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Latino-americanos têm xenofobia acentuada, revela estudo
Cerca de 80% da população da região, que exportava, no ano 2000, 10% dos imigrantes mundiais, rejeita entrada de estrangeiros em seus próprios países
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Para região tradicionalmente
exportadora de imigrantes, a
América Latina demonstra
pouquíssima abertura à recepção de cidadãos de outros países em seu próprio solo: apenas
14% da população apóia a entrada de muitos "estrangeiros
de raça diferente" da maioria
nacional, informa relatório do
centro de pesquisa Latinobarómetro divulgado ontem.
"A região está caracterizada
pela desconfiança e por um
movimento de introspecção",
afirmou à Folha Marta Lagos,
diretora do centro. "É surpreendente a resistência a pessoas [de outros países]. A América Latina é um conceito intelectual, mas que não existe de
fato. Não é uma comunidade."
Mesmo o apoio à entrada de
imigrantes "da mesma raça" é
baixo: 24%. E apenas 15% dos
entrevistados se disseram favoráveis à chegada de imigrantes
vindos de países mais pobres.
O estudo abrange 18 países,
onde foram feitas 20,2 mil entrevistas entre 7 de setembro e
9 de outubro últimos. A margem de erro das respostas varia
entre 2,7 e 3,5 pontos percentuais para cima ou para baixo.
Para explicar o resultado, Lagos relativiza a influência de fatores econômicos, como o desemprego, e reforça o aumento
do nacionalismo cultural. "Só a
economia não explica uma rejeição tão generalizada. O Chile, um dos países mais xenófobos, teve relativo êxito econômico", avalia.
Um dos mais fechados à imigração é o Paraguai, país que
costuma exportar trabalhadores: 16% apóiam que estrangeiros da mesma raça vivam no
país, 8% apóiam a chegada de
imigrantes de países mais pobres e 7% são favoráveis a imigrantes de raça diferente.
O Brasil é o sétimo mais xenófobo entre os 18 participantes do estudo. No país, 20%
apóiam a vinda de estrangeiros
da mesma raça, 17% a de estrangeiros de raça diferente e
18% a de provenientes de países mais pobres.
Independentemente da xenofobia, o movimento migratório na região é forte. Estudo da
ONU divulgado em 2005 mostra que, no ano 2000, 60% dos
imigrantes vivendo na América
Latina e no Caribe eram provenientes de outros países da região (à época, 2,9 milhões de
pessoas). Enquanto isso, mais
de 20 milhões de latino-americanos viviam fora do país em
que nasceram, totalizando 10%
dos migrantes globais.
Contradições
Por outro lado, há grande
apoio à integração na América
Latina no que se refere a comércio e investimentos. Cerca
de 66% dos latino-americanos
concordam que seus cidadãos
devem investir no exterior e estrangeiros possam investir em
seus países sem restrições, e
51% apóiam o fim de impostos
de importação ou exportação.
E as incoerências não param
por aí. Enquanto 54% dos latino-americanos concordam que
sejam feitas concessões em nome da integração regional, 55%
dizem que a venda de recursos
energéticos, por exemplo, deve
ser feita sem condições especiais aos países que não produzem energia.
"Há uma contradição intrínseca com a imagem de culturas
acolhedoras. Queremos coisas,
não pessoas. Existe um forte
nacionalismo", diz Lagos.
Na média, 50% aprovam a
condução das relações exteriores de seus países. O pior índice
fica com o Paraguai, com 19%.
Os paraguaios também expressaram a pior aprovação à gestão
do tema energético (15%).
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