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Bloco liderado por Chávez ataca G20
Comunicado da Alba chama de "exclusivo" o grupo que impulsiona Brasil no cenário internacional
Venezuelano e aliados também reiteram veto a comunicado final da Cúpula das Américas, por não focar em medidas contra crise
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PORT OF SPAIN
O presidente venezuelano
Hugo Chávez abriu o leque de
potenciais desafetos, ao atacar,
por meio de nota oficial da Alba
(Alternativa Bolivariana para
as Américas), o G20, o clube das
20 maiores economias do planeta, que se tornou o veículo
pelo qual o Brasil do presidente
Lula trata de exercitar seus
músculos na cena global.
O comunicado oficial da cúpula bolivariana, emitido na
noite de quinta-feira, diz textualmente que os participantes
"consideram inaceitável a tentativa de impor soluções tomadas em grupos exclusivos, como o G20, à margem do resto
da comunidade internacional".
Além de Chávez, assinam o
texto, entre outros, Raúl Castro, Cuba, e Evo Morales, da
Bolívia, dois outros amigos do
governante brasileiro.
A frase contradiz a visão de
Lula sobre a forma de lidar com
a crise global. O presidente brasileiro fez todos os esforços para tornar a discussão mais inclusiva, por meio da substituição do G8, o grupo dos sete países mais ricos do mundo e a
Rússia, pelo G20, bem mais representativo. Do ponto de vista
do Brasil, é o exato oposto do
"grupo exclusivo".
Veto
Seja como for, Chávez, uma
vez mais, rouba a cena de uma
cúpula, no caso a 5ª Cúpula das
Américas, a ponto de o jornal
"Guardian", o principal de Trinidad e Tobago, puxar para a
capa fotos do presidente da Venezuela e do seu colega americano, Barack Obama, separados por grandes letras vermelhas proclamando "Chávez versus Obama".
Tudo porque Chávez ameaça
vetar o documento final da cúpula, alegando dois motivos,
um dos quais é em parte correto. O outro é só oportunista.
O correto: o texto da cúpula
"não dá resposta à crise econômica global". De fato, há apenas
uma levíssima e anódina menção a ela.
Os organizadores alegam
que, quando os temas foram escolhidos, há cerca de três anos,
a crise global não havia eclodido. Além disso, não se trataria
do âmbito adequado para "dar
resposta à crise global".
O motivo oportunista é "a exclusão injustificada de Cuba".
Cuba está excluída do processo
de cúpulas americanas desde a
primeira, em 1994. Reclamar
agora é surfar em uma dupla
onda: a da disposição manifestada pelo novo governo americano de modificar a política para Cuba e a da unanimidade entre os governos latino-americanos a favor da reintegração da
ilha caribenha ao sistema.
Tanta unanimidade que o secretário-geral da Organização
dos Estados Americanos, o chileno José Miguel Insulza, disse
ontem que pedirá, na próxima
assembleia geral da instituição,
em junho, que revogue a suspensão imposta a Cuba em
1962, tal como a Folha já havia
antecipado no domingo.
De todo modo, a ameaça do
venezuelano de não assinar o
documento cria um embaraço,
já que as decisões nas cúpulas
americanas se tomam por consenso. Sem consenso, há duas
hipóteses: ou alguns países manifestam restrições mas não se
opõem ao conjunto ou vetam
-e não haverá documento final. Pelo menos não um documento final com 34 assinaturas, o que será um enorme revés para Obama justamente no
seu primeiro contato com os líderes latino-americanos.
Nem George Walker Bush
enfrentou semelhante dissabor, embora Chávez também
tenha feito ressalvas aos documentos das duas cúpulas imediatamente anteriores.
O governo brasileiro não se
manifestou a respeito do problema Chávez.
Recado brasileiro
O assessor diplomático de
Lula, Marco Aurélio Garcia, limitou-se a dizer que "cada país
adota a posição que bem entender. Como disse o presidente
Obama, aqui não há parceiros
sêniores ou juniores".
Frase que pode ser lida como:
nem Lula manda em Chávez
nem Chávez condiciona as posições brasileiras. Marco Aurélio prefere esperar que os presidentes comecem a conversar
para que se veja "no final da
reunião" o que acontecerá.
Quanto ao ataque bolivariano ao G20, o assessor de Lula
foi igualmente cauteloso, mas
disse uma frase que pode ser
entendida como recado ao
mandatário venezuelano:
"A situação internacional é
de grande complexidade e cada
país tem que escolher o tipo de
opção que quer fazer. Não pode
é fazer a opção de jogar contra
todos".
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