São Paulo, sábado, 18 de abril de 2009

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Bloco liderado por Chávez ataca G20

Comunicado da Alba chama de "exclusivo" o grupo que impulsiona Brasil no cenário internacional

Venezuelano e aliados também reiteram veto a comunicado final da Cúpula das Américas, por não focar em medidas contra crise


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PORT OF SPAIN

O presidente venezuelano Hugo Chávez abriu o leque de potenciais desafetos, ao atacar, por meio de nota oficial da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), o G20, o clube das 20 maiores economias do planeta, que se tornou o veículo pelo qual o Brasil do presidente Lula trata de exercitar seus músculos na cena global.
O comunicado oficial da cúpula bolivariana, emitido na noite de quinta-feira, diz textualmente que os participantes "consideram inaceitável a tentativa de impor soluções tomadas em grupos exclusivos, como o G20, à margem do resto da comunidade internacional".
Além de Chávez, assinam o texto, entre outros, Raúl Castro, Cuba, e Evo Morales, da Bolívia, dois outros amigos do governante brasileiro.
A frase contradiz a visão de Lula sobre a forma de lidar com a crise global. O presidente brasileiro fez todos os esforços para tornar a discussão mais inclusiva, por meio da substituição do G8, o grupo dos sete países mais ricos do mundo e a Rússia, pelo G20, bem mais representativo. Do ponto de vista do Brasil, é o exato oposto do "grupo exclusivo".

Veto
Seja como for, Chávez, uma vez mais, rouba a cena de uma cúpula, no caso a 5ª Cúpula das Américas, a ponto de o jornal "Guardian", o principal de Trinidad e Tobago, puxar para a capa fotos do presidente da Venezuela e do seu colega americano, Barack Obama, separados por grandes letras vermelhas proclamando "Chávez versus Obama".
Tudo porque Chávez ameaça vetar o documento final da cúpula, alegando dois motivos, um dos quais é em parte correto. O outro é só oportunista.
O correto: o texto da cúpula "não dá resposta à crise econômica global". De fato, há apenas uma levíssima e anódina menção a ela.
Os organizadores alegam que, quando os temas foram escolhidos, há cerca de três anos, a crise global não havia eclodido. Além disso, não se trataria do âmbito adequado para "dar resposta à crise global".
O motivo oportunista é "a exclusão injustificada de Cuba". Cuba está excluída do processo de cúpulas americanas desde a primeira, em 1994. Reclamar agora é surfar em uma dupla onda: a da disposição manifestada pelo novo governo americano de modificar a política para Cuba e a da unanimidade entre os governos latino-americanos a favor da reintegração da ilha caribenha ao sistema.
Tanta unanimidade que o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, o chileno José Miguel Insulza, disse ontem que pedirá, na próxima assembleia geral da instituição, em junho, que revogue a suspensão imposta a Cuba em 1962, tal como a Folha já havia antecipado no domingo.
De todo modo, a ameaça do venezuelano de não assinar o documento cria um embaraço, já que as decisões nas cúpulas americanas se tomam por consenso. Sem consenso, há duas hipóteses: ou alguns países manifestam restrições mas não se opõem ao conjunto ou vetam -e não haverá documento final. Pelo menos não um documento final com 34 assinaturas, o que será um enorme revés para Obama justamente no seu primeiro contato com os líderes latino-americanos.
Nem George Walker Bush enfrentou semelhante dissabor, embora Chávez também tenha feito ressalvas aos documentos das duas cúpulas imediatamente anteriores.
O governo brasileiro não se manifestou a respeito do problema Chávez.

Recado brasileiro
O assessor diplomático de Lula, Marco Aurélio Garcia, limitou-se a dizer que "cada país adota a posição que bem entender. Como disse o presidente Obama, aqui não há parceiros sêniores ou juniores".
Frase que pode ser lida como: nem Lula manda em Chávez nem Chávez condiciona as posições brasileiras. Marco Aurélio prefere esperar que os presidentes comecem a conversar para que se veja "no final da reunião" o que acontecerá.
Quanto ao ataque bolivariano ao G20, o assessor de Lula foi igualmente cauteloso, mas disse uma frase que pode ser entendida como recado ao mandatário venezuelano:
"A situação internacional é de grande complexidade e cada país tem que escolher o tipo de opção que quer fazer. Não pode é fazer a opção de jogar contra todos".


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