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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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RELIGIÃO

Almerentina Elias Borges rezou para Virgínia após ter sido desenganada pelos médicos devido a um câncer no útero

Papa canoniza hoje italiana que "curou" brasileira

PAULO DANIEL FARAH
ESPECIAL PARA A FOLHA

O papa João Paulo 2º canoniza hoje uma italiana que se tornará santa graças a um suposto milagre que teria curado a brasileira Almerentina Elias Borges, 91.
Era necessária a comprovação, por parte do Vaticano, de mais um milagre para que Virgínia Centurione Bracelli pudesse ser cultuada como santa em todo o mundo. Borges relata que tinha câncer no útero e havia sido desenganada pelos médicos quando rezou para Virgínia, em 1988.
"Sentia que eu estava morrendo e rezava para a santinha. Foi um milagre. Depois desse tratamento com ela, nunca mais tive de fazer exame. De vez em quanto, tenho uma gripe, mas é só isso. Tenho muita fé nela. Continuo rezando", disse Borges, por telefone, de Uberaba (MG). "Estou emocionada de ter sido beneficiada por um milagre, pela santidade dela."
Há várias etapas no processo para se tornar santo, como servo de Deus e venerável, quando o papa reconhece virtudes heróicas. O candidato vira beato quando se reconhece que realizou um milagre. Para se tornar santo, um novo milagre deve ser reconhecido.
Para demonstrar o suposto milagre, os postulantes devem escolher um caso e demonstrar que a intervenção do candidato foi fundamental, como no caso da brasileira. O milagre mostra que o santo está ao lado de Deus e pode interceder a favor de seus fiéis.
A filha mais velha de Borges confirma a versão do milagre. "Os médicos diziam que ela não tinha nem três meses de vida. Foi uma corrente de oração de toda a família, que é muito católica. Rezávamos para a beata Virgínia. Foi milagre mesmo. Não podemos esconder as coisas de Deus", diz Juvenides Bernardes Padovani, 67.
Ela recomenda uma oração em prol da santa que diz, entre outras coisas, "Pai santo, nós vos agradecemos por ter concedido à beata Virgínia a chama viva do amor".

Virgínia
Nascida em dia 2 de abril de 1587, em Gênova (Itália), Bracelli ficou viúva aos 20 anos, fez voto de castidade perpétua e decidiu dedicar-se aos pobres, velhos e doentes.
Fundou a Congregação das Filhas de Nossa Senhora do Monte Calvário, que atua em nove países. No Brasil, aonde chegou em 1928 e onde atuam 92 irmãs, está presente em diversos Estados. Possui colégios, creches, escolas especializadas para cegos e surdos e hospitais para tratamento de hanseníase.
Em São Paulo, segundo a irmã Dinilva Matos, desde o início de fevereiro a congregação vem promovendo eventos para celebrar a canonização de Virgínia (1587-1651). Beatificada em 1985, a italiana precisava de mais um milagre para tornar-se santa. E foi justamente a cura de uma brasileira que a favoreceu.
Ao menos 50 brasileiros viajaram para Roma para participar da cerimônia hoje na praça São Pedro, incluindo uma das irmãs de Almerentina, Anselma Borges. Almerentina Borges preferiu ficar em Uberaba. O papa João Paulo 2º também comemora hoje seu 83º aniversário.


Paulo Daniel Farah é professor na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP


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