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Microfone revela idéias de Bush para crise
Ignorando aparelho ligado, presidente dos EUA diz a Blair que situação no Líbano é "uma merda" e que deve enviar Rice
Em almoço durante cúpula do G8, americano acusa a Síria, critica a ONU e diz que Annan deve ligar para Assad para apaziguar Hizbollah
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A SÃO PETERSBURGO
Um microfone ligado captou
ontem o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush
acusando a Síria e o Hizbollah
de serem os responsáveis "por
essa merda" que está acontecendo no Oriente Médio.
Bush também colocou em
dúvida o papel e os métodos das
Nações Unidas na atual crise e
antecipou que sua secretária de
Estado, Condoleezza Rice, poderia ser enviada à região do
confronto "muito em breve".
Sentado à mesa de almoço
durante a reunião do G8, em
São Petersburgo, Bush conversava com o premiê britânico,
Tony Blair, na mesma sala em
que iriam também almoçar os
governantes da Alemanha,
França, Japão, Itália, Canadá,
Reino Unido, Rússia e demais
países convidados, entre eles o
Brasil (que participou ao lado
de outros emergentes).
Com Blair de pé ao seu lado,
Bush falou enquanto mastigava
um pedaço de pão. "Veja, a ironia é que o que eles precisam
fazer é com que a Síria faça com
que o Hizbollah pare de fazer
essa merda, e está acabado."
O microfone estava na própria mesa ocupada por Bush, e
a conversa foi captada pelo circuito interno de televisão, que
deveria em princípio gravar
apenas as imagens.
O comentário deixou claro
que Bush acusa a Síria de estimular o Hizbollah a atacar Israel, e que só os sírios podem
deter a ofensiva.
Bush também reclamou da
postura do secretário-geral da
ONU, Kofi Annan, que pediu
um imediato cessar-fogo entre
Israel e o Hizbollah.
"Não gosto da seqüência disso. Sua atitude é basicamente
pedir o cessar-fogo, e tudo o
mais acontece...", disse Bush.
Blair respondeu: "A coisa é
complicada pois você não pode
parar isso a não ser que tenha
um acordo para uma presença
internacional [na região]."
Um comunicado do G8 de
domingo sugeriu a constituição
de uma força internacional
presente na fronteira entre Israel e Líbano, uma idéia que
Blair passou a apoiar.
Bush disse que pensava em
dizer a Annan para telefonar ao
ditador sírio, Bashar al Assad,
"para fazer alguma coisa acontecer". O presidente americano
acrescentou que não culpava os
governos de Israel ou do Líbano pelo conflito.
Bush também disse que pensava em enviar Condoleezza
Rice para a região. Blair concordou e afirmou: "Certo, isso é
o que importa. Veja, se ela for,
ela deve ter sucesso onde eu só
poderia chegar e falar".
"Obrigado pelo suéter"
O microfone também captou
o comentário de Bush sobre um
presente que recebeu de Blair.
"Obrigado pelo suéter. Foi
incrivelmente simpático da sua
parte. Sei que foi você quem o
escolheu", disse Bush. "Oh, claro!", respondeu Blair.
Segundo depois, enquanto
rodeava a cadeira de Bush, Blair
percebeu que o microfone estava ligado e o desligou com um
movimento brusco.
Trombada com Chirac
Além da reserva em relação
ao papel da ONU no atual conflito, os EUA também trombaram ontem com a França sobre
o melhor caminho para tentar
resolver a situação.
O presidente francês, Jacques Chirac, que já havia discordado dos EUA ao qualificar
de "excessiva" a reação israelense, afirmou que o que o G8
pediu em seu comunicado de
domingo foi "um cessar-fogo
imediato". "Isso está claro",
disse Jacques Chirac.
Nicholas Burns, subsecretário de Estado dos EUA para Assuntos Políticos, negou essa posição: "Não houve nenhum pedido de cessar-fogo", afirmou,
ao ser confrontado por jornalistas sobre a posição francesa.
No último dia da reunião do
G8, seus líderes também exortaram a Coréia do Norte a interromper seus testes de lançamento de mísseis e a abandonar seu programa nuclear.
Sobre as ambições nucleares
do Irã, os governantes concordaram em manter a pressão sobre aquele país por meio das
Nações Unidas, com a possibilidade de fortes sanções.
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