|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
imprensa
"Ataques são tentativas de controle"
DE BUENOS AIRES
A música clássica do
aparelho de som se mistura à narração do canal de
esportes da TV na sala do
editor-geral do "Clarín",
Ricardo Kirschbaum, 59,
que parece alheio à guerra
que o governo argentino
lançou contra seu jornal.
Ao menos, até a hora em
que o gravador é ligado.
"O governo não dá conferências de imprensa,
obstrui a informação, não
recebe correspondentes
estrangeiros. E não é um
capricho, mas uma política para controlar a imprensa como controla todas as questões do poder."
Kirschbaum diz que a
relação entre governo e
imprensa nunca foi boa,
mas que o conflito com o
setor agropecuário desatou uma campanha inédita contra o jornal. "Tivemos problemas com outros governos. Todos tentam intervir na imprensa,
mas nunca tivemos uma
crise gratuita como essa."
O motivo, afirma, é que
o governo "não quer que se
publiquem informações
que não o favorecem". O
"Clarín" se tornou alvo,
diz ele, pela cobertura crítica da crise agropecuária
e por ser a maior empresa
de comunicação do país.
O jornalista classifica o
primeiro forte ataque de
Cristina ao grupo, quando
criticou a charge do cartunista Sábat, como "estupidez". "Esse foi o exemplo
mais notório dos erros
deste governo pelo qual se
teve que pagar um preço
altíssimo. Sábat é um artista importante não só
para o jornal, mas para a
Argentina e o Uruguai."
Kirschbaum não pestaneja em afirmar que por
trás dos jovens que colaram os cartazes contra o
grupo Clarín pelas ruas está a mão do governo e que
os militantes respondem
ao secretário-geral da presidência, Oscar Parrilli.
Esses jovens, diz ele, pararam no tempo. "São militantes que falam uma língua que não tem a ver com
a de hoje. Como se vivessem nos anos 70."
Mas as ações do governo
não vêm apenas na forma
de discursos e cartazes
(que o Clarín calcula terem custado R$ 100 mil/
dia), diz o editor. Neste
ano, o jornal teve queda de
propaganda oficial. "A publicidade se manteve forte
em outros jornais por razões políticas."
(AK)
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Governistas: "Produtores e mídia temem perder lucros" Índice
|