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POR QUE SOU CONTRA CHÁVEZ
"Presidente tem laivos fascistóides"
Luis Acosta - 16.ago.2004/France Presse
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Oposicionista chora depois da divulgação da vitória de Chávez |
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
Na Venezuela, se costuma dizer
que os meios de comunicação
têm ocupado na oposição o espaço político deixado pelos partidos tradicionais. Assim, não é à
toa que um de seus porta-vozes
seja Teodoro Petkoff, 72, diretor
do tablóide "TalCual" e ex-dirigente do MAS (Movimento ao
Socialismo), partido rompido
desde 2000 com o presidente Hugo Chávez.
Crítico feroz do governo, ele diz
que Chávez é apoiado pela "esquerda anacrônica" e que, se o
PT estivesse na Venezuela, estaria
na oposição. Petkoff, no entanto,
reconhece a vitória chavista.
Leia a seguir a entrevista de Petkoff à Folha.
Folha - O sr. reconhece a vitória
de Chávez?
Teodoro Petkoff - Em termos gerais, sim. Ainda restam algumas
dúvidas. No entanto é significativo que a OEA e o Centro Carter
tenham convalidado os resultados.
Folha - A Coordenação Democrática (CD) continuará contestando
os resultados?
Petkoff - Creio que a CD devesse
atuar em dois sentidos. Por um
lado, tem todo o direito de exigir
um esclarecimento de todas as
dúvidas. Mas, simultaneamente,
creio que a CD deveria desafiar o
governo para a busca de uma
convivência democrática no país.
Folha - Estamos às vésperas das
eleições para governador e prefeito, no final de setembro. O clima
de campanha continua?
Petkoff - Sem dúvida. As eleições regionais têm um peso muito grande. A campanha está
pronta para recomeçar porque,
de fato, havia começado antes da
campanha do plebiscito e recomeçará com muitíssima força.
Folha - Como o sr. classifica Chávez ideologicamente?
Petkoff - Como um populista
latino-americano bastante clássico, como o que corresponde ao
estereótipo do populista tradicional. Por outro lado, naturalmente
há também algo de caudilho latino-americano. Seu governo é
personalista, ele simplesmente
dá ordens e espera que sejam
cumpridas sem nenhuma discussão. Não é um marxista-leninista,
muito menos comunista.
A ideologia que ele tem tentado
construir com o bolivarianismo é
mais uma retórica muito pouco
ilustrada. Não creio que funcione
muito, salvo o peso que possa ter
o aproveitamento a religião laica
que existe em nosso país em torno de Simón Bolívar [herói da independência].
Folha - Mas Chávez não está à esquerda na Venezuela?
Petkoff - É um pouco mais
complexo. Em seu discurso, encontram-se alusões ao que seria
um discurso de esquerda. As
preocupações sociais pelos mais
humildes correspondem a um
discurso de esquerda.
Mas seu comportamento tem
laivos fascistóides, o autoritarismo, a tendência ao controle absoluto das instituições do Estado.
Ele é complexo.
Agora, é evidente que, ao seu lado, está o que podemos chamar
de esquerda anacrônica. Não
imagino nunca um partido como
o PT ao redor de um tipo como
Chávez. Jamais, mesmo com o
tropeço que foi esse apoio público [o manifesto petista em favor
do presidente venezuelano].
Ouvi, com esses ouvidos que a
terra vai comer, José Genoino
[presidente do PT] mencionar,
em fevereiro do ano passado, o
dano que causa o ultraesquerdismo causa à política de avanços
sociais. E mencionou Hugo Chávez. Estou seguro de que há razões de política interna brasileira
para esse apoio e que Lula não
tem nada a ver com isso.
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