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Clérigo opositor reanima protestos no Irã
Em evento religioso semanal, ex-presidente Rafsanjani afirma que país "vive crise" e "esquece os princípios da revolução"
Líder conservador moderado apoia candidato derrotado no pleito de junho; novas manifestações na capital são fortemente reprimidas
DA REDAÇÃO
O ex-presidente do Irã (1989-1997) e aiatolá opositor Akbar
Hashemi Rafsanjani desferiu
ontem um duro ataque ao líder
supremo, aiatolá Ali Khamenei,
ao condenar a repressão que se
seguiu à reeleição do presidente ultraconservador Mahmoud
Ahmadinejad, em 12 de junho.
Ao conduzir a tradicional
oração das sextas na Universidade de Teerã pela primeira vez
desde o pleito, Rafsanjani disse
que o Irã está em "crise".
O evento político-religioso
transformou-se em ato de
apoio ao candidato derrotado
Mir Hossein Mousavi e deflagrou novos protestos de opositores, fortemente reprimidos,
pelas ruas de Teerã, depois de
semanas de relativa calmaria.
O ato foi acompanhado por
centenas de pessoas na universidade, inclusive Mousavi -em
sua primeira aparição em evento oficial desde o pleito-, e milhares fora dela.
O ex-presidente é considerado o maior apoiador de Mousavi -que obteve 33% dos votos,
contra 62,7% de Ahmadinejad,
segundo números oficiais. Veterano da Revolução Islâmica,
de 1979, e rival de Khamenei,
ele preside a Assembleia dos
Especialistas, único órgão que
pode destituir o líder supremo.
"Eu espero que com este sermão nós possamos atravessar
este período de dificuldades
que podemos chamar de crise",
disse Rafsanjani. Para o clérigo,
muitos iranianos ainda têm dúvidas sobre a reeleição de Ahmadinejad. "Precisamos adotar
medidas para removê-las."
Rafsanjani, considerado um
conservador moderado, evocou
inclusive o fundador da República Islâmica, aiatolá Ruhollah
Khomeini -morto em 1989-,
para questionar o líder supremo, mas sem citar Khamenei.
"Nós sabíamos o que o imã
Khomeini queria. Ele não queria o uso do terror ou das armas. Se o caráter islâmico e republicano da revolução não é
preservado, é porque nos esquecemos dos seus princípios."
A crise iraniana foi deflagrada após o anúncio da vitória de
Ahmadinejad apenas horas depois do fechamento das urnas,
apesar do alto comparecimento -mais de 80%- e da contagem manual. Na onda de protestos que se seguiu, a maior
desde a Revolução de 1979, ao
menos 20 pessoas morreram.
A oposição, Mousavi à frente,
alega "irregularidades em massa" e exige novas eleições. Um
novo pleito, porém, é rejeitado
pelo Conselho dos Guardiães
-a máxima instância constitucional- e pelo líder supremo.
Protestos
Do lado de fora da universidade, os protestos reuniram,
segundo relatos, "dezenas de
milhares" de manifestantes
com faixas, pulseiras e outros
artefatos verdes, que simbolizam os partidários de Mousavi.
Os opositores, que entoavam
gritos de "morte ao ditador",
"liberdade, liberdade" e "Mousavi, nós o apoiamos", foram
fortemente reprimidos por forças de segurança e milicianos
basiji com bombas de gás lacrimogêneo e agressões, ainda de
acordo com relatos. Pelo menos 15 foram detidos.
Também ontem, o Irã nomeou o novo chefe do órgão
responsável pelo programa nuclear -pivô do atrito com o
Ocidente. Ali Akbar Salehi, ex-representante do país na Agência Internacional de Energia
Atômica, substituirá Gholam-Reza Aghazadeh, cuja renúncia
é atribuída à proximidade com
Mousavi, em mais um sinal de
racha no regime islâmico.
Com agências internacionais
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