São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2008

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Latino-americanos têm xenofobia acentuada, revela estudo

Cerca de 80% da população da região, que exportava, no ano 2000, 10% dos imigrantes mundiais, rejeita entrada de estrangeiros em seus próprios países

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

Para região tradicionalmente exportadora de imigrantes, a América Latina demonstra pouquíssima abertura à recepção de cidadãos de outros países em seu próprio solo: apenas 14% da população apóia a entrada de muitos "estrangeiros de raça diferente" da maioria nacional, informa relatório do centro de pesquisa Latinobarómetro divulgado ontem.
"A região está caracterizada pela desconfiança e por um movimento de introspecção", afirmou à Folha Marta Lagos, diretora do centro. "É surpreendente a resistência a pessoas [de outros países]. A América Latina é um conceito intelectual, mas que não existe de fato. Não é uma comunidade."
Mesmo o apoio à entrada de imigrantes "da mesma raça" é baixo: 24%. E apenas 15% dos entrevistados se disseram favoráveis à chegada de imigrantes vindos de países mais pobres.
O estudo abrange 18 países, onde foram feitas 20,2 mil entrevistas entre 7 de setembro e 9 de outubro últimos. A margem de erro das respostas varia entre 2,7 e 3,5 pontos percentuais para cima ou para baixo.
Para explicar o resultado, Lagos relativiza a influência de fatores econômicos, como o desemprego, e reforça o aumento do nacionalismo cultural. "Só a economia não explica uma rejeição tão generalizada. O Chile, um dos países mais xenófobos, teve relativo êxito econômico", avalia.
Um dos mais fechados à imigração é o Paraguai, país que costuma exportar trabalhadores: 16% apóiam que estrangeiros da mesma raça vivam no país, 8% apóiam a chegada de imigrantes de países mais pobres e 7% são favoráveis a imigrantes de raça diferente.
O Brasil é o sétimo mais xenófobo entre os 18 participantes do estudo. No país, 20% apóiam a vinda de estrangeiros da mesma raça, 17% a de estrangeiros de raça diferente e 18% a de provenientes de países mais pobres.
Independentemente da xenofobia, o movimento migratório na região é forte. Estudo da ONU divulgado em 2005 mostra que, no ano 2000, 60% dos imigrantes vivendo na América Latina e no Caribe eram provenientes de outros países da região (à época, 2,9 milhões de pessoas). Enquanto isso, mais de 20 milhões de latino-americanos viviam fora do país em que nasceram, totalizando 10% dos migrantes globais.

Contradições
Por outro lado, há grande apoio à integração na América Latina no que se refere a comércio e investimentos. Cerca de 66% dos latino-americanos concordam que seus cidadãos devem investir no exterior e estrangeiros possam investir em seus países sem restrições, e 51% apóiam o fim de impostos de importação ou exportação.
E as incoerências não param por aí. Enquanto 54% dos latino-americanos concordam que sejam feitas concessões em nome da integração regional, 55% dizem que a venda de recursos energéticos, por exemplo, deve ser feita sem condições especiais aos países que não produzem energia.
"Há uma contradição intrínseca com a imagem de culturas acolhedoras. Queremos coisas, não pessoas. Existe um forte nacionalismo", diz Lagos.
Na média, 50% aprovam a condução das relações exteriores de seus países. O pior índice fica com o Paraguai, com 19%. Os paraguaios também expressaram a pior aprovação à gestão do tema energético (15%).


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