São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 2011

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ANÁLISE

Solução para Grécia inclui redução real da dívida

Para alemães e holandeses, pacotes precisam afetar também os credores

PATRICIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

A indecisão sobre a melhor fórmula para salvar a Grécia contamina países como Itália e Espanha, mas um resgate que inclua redução substancial da dívida grega pode quebrar bancos e ampliar os ataques especulativos.
Na Itália, o custo de financiamento atingiu valores recordes. Os investidores começam a pensar ""no caso de a Grécia não honrar suas dívidas, por que confiar na Itália, que tem o segundo maior endividamento da UE? A Espanha também sofre, com extrema elevação nos juros que paga em seus empréstimos.
Alemães e holandeses exigem que o novo pacote de resgate à Grécia tenha ampla participação dos credores. O presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, disse que até a mais leve das reestruturações de dívida pode causar uma turbulência semelhante à quebra do Lehman Brothers em 2008.
"Será necessário eliminar uma parte significativa da dívida grega, hoje em € 330 bilhões", disse à Folha Jacob Kirkegaard, especialista em UE do Peterson Institute for International Economics.
Ficou claro que algum tipo de calote será dado. O Institute for International Finance (IIF) imagina uma recompra de dívida dos detentores de títulos, bastante desvalorizados.
O governo grego ou o BCE usariam recursos do Fundo de Estabilidade Europeu para comprar dos credores esses títulos, um pouco acima de seu valor atual. Com isso, haveria uma redução real do valor total da dívida grega.
Mas quem disse que os credores vão aceitar vender seus títulos agora que estão fortemente desvalorizados?
Ted Truman, que foi secretário-assistente do Tesouro americano para assuntos internacionais entre 1998 e 2001, está cético.
"Alguns credores vão concordar, porque querem se livrar o quanto antes desses papeis; mas outros vão resistir, porque não podem arcar com essa perda", disse.
Se houver calote parcial a investidores, muitos bancos europeus, recheados de dívida grega, vão sofrer.
Além disso, as agências de risco podem rebaixar os papéis para a categoria SD, em inadimplência parcial, fechando o acesso da Grécia aos mercados e impossibilitando bancos gregos de usarem os títulos como garantia.
Se os investidores acham que a Itália vai emular a Grécia, começam a pedir juros altíssimos para comprar seus papéis de dívida. Se os juros sobem muito, fica insustentável para a Itália (ou a Irlanda) rolar suas dívidas.


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