São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 2005

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EM BUSCA DO PAPA

Arcebispo de Salvador surge como nome de conciliação, segundo o "Corriere", caso as primeiras votações registrem impasse

Conclave começa hoje; d. Geraldo é cotado

Lalo de Almeida/Folha Imagem
O cardeal brasileiro Geraldo Majella Agnelo celebra missa na igreja de San Gregorio Magno, um dia antes do início do conclave


CLÓVIS ROSSI
IGOR GIELOW
ENVIADOS ESPECIAIS A ROMA

Dom Geraldo Majella Agnelo, 71 anos, cardeal primaz do Brasil, arcebispo de Salvador e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, entrou ontem na lista dos favoritos para suceder a João Paulo 2º.
Seu surgimento como "papável" ocorreu na véspera da abertura do conclave que elegerá o sucessor de João Paulo 2º, que morreu no último 2 de abril. Os 115 cardeais com menos de 80 anos, já em Roma, deverão votar hoje pela primeira vez, e continuarão a fazê-lo até que, nessa primeira fase, um dos candidatos atinja dois terços mais um dos votos.
A hipótese de d. Geraldo ser o escolhido está na manchete da página 12 do "Corriere della Sera", mas no contexto de mera suposição: a de que, mantido o impasse entre os grandes nomes já listados como papáveis, pode dar-se uma espécie de "Wojtyla-bis", ou seja, a eleição de um nome surpreendente (pelo menos para os especialistas em Vaticano).
O jornal cita um segundo motivo para atribuir força ao nome de d. Geraldo, mas é um dado que pertence mais ao misticismo: ele foi ordenado bispo no dia 6 de agosto de 1978, justamente o dia e a hora em que morreu Paulo 6º. O "Corriere" chega a antecipar que, se eleito papa, d. Geraldo tomará o nome de Paulo 7º.
Essa última informação é de fato bastante verossímil: o arcebispo de Salvador é um fã entusiasmado de Paulo 6º, a quem considera "um dos maiores papas da história" do cristianismo.
É d. Geraldo e não d. Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, que figura na lista ao lado de nove outros nomes apresentados como "surpresas", e que, no geral, nem o são tanto assim.
Exemplo principal: o cardeal alemão Walter Kasper, 72, sempre freqüentou a lista de "papáveis", embora com pouco destaque. É tido como oposto, doutrinariamente, ao também alemão Joseph Ratzinger, 78, ainda o nome a princípio mais forte.
A relação inclui os italianos Giovanni Battista Re, Angelo Sodano e Severino Poletto. Os dois primeiros sempre foram considerados "grandes eleitores" -ou seja, cardeais capazes de influir sobre seus pares, mas não de recolher votos suficientes para atingir o quórum final de dois terços (77 dos 115 eleitores).
Passar a "papável" é um pequeno passo.
O francês Jean-Marie Lustiger, 78, judeu convertido ao catolicismo, é um dos nomes mais respeitados da igreja, razão pela qual entrar na lista não surpreende.
"Surpresas" mesmo só os outros quatro: o português José Saraiva Martins, 73, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos; Cormac Murphy O'Connor, 72, arcebispo de Westminster (Reino Unido); o chileno Francisco Javier Errázuriz, 71, presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano; e o canadense Marc Ouellet, 60, cardeal primaz do Canadá.
É bom lembrar, no entanto, que qualquer lista, nesta altura, representa apenas o que a própria mídia italiana chama, com ironia, de "totopapa", uma alusão ao "totocalcio", uma das mais antigas loterias esportivas do planeta.
Nessa mesma linha, a coluna "Borsino dei Vaticanisti" (bolsa de apostas dos vaticanistas), escrita diariamente por Paolo Conti, também no "Corriere", ressaltava ontem a ascensão, nos palpites jornalísticos, do nome de Camillo Ruini, 74, vigário-geral de Roma e o todo-poderoso presidente da Conferência Episcopal Italiana.
Ruini seria a alternativa dos doutrinariamente conservadores para Ratzinger, na hipótese de não decolar o nome do decano do Colégio dos Cardeais.
A especulação em torno das "surpresas" nasce sempre da comparação com o segundo dos dois conclaves de 1978, o que elegeu Karol Wojtyla: foram necessárias oito votações, quando o seu antecessor, Albino Luciani (João Paulo 1º), tornou-se papa com a metade desse número.
Tradução: o lógico seria esperar que o segundo conclave chegasse a uma conclusão mais rápida, na medida em que os cardeais eram os mesmos que, apenas dois meses antes, haviam tardado tão pouco tempo para escolher Luciani. Em tese, os temas e nomes já estavam devidamente mapeados, mas, mesmo assim, a indefinição aumentou, em vez de diminuir.
Tanto aumentou que Wojtyla, apesar de ter sido bem votado no primeiro conclave, teve apenas cinco votos no primeiro escrutínio do segundo conclave.
Agora, quando apenas dois cardeais têm experiência anterior em conclaves (Ratzinger e o norte-americano William Wakefield Baum), o natural é esperar que a indefinição seja ainda maior.
Inseguros, os jornais atiram para todos os lados.
Com isso, é praticamente impossível que o próximo papa não tenha sido citado, em algum momento das especulações, por algum jornal (ou vários).

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