São Paulo, terça-feira, 18 de maio de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Carro-bomba explode dentro da área mais guardada de Bagdá; coalizão diz que golpe não retardará transição

Ataque mata líder do conselho iraquiano

DA REDAÇÃO

Um atentado suicida com carro-bomba matou ontem, na chamada Zona Verde de Bagdá, o atual presidente do Conselho de Governo Iraquiano, Izzedin Salim, e outras seis pessoas a 44 dias do prazo definido pelos EUA para devolver ao país sua autonomia política.
Salim é o segundo membro do grupo consultivo criado pelos EUA em julho passado a ser morto por insurgentes. Em setembro, Aquila al Hashimi foi assassinada. O Conselho não tem poder decisório e está submetido à Autoridade Provisória da Coalizão, liderada pelo americano Paul Bremer, que qualificou a morte de Salim como "uma perda trágica".
"Os terroristas nos infligiram um golpe cruel com esse ato vil de hoje. Mas eles serão derrotados", disse Bremer. O presidente dos EUA, George W. Bush, condenou o atentado e reiterou que o poder político será entregue aos iraquianos em 30 de junho próximo.
Um grupo desconhecido, chamado Grupo de Resistência Árabe - Brigadas Al Rashid, reivindicou a autoria do ataque, ocorrido na área mais guardada da capital, que serve de base dos EUA.
Apesar da reivindicação, autoridades americanas afirmaram que o atentado tinha a "marca registrada" de Abu Musab al Zarqawi, terrorista jordaniano com supostos vínculos com a rede Al Qaeda e que, segundo comunicados atribuídos a ele, reivindica uma série de ataques com carros-bomba no Iraque nos últimos meses.
A bomba usada ontem continha um projétil de artilharia do mesmo tipo usado por um terrorista suicida contra um posto da Zona Verde no último dia 6, ataque reivindicado pelo grupo liderado por Al Zarqawi. O motorista suicida emparelhou com o primeiro carro da caravana de Salim no momento em que ele chegava para a reunião diária do conselho escoltado por quatro veículos.
Salim, líder em Basra do partido xiita moderado Dawa, acabara de voltar de uma viagem de três dias a Arbil, no norte, com o enviado especial da ONU ao Iraque, Lakhdar Brahimi. Salama al Khafaji, outro membro do conselho, disse que o atentado é uma tentativa de fomentar as divisões sectárias.

Transição segue
Ghazi Mashal Ajil al Yawer, substituto de Salim, disse que o conselho manteria a "marcha para construir um Iraque democrático, federal, plural e unificado". Mas outros membros do grupo pediram que Washington entregasse a soberania completa do país em 30 de junho. Os EUA propõem uma "soberania parcial", na qual o poder do governo interino será limitado e as forças militares da coalizão permanecerão no Iraque, sob comando dos EUA.
"Salim morreu tentando construir um Iraque livre e democrático. Os inimigos da liberdade não querem isso, e o desejo deles não prevalecerá", disse o porta-voz presidencial, Scott McClellan.
Já o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, se disse "muito abalado" pelo ataque.
Embora o cronograma da transição não deva ser alterado, analistas crêem que o processo político sofrera danos. "O assassinato de Salim vai tornar mais difícil para a APC convencer iraquianos proeminentes a participarem da transição", disse Daniel Byman, do Instituto Brookings (Washington). "Isso, por sua vez, vai dificultar o sucesso da transição."


Com agências internacionais


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