São Paulo, sábado, 18 de abril de 2009

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Antipirataria imita combate a submarino

Apesar da enorme diferença tecnológica entre os inimigos, estratégia para combatê-los é parecida, diz capitão francês

Estaleiro da França exibe no Rio projeto do primeiro navio de guerra idealizado especificamente com meta de enfrentar a pirataria


RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Combater a pirataria é muito parecido com a luta contra submarinos, apesar da enorme diferença entre um barco de guerra repleto de eletrônica, mísseis e torpedos, e um bote de borracha com meia dúzia de piratas armados com fuzis. É o que diz um especialista nesse combate, o capitão francês Michel Perchoc, recentemente aposentado da Marinha da França, e hoje trabalhando no marketing de navios de guerra de superfície da empresa DCNS (Direção de Construções Navais e Serviços).
"Assim como submarinos, um pirata tem de ficar oculto. Ele vai cometer indiscrição e revelar sua presença só para atacar, algo feito em minutos. Ele precisa de informação para agir (seus próprios sensores são insuficientes para achar o alvo), de apoio logístico e de uma base", disse, em seminário na feira de material bélico Laad 2009 (Latin America Aero & Defence), encerrada ontem.
Para ele, é possível adaptar a doutrina naval desenvolvida na luta contra submarinos para deter a onda de ataques piratas somalis ao longo da costa leste africana e em outros pontos.
Perchoc passou 17 anos no mar em vários tipos de navios da Marinha francesa, como corvetas, fragatas e o porta-aviões "Foch" (hoje o "São Paulo", da Marinha do Brasil). Os recentes sucessos na luta contra os piratas somalis aconteceram em grande parte pelo aumento da cooperação entre as diversas marinhas operando na região, diz o francês. "A luta contra a pirataria requer vencer a guerra de informação."
Ironicamente, os navios europeus e americanos envolvidos na escolta de mercantes e na dissuasão da pirataria nem sempre têm os equipamentos e armamentos mais adequados para atingir tal objetivo. São grandes demais e com tripulação numerosa -na prática, um desperdício de recursos.
Os piratas constituem no mar a mesma ameaça "assimétrica" que guerrilheiros ou terroristas representam em terra. Podem estar disfarçados em embarcações inocentes. Pesqueiros capturados e difíceis de identificar como piratas servem de "nave-mãe" para flotilhas de botes rápidos que podem abordar e capturar um mercante em minutos.
"Os piratas só têm um modo de ação: o ataque surpresa. Correm riscos ao fazê-lo e ainda estão mal equipados para se defender. Vulneráveis, podem ser agressivos e ter comportamento inesperado", diz Perchoc. As armas mais eficazes acabam sendo equipamentos comuns -helicópteros e barcos infláveis de borracha rápidos.

Navio antipirata
O arquiteto naval Jean-Pierre Cruciani, também da DCNS, projetou o primeiro navio de guerra moderno para combate à pirataria. Trata-se de um tradicional navio de patrulha oceânica, mas incorporando detalhes para tornar mais eficaz o combate aos piratas.
Esse tipo de navio é usado por guardas costeiras no combate ao contrabando ou pesca ilegal, por exemplo. São armados só com canhões de calibre médio (em geral de 40 mm a 76 mm) e metralhadoras. São mais lentos e levam menos tripulantes que navios tradicionais. O "bebê" do arquiteto Cruciani é a classe Gowind. Seu detalhe original e único é a instalação de uma rampa na popa para saída rápida dos botes de nove metros de comprimento com soldados de forças especiais e capacidade de carga de duas toneladas. Agir rápido é essencial para impedir a abordagem do mercante.
Visibilidade é fundamental, por isso Cruciani projetou o passadiço -de onde o navio é comandado- com visão 360. O convés de voo serve tanto para helicópteros como para veículos aéreos não tripulados dotados de câmaras para observação, diurna e noturna.
Perchoc recomenda que um navio de patrulha tenha maior poder de fogo em distâncias curtas (até 1.500 m). A classe Gowind -que ainda não tem nenhum navio construído- inclui no projeto duas plataformas laterais equipadas com metralhadoras calibre 12,7 mm de controle remoto capazes de atirar ao longo do casco do navio, impedindo que eles, com tripulações pequenas, de 35 a 60 homens, também possam ser abordados, e eliminando pontos cegos de disparo.

O jornalista RICARDO BONALUME NETO viajou a convite da organizadora da Laad 2009, a Clarion Events



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