São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 2006

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

ONU enfrenta resistências a força de paz

Exército libanês inicia controle do sul do Líbano, mas falta de regras claras dificulta o envio de tropas internacionais

Subsecretário-geral das Nações Unidas obtém promessa de soldados, mas há dúvidas sobre viabilidade de posicionamento rápido


MICHEL GAWENDO
DE TEL AVIV

Soldados do Exército do Líbano começaram a assumir ontem posições na área do sul do país ocupada por Israel, mas a perspectiva de pacificação ficou abalada por causa das dificuldades enfrentadas pela ONU para formar a força internacional encarregada de zelar pelo cessar-fogo na região.
Depois de reunir-se com representantes de 49 países, o subsecretário-geral da ONU, Mark Malloch, obteve promessas de envio de soldados. Mas levantou dúvidas sobre a viabilidade de seu posicionamento em tempo hábil.
"Temos [a força] em termos quantitativos, mas a questão é: que batalhões podem chegar lá no tempo necessário?", disse Malloch. Ele reclamou da França, que anunciou primeiro o envio de 200 soldados e depois de 400, e não dos 3.000 previstos inicialmente (leia texto nesta página).
"Esperávamos, e não fizemos nenhum segredo, que houvesse uma contribuição mais forte da França", disse Malloch. Entre os países que ofereceram mais soldados estão Indonésia, Bangladesh e Itália. Para o secretário-geral, "há muito trabalho a ser feito nos próximos dias para cumprir o prazo".
A resolução de cessar-fogo aprovada há uma semana prevê o aumento para até 15 mil soldados do atual contingente da ONU no sul do Líbano, com 2.000 integrantes.
O Exército de Israel confirmou que sua retirada da região pode levar dez dias, mas que será suspensa caso as forças internacionais e libanesas não assumam o controle de fato. O comandante da atual força da ONU no sul do Líbano, o francês Alain Pellegrini, disse que ainda não foram fixadas as regras de combate -principal razão pela qual houve hesitação em comprometer soldados.
Ontem, cerca de 2.500 soldados libaneses assumiram o controle de pelo menos 30 aldeias no sul do Líbano. Segundo o Exército de Israel, metade do território ocupado durante o conflito foi transferido para controle libanês.
Segundo a resolução da ONU, o Exército do Líbano e as forças internacionais serão responsáveis pelo patrulhamento da área entre o rio Litani, a 30 km da fronteira, e Israel. O texto implica o desarmamento do grupo terrorista Hizbollah -que se recusa a abrir mão das armas, afirmando ser a única força capaz de conter Israel.

Posição estratégica
Ontem, guerrilheiros do Hizbollah não interferiram na entrada das tropas libanesas. A primeira cidade à qual chegou o Exército do Líbano foi Marjayoun, de maioria cristã, a 8 km da fronteira, que deverá ser a sede da força internacional, por ter posição estratégica, com visão para o vale do rio Litani.
Segundo agências de notícias, mais de 200 mil libaneses voltaram para o sul do país antes mesmo da retirada total dos israelenses. Duas crianças morreram ontem na explosão de munição que restou do conflito na aldeia de Naqoura.
Um avião da empresa Middle East Airlines pousou ontem no aeroporto internacional Hafik Hariri, em Beirute, no primeiro vôo comercial desde 13 de julho, quando Israel bombardeou suas pistas. Apesar disso, o governo israelense afirma que ainda não encerrou os bloqueios aéreo, marítimo e terrestre do Líbano.
A trégua começou oficialmente na segunda-feira e vem sendo respeitada, mas soldados de Israel mataram pelo menos dez guerrilheiros em tiroteios. Os militares israelenses têm ordem para disparar em caso de "ameaça iminente".
O conflito começou em 12 de julho, depois que o Hizbollah seqüestrou dois soldados de Israel e matou oito. Inicialmente, Israel retaliou com bombardeios aéreos à infra-estrutura libanesa e a bases do Hizbollah. Depois, invadiu o sul do Líbano com 30 mil soldados. O grupo xiita disparou foguetes e mísseis contra Israel durante todo o conflito. Segundo números oficiais, ao menos 1.110 libaneses e 157 israelenses morreram.


Com agências internacionais

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