São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2004

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INFÂNCIA

Para agência da ONU, é impossível quantificar trabalho escravo de crianças; Folha corrige reportagem de 11 de junho

Dados sobre escravidão estavam errados

DA REDAÇÃO

A Folha errou ao afirmar que, para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), há mais de meio milhão de crianças escravizadas ou trabalhando em condições semelhantes à de escravo no Brasil. A informação foi publicada no dia 11 de junho, na manchete (Primeira Página) e na reportagem "Servidão afeta 10 milhões de crianças" (Mundo, pág. A11).
Falhas de apuração da Folha, má interpretação por parte de uma agência internacional de notícias e imprecisões nos informes da OIT à imprensa contribuíram para a publicação equivocada.
De acordo com relatório da OIT, agência da ONU, o número de 559 mil, destacado na manchete, refere-se a crianças e adolescentes com menos de 18 anos que exercem trabalho doméstico - não necessariamente escravo ou similar à escravidão.
Mesmo esse número, porém, está desatualizado, segundo o IBGE. A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2002 mostra que o Brasil tem 482 mil menores empregados em serviços domésticos. Em entrevista ontem à Folha, a OIT disse que, "dados o caráter oculto do fenômeno e a extrema dificuldade em monitorar as reais condições de trabalho e moradia, nunca podemos afirmar com alguma certeza se, entre essas crianças no Brasil, uma parte vive em condições similares à escravidão".
A OIT acrescenta que, "nas pesquisas e rápidas sondagens feitas no Brasil, nunca identificamos casos de escravidão infantil, mas, sim, de crianças sob exploração, algumas trabalhando em condições arriscadas".
Na reportagem do dia 11, também está errada a informação de que "cerca de 10 milhões de crianças em todo o mundo trabalham em condições semelhantes à de escravos". Na verdade, é uma estimativa do número de menores de 18 anos que estão envolvidos em serviços domésticos.
A reportagem foi feita com base no relatório da OIT, em "release" (texto de divulgação feito para jornalistas) da própria entidade e em nota produzida pela agência de notícias americana Associated Press (AP).
O "release" é impreciso e pode levar a uma interpretação errada sobre o que a OIT considera trabalho doméstico infantil. O texto diz que cerca de 10 milhões de crianças estão submetidas a "formas ocultas de exploração, freqüentemente envolvendo maus-tratos, riscos à saúde e violência".
A notícia de que 10 milhões trabalhariam em condição similar à escravidão foi reproduzida da agência AP -jornais no Brasil e no mundo publicaram os dados errados fornecidos pela AP.
Ouvido pela Folha, o repórter da AP que produziu o texto, Jonathan Fowler, disse que o número de 10 milhões foi citado na conferência de imprensa que lançou o estudo, em Genebra.
A OIT confirmou ontem a estimativa de 10 milhões para o total de menores em trabalho doméstico no mundo, mas negou que todos possam ser enquadrados na categoria "similar à escravidão": "Não é verdade que todos residam e trabalhem em condições similares à escravidão".
Os pesquisadores de Genebra acrescentaram que, na coletiva, em 10 de junho, dois dos autores do relatório (Frans Roselaers e June Kane) deixaram clara a não-coincidência.


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