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Blair cria mais de 3.000 crimes em 9 anos
Oposição acusa governo de "populismo penal"; entre as novas infrações, está imitar guarda de trânsito
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES
Endurecer o combate ao crime e às suas causas tem sido
uma das principais plataformas
do governo Tony Blair desde
que assumiu o poder, em 1997.
Mas a revelação, anteontem, de
que o Partido Trabalhista aprovou 3.023 novas modalidades
de crime em nove anos de governo -quase uma ao dia- deu
a dimensão do que os críticos
chamam de "populismo penal".
Para a oposição, o governo
"legisla antes e pensa depois",
criando novas leis para cada
ofensa potencial que ganha
destaque nas manchetes. Do
total de novas atividades tornadas ilegais, 1.169 foram aprovadas via legislação primária (debatida no Parlamento) e 1.854
por legislação secundária.
A quantidade de novas infrações criadas pelos trabalhistas
é mais do que o dobro do total
criado nos últimos nove anos
de governo dos conservadores
-tradicionalmente associados
a uma postura mais rígida no
combate à criminalidade.
Os números foram apresentados pelo porta-voz de assuntos nacionais do Partido Liberal-Democrata, Nick Clegg,
pouco após a Associação de
Chefes de Polícia do Reino Unido afirmar que pretende pedir
ao governo poderes de "justiça
instantânea" contra "comportamento anti-social".
"O legado dos nove anos de
governo trabalhista é um frenesi de novas leis, uma obsessão
com o controle de cada aspecto
da vida cotidiana", disse Clegg.
O governo brande números
positivos em resposta às críticas. "A taxa de criminalidade
caiu 35% desde que o Partido
Trabalhista chegou ao poder
exatamente porque demos à
polícia e ao sistema jurídico as
leis modernas que eles precisavam", afirmou um porta-voz do
governo. "Criamos leis para
modernizar o combate aos crimes sexuais e à violência doméstica. Os liberais-democratas acham isso um erro?"
De fato, muitas das novas
ofensas criminais foram aprovadas por consenso, mas boa
parte delas é considerada prosaica, quando não inútil.
Entre as novas atividades
que se tornaram ilegais estão
imitar um guarda de trânsito e
não deixar uma cópia da chave
de casa com o vizinho, para o
caso de o alarme disparar enquanto o morador estiver fora.
Mudança de mentalidade
Em seu discurso na convenção dos trabalhistas em setembro do ano passado, pouco após
ter sido reeleito para seu terceiro mandato, Tony Blair indicou
com ênfase o rigor que orienta
sua política de segurança:"Nosso sistema jurídico parte do
princípio de que seu dever é
proteger os inocentes de serem
injustamente condenados. É
claro que isso deve ser a tarefa
da Justiça, mas nossa prioridade é permitir aos que respeitam
as leis viver em segurança".
Blair dividiu sua política de
combate ao crime em três pilares: a "extensão radical" dos poderes da polícia para tomar decisões sumárias; o aumento dos
policiais e o foco na juventude,
"dando aos jovens o que fazer"
e tirando-os das ruas.
Além de clamar por poderes
de justiça sumária -sem julgamento em Corte- a Scotland
Yard também tem defendido
um tempo maior para manter
presos suspeitos de terrorismo
sem acusação formal.
A oposição afirma que tais
movimentos poriam em risco
as bases legais da nação. "Não
podemos atropelar o sistema
jurídico. É a Corte que deve
analisar cada caso e tomar as
decisões judiciais, não a polícia", afirmou David Davis, responsável pela Secretaria do Interior no Partido Conservador.
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