São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 2005

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FÉ E RAZÃO

Descontos chegam a 50% na loja, mas nem todos podem comprar

Free shop ajuda contas do Vaticano

DO ENVIADO ESPECIAL A ROMA

Quando olharem pelas janelas da Casa de Santa Marta, onde se isolam a partir de hoje para refletir sobre a escolha do novo papa, muitos dos 115 cardeais eleitores verão um prédio que poderá inspirá-los a meditar sobre os rumos de uma Igreja Católica que tenta inserir-se no mundo moderno. É o antigo edifício da estação de trem do Vaticano, hoje mais conhecida como "il magazzino", "a loja".
E não é uma loja qualquer. Trata-se do free shop que funciona dentro do Vaticano, uma cidade-Estado independente onde não se cobram impostos. Lá, ternos Giorgio Armani, perfumes franceses, TVs e DVDs japoneses são encontrados por preços entre 30% e 50% menores que nas lojas de Roma. E cigarros, cuja procura é tão grande que há teto de cinco pacotes com dez maços por mês.
As bebidas e comidas são encontradas num outro ponto, do outro lado dos fundos da basílica de São Pedro, o supermercado local. "Sempre que chega a época de festas, tem gente pedindo para que eu faça compras de bebidas", diz o brasileiro Silvanej Protz, há 15 funcionário da Rádio Vaticana.
A pergunta é meio óbvia: o que faz a sede da igreja vendendo bebida e cigarro, fora produtos associados ao consumismo que os cardeais tanto condenam? "É uma boa questão. Há alguns anos esse questionamento foi feito, mas ficou nisso", afirmou o padre jesuíta Thomas J. Reese, autor de um verdadeiro guia sobre o funcionamento local, "Por Dentro do Vaticano". Editor da prestigiosa revista católica "America Magazine", Reese está cobrindo o conclave. "Tudo continua como antes."
Há uma justificativa econômica, como em tudo na vida. A loja na estação foi criada há dois anos, por obra do cardeal Edmund Skoza, que aos 77 anos terá direito a voto no conclave e estará no Santa Marta. Responsável pela gestão do Estado do Vaticano, Skoza fez jus à fama que sua nacionalidade americana têm para levantar negócios. Hoje, a venda de produtos no Vaticano responde por 57% do que entra nas combalidas finanças do Estado.
A chave para comprar na loja e no supermercado, além do posto de gasolina, do armazém e da disputada farmácia local, é o "cartão verde". Só têm a peça, que parece uma identidade, os cerca de 4.000 funcionários do Vaticano, incluindo aí a rádio, os empregados da Cúria Romana e o clero autorizado.
Com isso, há ciumeira entre os "com-cartão" e os "sem-cartão". Um "sem-cartão" de uma ordem religiosa ouvido pela reportagem fez comentários não muito, digamos, católicos sobre o privilégio. (IG)

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