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INFÂNCIA
Para agência da ONU, é impossível quantificar trabalho escravo de crianças; Folha corrige reportagem de 11 de junho
Dados sobre escravidão estavam errados
DA REDAÇÃO
A Folha errou ao afirmar que,
para a Organização Internacional
do Trabalho (OIT), há mais de
meio milhão de crianças escravizadas ou trabalhando em condições semelhantes à de escravo no
Brasil. A informação foi publicada no dia 11 de junho, na manchete (Primeira Página) e na reportagem "Servidão afeta 10 milhões
de crianças" (Mundo, pág. A11).
Falhas de apuração da Folha,
má interpretação por parte de
uma agência internacional de notícias e imprecisões nos informes
da OIT à imprensa contribuíram
para a publicação equivocada.
De acordo com relatório da
OIT, agência da ONU, o número
de 559 mil, destacado na manchete, refere-se a crianças e adolescentes com menos de 18 anos que
exercem trabalho doméstico -
não necessariamente escravo ou
similar à escravidão.
Mesmo esse número, porém,
está desatualizado, segundo o IBGE. A Pnad (Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios) de
2002 mostra que o Brasil tem 482
mil menores empregados em serviços domésticos. Em entrevista
ontem à Folha, a OIT disse que,
"dados o caráter oculto do fenômeno e a extrema dificuldade em
monitorar as reais condições de
trabalho e moradia, nunca podemos afirmar com alguma certeza
se, entre essas crianças no Brasil,
uma parte vive em condições similares à escravidão".
A OIT acrescenta que, "nas pesquisas e rápidas sondagens feitas
no Brasil, nunca identificamos casos de escravidão infantil, mas,
sim, de crianças sob exploração,
algumas trabalhando em condições arriscadas".
Na reportagem do dia 11, também está errada a informação de
que "cerca de 10 milhões de crianças em todo o mundo trabalham
em condições semelhantes à de
escravos". Na verdade, é uma estimativa do número de menores de
18 anos que estão envolvidos em
serviços domésticos.
A reportagem foi feita com base
no relatório da OIT, em "release"
(texto de divulgação feito para
jornalistas) da própria entidade e
em nota produzida pela agência
de notícias americana Associated
Press (AP).
O "release" é impreciso e pode
levar a uma interpretação errada
sobre o que a OIT considera trabalho doméstico infantil. O texto
diz que cerca de 10 milhões de
crianças estão submetidas a "formas ocultas de exploração, freqüentemente envolvendo maus-tratos, riscos à saúde e violência".
A notícia de que 10 milhões trabalhariam em condição similar à
escravidão foi reproduzida da
agência AP -jornais no Brasil e
no mundo publicaram os dados
errados fornecidos pela AP.
Ouvido pela Folha, o repórter
da AP que produziu o texto, Jonathan Fowler, disse que o número
de 10 milhões foi citado na conferência de imprensa que lançou o
estudo, em Genebra.
A OIT confirmou ontem a estimativa de 10 milhões para o total
de menores em trabalho doméstico no mundo, mas negou que todos possam ser enquadrados na
categoria "similar à escravidão":
"Não é verdade que todos residam e trabalhem em condições similares à escravidão".
Os pesquisadores de Genebra
acrescentaram que, na coletiva,
em 10 de junho, dois dos autores
do relatório (Frans Roselaers e June Kane) deixaram clara a não-coincidência.
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