São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 2011

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ANÁLISE

Sem diretor, FMI agora tem de dar conta de desafios gigantescos

MARTIN WOLF
DO "FINANCIAL TIMES"

Foi espantoso ver Dominique Strauss-Kahn caminhando algemado. Caso as acusações procedam, esse homem tão competente será também considerado um lunático. No FMI, ele provou ser o homem certo na hora certa.
Foi capaz de decisões audaciosas e mostrou que era um político efetivo e economista competente. Trata-se de uma combinação bastante rara.
Strauss-Kahn estava entre os poucos políticos europeus importantes que mereciam a atenção da liderança alemã, especialmente a da chanceler, Angela Merkel.
Em momentos cruciais, provou-se capaz de promover a união dos europeus.
A queda de Strauss-Kahn acontece em um momento importante. O programa de socorro financeiro à Grécia não funcionou tão bem quanto era esperado.
Existe uma boa chance de que o mesmo venha a se provar verdadeiro quanto aos 78 bilhões do programa de resgate a Portugal.
A Irlanda claramente não recuperou a saúde. Nem mesmo a Espanha está certa de conseguir encarar os ajustes necessários.
Além disso, o sistema bancário europeu, pesadamente endividado, continua vulnerável. As causas econômicas subjacentes dessas crises são claras. Durante os anos de boom, alguns países se provaram capazes de captar mais dinheiro e a termos mais favoráveis do que no passado.
Com isso, mantiveram fortes deficits em conta corrente. E foram esses últimos que se provaram o principal indicador de futuras crises, em lugar dos deficit fiscais.
Além do ajuste no financiamento, alguém precisa arcar com o custo dos maus empréstimos e da má captação passados.
A zona do euro decidiu que os prejuízos dos credores privados deveriam ser socializados e que o ônus final recairia sobre os contribuintes dos países deficitários.
Eles sofrerão primeiro uma forte contração econômica e depois anos de austeridade fiscal.
A justificativa para tudo isso é a visão, defendida com vigor especial pelo Banco Central Europeu, de que a zona do euro não é capaz de enfrentar calotes, seja ante os bancos seja de dívida pública. Uma vez mais, a distinção entre dívida pública e dívida privada se dissolve.
Uma crise como essa é difícil de resolver. Como o ajuste deve ser financiado? Quem deve arcar com os prejuízos?
Como minimizar o pânico?
Os desafios são enormes.
A estratégia atual requer financiamentos oficiais ainda maiores, por períodos cada vez mais longos.
Eles estarão disponíveis?
Se não, alguém precisa começar a ter ideias novas.
Com a partida de Strauss-Kahn, imagino quem seria capaz de liderar.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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