|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para analistas, casal Kirchner buscou derrota
DE BUENOS AIRES
A maior derrota política da
história do casal Kirchner, imposta pelo voto opositor do vice-presidente Julio Cobos ontem, é vista por analistas e pela
imprensa argentina como o
ápice de um conflito com o setor agropecuário em que, por
quatro meses, o governo não
conseguiu abrir diálogos nem
alcançar consensos. Pelo contrário, afastou aliados, conseguiu a proeza de reunir uma
oposição fragmentada e aproximou governistas e opositores.
"Ainda que a oposição seja
pequena, pela primeira vez forma um bloco racional, articulado. E se aproximam dela os políticos governistas, ante o medo
de que os votos que receberam
lhes dêem as costas no futuro
se seguirem a ordem autista
que vem de cima em vez de brigar pelos seus representados",
escreveu o historiador Marcos
Aguinis na revista "Noticias",
antes da votação no Senado.
A crise poderia ter sido evitada, ou ao menos minimizada, se
o governo não tivesse respondido aos locautes do campo com
discursos duros e ataques. O
governo, que antes tinha maioria ampla no Congresso, foi
acusado de comprar votos para
garantir a aprovação do projeto
na Câmara por apenas sete votos. Diante da crise, ganhar por
pouco no Senado já era quase
uma derrota. Perder, como disse o líder situacionista no Senado, seria uma "ferida de morte".
"Julio Cobos não foi um verdugo oportunista, mas a expressão definitiva de uma crise
que havia deixado o kirchnerismo sem apoio público, sem
confiança social na economia,
sem aliados e sem grande parte
do peronismo", escreveu o analista político Joaquín Morales
Solá no site do jornal "La Nación", para quem Cobos pôs fim
a um estilo de governar com
abuso de poder hegemônico.
"O casal presidencial argentino não sabe governar de outra
maneira que não seja impondo
sua própria vontade à política e
à sociedade", afirmou.
Em entrevista a um canal de
televisão local, o analista político Rosendo Fraga declarou que
agora cabe aos Kirchner escolher usar o já chamado "fator
Cobos" como "um instrumento
de mudança" em sua maneira
de governar ou então considerá-lo um traidor "e continuar
no caminho da confrontação".
No governo do presidente
Fernando de la Rúa (1999-2001), a perda de apoio no Congresso e a renúncia do vice-presidente foram fatores que instigaram uma crise que levou à
sua queda e a uma das piores
crises políticas e econômicas
que a Argentina já viveu. Cabe
ver agora como os Kirchner vão
aceitar e se adaptar à possibilidade de perder.
(ADRIANA KÜCHLER)
Texto Anterior: Vice de Cristina barra no Senado alta de imposto polêmico Próximo Texto: Após decisão, festas e ataques ao Congresso Índice
|