São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 2006

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Símbolo de convivência, Haifa vira alvo inimigo

Vítima do pior ataque do Hizbollah, cidade sofre êxodo e dano econômico

Local de rara coexistência entre judeus e árabes em Israel, Haifa vive a rotina dos mísseis; prejuízo estimado chega a US$ 100 milhões

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE HAIFA

São quase 18h em Haifa e a avenida ao longo do porto está vazia. O trânsito deveria estar infernal. Fica fácil encostar o carro e correr em busca de abrigo quando a sirene ensurdecedora avisa que mais um foguete se aproxima.
Uma delas acertou em cheio um prédio de apartamentos a 200 metros dali. Após ter sido alvo, no domingo, do pior ataque sofrido por Israel até agora, que deixou oito mortos, a terceira maior cidade do país, vive a amarga rotina da guerra. Justamente a única grande cidade israelense que reúne uma população mista, de árabes e israelenses, e que por isso tornou-se um raro símbolo de convivência pacífica.
As ruas estão desertas. Os moradores estão em bunkers ou em quartos com paredes reforçadas em suas casas. Qualquer nova construção em Israel é obrigada a ter um desses.
Todas as cidades do norte de Israel também estão vazias. Na quinta-feira, Tiberíades, na beira do mar da Galiléia, era uma agitação de turistas americanos, peregrinos cristãos europeus visitando locais do Novo Testamento e israelenses aproveitando o verão.

Reservas canceladas
Em toda a cidade havia ontem apenas um restaurante e alguns quiosques abertos. As lojas para turistas estavam fechadas e os barcos de passeio no lago, recolhidos. Um ambiente assustador, uma cidade-fantasma. "Tínhamos 350 reservas para hoje, mas só apareceram 30 pessoas", conta o garçom Walid.
Os turistas fugiram, revertendo a euforia de uma época em que Israel comemorava a volta dos visitantes estrangeiros -1 milhão, do começo do ano até a quinta-feira passada. Um número recorde depois dos anos duros do terror suicida, em que eles desapareceram.
Os israelenses que têm parentes em cidades mais ao sul, também. As rádios e os canais de televisão divulgam ofertas de famílias dispostas a receber gente do norte durante a guerra. Quem ficou no norte, uma preferência do turismo interno, mas uma periferia no sentido econômico e social, está no abrigo antibomba ou no quarto protegido. Nem todos em Israel têm essa proteção, que comprovadamente diminui o número de vítimas nos ataques do Hizbollah.

Cidades árabes
Nas cidades da minoria árabe não há abrigos nem psicólogos do governo que ajudam em situações de trauma. "Os foguetes não sabem diferenciar entre árabes e judeus. Mas o governo israelense sabe muito bem", diz o diretor de uma escola de Uhm El Fahm, no norte do país.
As cidades de Tzfat (Safed), Carmiel e Kiriat Shmone, principais centros urbanos da Galiléia, estão vazias. Alguns semáforos estão desligados e só passam nas ruas carros da polícia.
A associação industrial de Israel estima que as perdas passem de US$ 100 milhões por dia. Apenas um terço das fábricas israelenses estão com funcionamento normal. Outro terço trabalha parcialmente. O restante está parado.
Como sempre, também há quem lucre com a situação. Os hotéis de Eilat, no extremo sul do país, do mar Morto e de Jerusalém, que neste momento são locais seguros, elevaram os preços em 40%.
Quando a sirene pára em Haifa, depois de quatro minutos de tensão à espera do estrondo do foguete contra seu alvo, a vida volta ao normal. Isto é, o normal de um estado de guerra, porque a universidade está fechada e os teatros e cinemas cancelaram sessões.
"Desta vez não caiu nada. Mas logo vai ter outro foguete, e desta vez ele pode cair", diz o israelense Hagai.
E ele tinha razão. Horas depois, já noite em Haifa, mais salvas de foguetes, nova correria em direção aos abrigos, e mais Katyushas. (MICHEL GAWENDO)


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