São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2008

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Convocados por celular, panelaços ganham reforço

"Protestos da oligarquia" chegam a bairros menos nobres de cidades argentinas

Atos como o de anteontem são divulgados por e-mails ou mensagens de texto, atraindo assim um alto contingente de jovens

Marcos Brindicci/Reuters
A presidente Cristina Kirchner faz discurso na sede do governo

DE BUENOS AIRES

Nesta semana, os panelaços voltaram e reuniram milhares de pessoas nas ruas de Buenos Aires e de várias cidades do interior, como Córdoba, Mendoza e Bariloche.
Os protestos, que no começo do conflito eram chamados pelo governo de "panelaços da oligarquia" e que tinham forte presença das classes alta e média, se tornaram mais heterogêneos e começaram a se espalhar por bairros mais simples.
Nas regiões mais abonadas, dizia-se que os protestos se limitavam a pessoas ligadas ao setor rural. Mas, na noite da última segunda-feira, a insatisfação com a crise pareceu se espalhar por outros setores da sociedade. Onde antes só se viam cartazes de apoio ao campo, agora estavam presentes mensagens exigindo "diálogo já".
Foram vários os fatores detonantes do protesto. No sábado, a prisão de 19 produtores rurais -entre eles o líder Alfredo de Angeli- que não queriam liberar a passagem em uma estrada já havia desencadeado um grande panelaço em meio a um feriado prolongado.
Na segunda, em pleno feriado, as pessoas foram às ruas após duras declarações do líder piqueteiro Luís D'Elía, aliado do governo. Ele afirmou que os quatro dirigentes das entidades rurais que comandam o locaute, junto com o ex-presidente Eduardo Duhalde e o grupo de mídia Clarín, estariam planejando um golpe de Estado.
Outro fator provocador foi um anúncio do Partido Justicialista que começou a ser veiculado na televisão convocando ao ato em apoio ao governo, hoje, na praça de Maio. O anúncio convoca a vir explicar "aos quatro senhores que só querem ganhar ou ganhar" que na Argentina todos devem ganhar.

Protesto moderno
Ao contrário do ato governista, divulgado pela televisão, os protestos de oposição ao governo vêm sendo convocados por meio de mensagens de celular e e-mails. A moda de usar a tecnologia a serviço dos protestos começou no dia 25 de março, após um discurso em que a presidente acusou o locaute do campo de ser um "piquete da abundância" e disse que não cederia a nenhuma extorsão.
Mensagens de celular convocando a um panelaço começaram a se espalhar e provocaram o primeiro protesto do tipo desde os atos que antecederam a queda do presidente Fernando de la Rúa em 2001.
O conteúdo das mensagens, que exigem ser passadas adiante, vai desde um simples chamado ao protesto até convocatória à "mobilização até a renúncia de Cristina". O modo como vêm sendo convocados os protestos talvez explique a maciça presença de jovens nesses atos.
Entidades ruralistas também estariam organizando seus piquetes e coordenando os bloqueios de estradas com mensagens de celular.
O protesto de anteontem provocou mais uma vez uma contramarcha de setores da base de apoio do governo, que bloquearam as ruas de acesso à praça de Maio, na capital, para que os paneleiros não pudessem chegar ao principal local de protestos da cidade.
No dia 25 de março, piqueteiros e paneleiros entraram em conflito no local e houve vários feridos. Desde então, os movimentos de apoio ao governo tomaram conta da praça e os opositores se viram obrigados a fazer seus protestos na região do Obelisco e do Congresso. (ADRIANA KÜCHLER)

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