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Antipirataria imita combate a submarino
Apesar da enorme diferença tecnológica entre os inimigos, estratégia para combatê-los é parecida, diz capitão francês
Estaleiro da França exibe no Rio projeto do primeiro navio de guerra idealizado especificamente com meta de enfrentar a pirataria
RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Combater a pirataria é muito
parecido com a luta contra submarinos, apesar da enorme diferença entre um barco de
guerra repleto de eletrônica,
mísseis e torpedos, e um bote
de borracha com meia dúzia de
piratas armados com fuzis.
É o que diz um especialista
nesse combate, o capitão francês Michel Perchoc, recentemente aposentado da Marinha
da França, e hoje trabalhando
no marketing de navios de
guerra de superfície da empresa DCNS (Direção de Construções Navais e Serviços).
"Assim como submarinos,
um pirata tem de ficar oculto.
Ele vai cometer indiscrição e
revelar sua presença só para
atacar, algo feito em minutos.
Ele precisa de informação para
agir (seus próprios sensores
são insuficientes para achar o
alvo), de apoio logístico e de
uma base", disse, em seminário
na feira de material bélico Laad
2009 (Latin America Aero &
Defence), encerrada ontem.
Para ele, é possível adaptar a
doutrina naval desenvolvida na
luta contra submarinos para
deter a onda de ataques piratas
somalis ao longo da costa leste
africana e em outros pontos.
Perchoc passou 17 anos no
mar em vários tipos de navios
da Marinha francesa, como
corvetas, fragatas e o porta-aviões "Foch" (hoje o "São Paulo", da Marinha do Brasil).
Os recentes sucessos na luta
contra os piratas somalis aconteceram em grande parte pelo
aumento da cooperação entre
as diversas marinhas operando
na região, diz o francês. "A luta
contra a pirataria requer vencer a guerra de informação."
Ironicamente, os navios europeus e americanos envolvidos na escolta de mercantes e
na dissuasão da pirataria nem
sempre têm os equipamentos e
armamentos mais adequados
para atingir tal objetivo. São
grandes demais e com tripulação numerosa -na prática, um
desperdício de recursos.
Os piratas constituem no
mar a mesma ameaça "assimétrica" que guerrilheiros ou terroristas representam em terra.
Podem estar disfarçados em
embarcações inocentes. Pesqueiros capturados e difíceis de
identificar como piratas servem de "nave-mãe" para flotilhas de botes rápidos que podem abordar e capturar um
mercante em minutos.
"Os piratas só têm um modo
de ação: o ataque surpresa. Correm riscos ao fazê-lo e ainda estão mal equipados para se defender. Vulneráveis, podem ser
agressivos e ter comportamento inesperado", diz Perchoc.
As armas mais eficazes acabam sendo equipamentos comuns -helicópteros e barcos
infláveis de borracha rápidos.
Navio antipirata
O arquiteto naval Jean-Pierre Cruciani, também da DCNS,
projetou o primeiro navio de
guerra moderno para combate
à pirataria. Trata-se de um tradicional navio de patrulha
oceânica, mas incorporando
detalhes para tornar mais eficaz o combate aos piratas.
Esse tipo de navio é usado
por guardas costeiras no combate ao contrabando ou pesca
ilegal, por exemplo. São armados só com canhões de calibre
médio (em geral de 40 mm a 76
mm) e metralhadoras. São mais
lentos e levam menos tripulantes que navios tradicionais.
O "bebê" do arquiteto Cruciani é a classe Gowind. Seu detalhe original e único é a instalação de uma rampa na popa
para saída rápida dos botes de
nove metros de comprimento
com soldados de forças especiais e capacidade de carga de
duas toneladas. Agir rápido é
essencial para impedir a abordagem do mercante.
Visibilidade é fundamental,
por isso Cruciani projetou o
passadiço -de onde o navio é
comandado- com visão 360.
O convés de voo serve tanto
para helicópteros como para
veículos aéreos não tripulados
dotados de câmaras para observação, diurna e noturna.
Perchoc recomenda que um
navio de patrulha tenha maior
poder de fogo em distâncias
curtas (até 1.500 m). A classe
Gowind -que ainda não tem
nenhum navio construído- inclui no projeto duas plataformas laterais equipadas com
metralhadoras calibre 12,7 mm
de controle remoto capazes de
atirar ao longo do casco do navio, impedindo que eles, com
tripulações pequenas, de 35 a
60 homens, também possam
ser abordados, e eliminando
pontos cegos de disparo.
O jornalista RICARDO BONALUME NETO viajou a convite da organizadora da Laad 2009, a Clarion Events
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