São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 2006

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EUA querem que o Brasil pressione Cuba por abertura

Responsável por América Latina no Departamento de Estado nega intervenção

Thomas Shannon defende embargo econômico sobre Havana e diz que aliança entre Chávez e Fidel "não preocupa" Washington


Cubavision-13.ago.2006/Associated Press
Chávez observa retrato de Fidel durante encontro com ditador em Havana exibido na TV cubana


FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo norte-americano vê no recente afastamento de Fidel Castro do comando do regime cubano uma oportunidade para a transição democrática e quer o envolvimento do governo brasileiro e do PT no processo, afirmou ontem o secretário-adjunto de Estado para Assuntos Latino-Americanos, Thomas Shannon.
"O Brasil, tanto no nível governamental quanto de partidos políticos, tem relações com Cuba que podem ser importantes e muito úteis neste momento", disse Shannon, em alusão ao partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Vamos continuar nossas consultas para assegurar que EUA e Brasil atuem de forma complementar, refletindo nossos valores políticos e agenda em comum."
As declarações de Shannon foram feitas de Washington durante uma entrevista coletiva por teleconferência com jornalistas brasileiros, da qual a Folha participou, no Consulado dos EUA em São Paulo.
Anteontem, o diplomata americano utilizou o mesmo formato com jornalistas argentinos. Segundo o consulado, Shannon também conversaria com meios de comunicação da Colômbia e da Espanha.
Antes das perguntas, Shannon falou da avaliação de Washington sobre o afastamento do ditador, que acaba de completar 80 anos, por problemas de saúde no último dia 31. "O que veremos é um arranjo de divisão de poder entre um pequeno número de indivíduos que representam o Partido Comunista, as Forças Armadas e outros aspectos do Estado totalitário."
Essa é uma transferência de poder lenta e delicada porque Castro ainda está vivo", apesar de, segundo Shannon, ele ter "cada vez menos habilidade para lidar com as operações diárias do governo cubano".

Envolvimento externo
O funcionário do governo de George W. Bush defendeu que, neste momento, "é importante que a comunidade internacional, tanto publicamente quanto de forma privada, envie mensagens fortes para o regime de que esta é a hora para uma transição para a democracia".
Shannon deu a entender ainda que os EUA não farão nenhum tipo de intervenção direta em Cuba. "Quero ressaltar que uma transição para a democracia em Cuba tem de ser uma transição cubana. Soluções políticas para Cuba não podem ser impostas de fora para que sejam duradouras e bem-sucedidas. O povo lidera, embora regimes totalitários não queiram deixar o poder."
As declarações divergem do objetivo declarado da Comissão de Assistência para uma Cuba Livre, criada pelo governo Bush para "acelerar a derrocada da tirania de Castro", na definição da secretária de Estado, Condoleezza Rice.
Questionado sobre qual seria o papel dessa comissão após a morte de Fidel, Shannon disse que se limitará a "preparar o governo americano para ajudar Cuba em sua transição para a democracia e a dar ajuda específica, se solicitada por um governo cubano em transição".
O diplomata também minimizou a histórica divergência entre os EUA e outros países, como o Brasil, por conta do embargo econômico sobre Cuba.
"Reconhecemos e entendemos que há muita discordância. Nosso argumento é que é importante negar recursos ao regime. Mas, em última instância, o importante é que o governo Bush tem focado sua política na promoção de uma transição para democracia", afirmou.
Shannon, ao ser questionado sobre o Brasil, disse ainda que os dois governos "compartilham o objetivo de uma Cuba independente e democrática que possa se integrar no sistema interamericano".

Chávez "irrelevante"
Questionado sobre se o papel da Venezuela na transição cubana preocupa os EUA, Shannon disse ter "esperança" de que Hugo Chávez "reconheça que pode usar suas relações com o regime cubano para achar um caminho para promover uma transição bem-sucedida para a democracia, e não se deixe cair na armadilha de apoiar um regime totalitário".
"Chávez participa algumas vezes dessa agenda [democrática], outras vezes, não. Quando ele quer participar dessa agenda maior, é bem-vindo. Quando não quer participar, se torna irrelevante", afirmou.


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