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FÉ E RAZÃO
Descontos chegam a 50% na loja, mas nem todos podem comprar
Free shop ajuda contas do Vaticano
DO ENVIADO ESPECIAL A ROMA
Quando olharem pelas janelas
da Casa de Santa Marta, onde se
isolam a partir de hoje para refletir sobre a escolha do novo
papa, muitos dos 115 cardeais
eleitores verão um prédio que
poderá inspirá-los a meditar sobre os rumos de uma Igreja Católica que tenta inserir-se no
mundo moderno. É o antigo
edifício da estação de trem do
Vaticano, hoje mais conhecida
como "il magazzino", "a loja".
E não é uma loja qualquer.
Trata-se do free shop que funciona dentro do Vaticano, uma
cidade-Estado independente
onde não se cobram impostos.
Lá, ternos Giorgio Armani, perfumes franceses, TVs e DVDs
japoneses são encontrados por
preços entre 30% e 50% menores que nas lojas de Roma. E cigarros, cuja procura é tão grande que há teto de cinco pacotes
com dez maços por mês.
As bebidas e comidas são encontradas num outro ponto, do
outro lado dos fundos da basílica de São Pedro, o supermercado local. "Sempre que chega a
época de festas, tem gente pedindo para que eu faça compras
de bebidas", diz o brasileiro Silvanej Protz, há 15 funcionário
da Rádio Vaticana.
A pergunta é meio óbvia: o
que faz a sede da igreja vendendo bebida e cigarro, fora produtos associados ao consumismo
que os cardeais tanto condenam? "É uma boa questão. Há
alguns anos esse questionamento foi feito, mas ficou nisso",
afirmou o padre jesuíta Thomas
J. Reese, autor de um verdadeiro
guia sobre o funcionamento local, "Por Dentro do Vaticano".
Editor da prestigiosa revista católica "America Magazine",
Reese está cobrindo o conclave.
"Tudo continua como antes."
Há uma justificativa econômica, como em tudo na vida. A loja
na estação foi criada há dois
anos, por obra do cardeal Edmund Skoza, que aos 77 anos terá direito a voto no conclave e
estará no Santa Marta. Responsável pela gestão do Estado do
Vaticano, Skoza fez jus à fama
que sua nacionalidade americana têm para levantar negócios.
Hoje, a venda de produtos no
Vaticano responde por 57% do
que entra nas combalidas finanças do Estado.
A chave para comprar na loja
e no supermercado, além do
posto de gasolina, do armazém
e da disputada farmácia local, é
o "cartão verde". Só têm a peça,
que parece uma identidade, os
cerca de 4.000 funcionários do
Vaticano, incluindo aí a rádio,
os empregados da Cúria Romana e o clero autorizado.
Com isso, há ciumeira entre os
"com-cartão" e os "sem-cartão". Um "sem-cartão" de uma
ordem religiosa ouvido pela reportagem fez comentários não
muito, digamos, católicos sobre
o privilégio. (IG)
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