São Paulo, quarta-feira, 18 de agosto de 2004

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POR QUE SOU CONTRA CHÁVEZ

"Presidente tem laivos fascistóides"

Luis Acosta - 16.ago.2004/France Presse
Oposicionista chora depois da divulgação da vitória de Chávez


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

Na Venezuela, se costuma dizer que os meios de comunicação têm ocupado na oposição o espaço político deixado pelos partidos tradicionais. Assim, não é à toa que um de seus porta-vozes seja Teodoro Petkoff, 72, diretor do tablóide "TalCual" e ex-dirigente do MAS (Movimento ao Socialismo), partido rompido desde 2000 com o presidente Hugo Chávez.
Crítico feroz do governo, ele diz que Chávez é apoiado pela "esquerda anacrônica" e que, se o PT estivesse na Venezuela, estaria na oposição. Petkoff, no entanto, reconhece a vitória chavista.
Leia a seguir a entrevista de Petkoff à Folha.
 

Folha - O sr. reconhece a vitória de Chávez?
Teodoro Petkoff -
Em termos gerais, sim. Ainda restam algumas dúvidas. No entanto é significativo que a OEA e o Centro Carter tenham convalidado os resultados.

Folha - A Coordenação Democrática (CD) continuará contestando os resultados?
Petkoff -
Creio que a CD devesse atuar em dois sentidos. Por um lado, tem todo o direito de exigir um esclarecimento de todas as dúvidas. Mas, simultaneamente, creio que a CD deveria desafiar o governo para a busca de uma convivência democrática no país.

Folha - Estamos às vésperas das eleições para governador e prefeito, no final de setembro. O clima de campanha continua?
Petkoff -
Sem dúvida. As eleições regionais têm um peso muito grande. A campanha está pronta para recomeçar porque, de fato, havia começado antes da campanha do plebiscito e recomeçará com muitíssima força.

Folha - Como o sr. classifica Chávez ideologicamente?
Petkoff -
Como um populista latino-americano bastante clássico, como o que corresponde ao estereótipo do populista tradicional. Por outro lado, naturalmente há também algo de caudilho latino-americano. Seu governo é personalista, ele simplesmente dá ordens e espera que sejam cumpridas sem nenhuma discussão. Não é um marxista-leninista, muito menos comunista.
A ideologia que ele tem tentado construir com o bolivarianismo é mais uma retórica muito pouco ilustrada. Não creio que funcione muito, salvo o peso que possa ter o aproveitamento a religião laica que existe em nosso país em torno de Simón Bolívar [herói da independência].

Folha - Mas Chávez não está à esquerda na Venezuela?
Petkoff -
É um pouco mais complexo. Em seu discurso, encontram-se alusões ao que seria um discurso de esquerda. As preocupações sociais pelos mais humildes correspondem a um discurso de esquerda.
Mas seu comportamento tem laivos fascistóides, o autoritarismo, a tendência ao controle absoluto das instituições do Estado. Ele é complexo.
Agora, é evidente que, ao seu lado, está o que podemos chamar de esquerda anacrônica. Não imagino nunca um partido como o PT ao redor de um tipo como Chávez. Jamais, mesmo com o tropeço que foi esse apoio público [o manifesto petista em favor do presidente venezuelano].
Ouvi, com esses ouvidos que a terra vai comer, José Genoino [presidente do PT] mencionar, em fevereiro do ano passado, o dano que causa o ultraesquerdismo causa à política de avanços sociais. E mencionou Hugo Chávez. Estou seguro de que há razões de política interna brasileira para esse apoio e que Lula não tem nada a ver com isso.


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