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Para Amorim, Brasil é "realista" em conselho de direitos humanos
"Tem gente que quer ir para o CDH para purgar
os pecados do colonialismo", critica chanceler
DO ENVIADO A ASTANA
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, rebateu ontem as críticas à linha do
Brasil no Conselho de Direitos
Humanos da ONU -defendeu
uma atitude realista em relação
ao tema e acusou os países ricos
de agir movidos pelo sentimento de culpa colonialista.
Na última segunda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
discursou no CDH, em Genebra, sob ataques de ONGs de
defesa dos direitos humanos ao
histórico do Brasil no órgão.
Para as ONGs, ao evitar condenações a regimes acusados
de cometer abusos, como Sudão, Congo e Coreia do Norte, o
governo brasileiro é conivente
com eles e mina a capacidade
do CDH de defender as vítimas.
Amorim reafirmou a convicção do Itamaraty de que é melhor dialogar com países acusados que isolá-los. Disse isso no
palácio do presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, líder de um regime autoritário que há dois anos obteve o
direito ilimitado de se reeleger.
"É uma questão de concepção. Tem gente que quer ir para
o CDH para ficar em paz com a
sua consciências e purgar os
pecados do colonialismo."
Um dos exemplos de pragmatismo citados pelo ministro
foi a recente resolução sobre o
Sri Lanka, aprovada num CDH
profundamente dividido.
Copatrocinado pelo Brasil, o
texto não fez menção aos abusos de que o governo é suspeito
e não inclui a necessidade de
uma investigação independente, o que foi defendido pela alta
comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay.
"Se o Brasil não tivesse se envolvido na resolução, ela teria
simplesmente passado a mão
na cabeça do Sri Lanka e ponto
final. O envolvimento do Brasil
é que permitiu que a resolução
tenha criado obrigações para o
governo, que ele acabou tendo
que aceitar para ter esse apoio
mais amplo", disse o ministro.
Em outubro do ano passado,
Amorim foi ao Zimbábue no
momento em que países europeus pressionavam o presidente Robert Mugabe a deixar o
poder, por indícios de fraude
eleitoral. Após semanas de tensão, Mugabe aceitou dividir o
poder com o candidato de oposição Morgan Tsvangirai
Amorim, que manteve conversas com os dois, disse que o
diálogo evitou o pior. "O que
queriam muitos países europeus é que o Mugabe saísse,
mas isso teria levado a uma
guerra", disse o ministro.
"O [debate] fundamental em
direitos humanos é entre melhorar a situação ou simplesmente exprimir uma condenação que fique bonita e se bote
num diploma na parede", ironizou ele. "O Brasil quer efetivamente melhorar a situação."
Grupos civis consideram a visão brasileira moralmente duvidosa, por preferir manter
alianças com países em desenvolvimento a privilegiar a defesa das vítimas.0
(MARCELO NINIO)
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