Cláudio
Hummes, arcebispo de São Paulo,
que figura na lista ao lado de nove
outros nomes apresentados como
"surpresas", e que, no geral, nem
o são tanto assim.
Exemplo principal: o cardeal
alemão Walter Kasper, 72, sempre freqüentou a lista de "papáveis", embora com pouco destaque. É tido como oposto, doutrinariamente, ao também alemão
Joseph Ratzinger, 78, ainda o nome a princípio mais forte.
A relação inclui os italianos Giovanni Battista Re, Angelo Sodano
e Severino Poletto. Os dois primeiros sempre foram considerados "grandes eleitores" -ou seja,
cardeais capazes de influir sobre
seus pares, mas não de recolher
votos suficientes para atingir o
quórum final de dois terços (77
dos 115 eleitores).
Passar a "papável" é um pequeno passo.
O francês Jean-Marie Lustiger,
78, judeu convertido ao catolicismo, é um dos nomes mais respeitados da igreja, razão pela qual
entrar na lista não surpreende.
"Surpresas" mesmo só os outros quatro: o português José Saraiva Martins, 73, prefeito da
Congregação para a Causa dos
Santos; Cormac Murphy O'Connor, 72, arcebispo de Westminster (Reino Unido); o chileno Francisco Javier Errázuriz, 71, presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano; e o canadense
Marc Ouellet, 60, cardeal primaz
do Canadá.
É bom lembrar, no entanto, que
qualquer lista, nesta altura, representa apenas o que a própria mídia italiana chama, com ironia, de
"totopapa", uma alusão ao "totocalcio", uma das mais antigas loterias esportivas do planeta.
Nessa mesma linha, a coluna
"Borsino dei Vaticanisti" (bolsa
de apostas dos vaticanistas), escrita diariamente por Paolo Conti,
também no "Corriere", ressaltava
ontem a ascensão, nos palpites
jornalísticos, do nome de Camillo
Ruini, 74, vigário-geral de Roma e
o todo-poderoso presidente da
Conferência Episcopal Italiana.
Ruini seria a alternativa dos
doutrinariamente conservadores
para Ratzinger, na hipótese de
não decolar o nome do decano do
Colégio dos Cardeais.
A especulação em torno das
"surpresas" nasce sempre da
comparação com o segundo dos
dois conclaves de 1978, o que elegeu Karol Wojtyla: foram necessárias oito votações, quando o seu
antecessor, Albino Luciani (João
Paulo 1º), tornou-se papa com a
metade desse número.
Tradução: o lógico seria esperar
que o segundo conclave chegasse
a uma conclusão mais rápida, na
medida em que os cardeais eram
os mesmos que, apenas dois meses antes, haviam tardado tão
pouco tempo para escolher Luciani. Em tese, os temas e nomes já
estavam devidamente mapeados,
mas, mesmo assim, a indefinição
aumentou, em vez de diminuir.
Tanto aumentou que Wojtyla,
apesar de ter sido bem votado no
primeiro conclave, teve apenas
cinco votos no primeiro escrutínio do segundo conclave.
Agora, quando apenas dois cardeais têm experiência anterior em
conclaves (Ratzinger e o norte-americano William Wakefield
Baum), o natural é esperar que a
indefinição seja ainda maior.
Inseguros, os jornais atiram para todos os lados.
Com isso, é praticamente impossível que o próximo papa não
tenha sido citado, em algum momento das especulações, por algum jornal (ou vários).
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