São Paulo, sábado, 18 de julho de 2009

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Clérigo opositor reanima protestos no Irã

Em evento religioso semanal, ex-presidente Rafsanjani afirma que país "vive crise" e "esquece os princípios da revolução"

Líder conservador moderado apoia candidato derrotado no pleito de junho; novas manifestações na capital são fortemente reprimidas

DA REDAÇÃO

O ex-presidente do Irã (1989-1997) e aiatolá opositor Akbar Hashemi Rafsanjani desferiu ontem um duro ataque ao líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, ao condenar a repressão que se seguiu à reeleição do presidente ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, em 12 de junho.
Ao conduzir a tradicional oração das sextas na Universidade de Teerã pela primeira vez desde o pleito, Rafsanjani disse que o Irã está em "crise".
O evento político-religioso transformou-se em ato de apoio ao candidato derrotado Mir Hossein Mousavi e deflagrou novos protestos de opositores, fortemente reprimidos, pelas ruas de Teerã, depois de semanas de relativa calmaria.
O ato foi acompanhado por centenas de pessoas na universidade, inclusive Mousavi -em sua primeira aparição em evento oficial desde o pleito-, e milhares fora dela.
O ex-presidente é considerado o maior apoiador de Mousavi -que obteve 33% dos votos, contra 62,7% de Ahmadinejad, segundo números oficiais. Veterano da Revolução Islâmica, de 1979, e rival de Khamenei, ele preside a Assembleia dos Especialistas, único órgão que pode destituir o líder supremo.
"Eu espero que com este sermão nós possamos atravessar este período de dificuldades que podemos chamar de crise", disse Rafsanjani. Para o clérigo, muitos iranianos ainda têm dúvidas sobre a reeleição de Ahmadinejad. "Precisamos adotar medidas para removê-las."
Rafsanjani, considerado um conservador moderado, evocou inclusive o fundador da República Islâmica, aiatolá Ruhollah Khomeini -morto em 1989-, para questionar o líder supremo, mas sem citar Khamenei.
"Nós sabíamos o que o imã Khomeini queria. Ele não queria o uso do terror ou das armas. Se o caráter islâmico e republicano da revolução não é preservado, é porque nos esquecemos dos seus princípios."
A crise iraniana foi deflagrada após o anúncio da vitória de Ahmadinejad apenas horas depois do fechamento das urnas, apesar do alto comparecimento -mais de 80%- e da contagem manual. Na onda de protestos que se seguiu, a maior desde a Revolução de 1979, ao menos 20 pessoas morreram.
A oposição, Mousavi à frente, alega "irregularidades em massa" e exige novas eleições. Um novo pleito, porém, é rejeitado pelo Conselho dos Guardiães -a máxima instância constitucional- e pelo líder supremo.

Protestos
Do lado de fora da universidade, os protestos reuniram, segundo relatos, "dezenas de milhares" de manifestantes com faixas, pulseiras e outros artefatos verdes, que simbolizam os partidários de Mousavi.
Os opositores, que entoavam gritos de "morte ao ditador", "liberdade, liberdade" e "Mousavi, nós o apoiamos", foram fortemente reprimidos por forças de segurança e milicianos basiji com bombas de gás lacrimogêneo e agressões, ainda de acordo com relatos. Pelo menos 15 foram detidos.
Também ontem, o Irã nomeou o novo chefe do órgão responsável pelo programa nuclear -pivô do atrito com o Ocidente. Ali Akbar Salehi, ex-representante do país na Agência Internacional de Energia Atômica, substituirá Gholam-Reza Aghazadeh, cuja renúncia é atribuída à proximidade com Mousavi, em mais um sinal de racha no regime islâmico.


Com agências internacionais


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