São Paulo, quinta-feira, 18 de agosto de 2011

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ANÁLISE

Europa, por meio da zona do euro, chegou à hora da verdade


O CONTINENTE ESTÁ CONDENADO A PROSSEGUIR EM SEU PROCESSO DE INTEGRAÇÃO. NEM QUE SEJA PARA, NO FINAL, TODOS CHORAREM JUNTOS


JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Alemanha e França deram anteontem um passo para impedir uma deterioração definitiva do euro.
Mas foi um passo curto, apesar do envio da carta em que Angela Merkel e Nicolas Sarkozy sugerem que o presidente da Comissão Europeia, Herman Van Rompuy, corte as verbas de ajuda aos Estados que não reduzirem seus deficits.
É meio falaciosa a expressão que Sarkozy e Merkel usaram anteontem -criação de um "verdadeiro governo econômico" para os 17 países que adotam a moeda conjunta.
Não adianta reunir governantes duas vezes por ano para monitorar e punir os que gastam mais do que arrecadam. E que, por isso mesmo, sofrem agora os efeitos de um endividamento com perfume de insolvência.
A chanceler e o presidente também sugeriram que as Constituições nacionais tenham como cláusula pétrea o equilíbrio orçamentário e disseram estudar um imposto europeu sobre algumas transações financeiras.
No fundo, o que os investidores gostariam, além do descarte de novas taxações, é que Merkel e Sarkozy aceitassem a emissão de eurobonds.
Seria um título europeu que aos poucos substituiria os papéis da dívida interna dos 17 tesouros nacionais. Entre os partidários do plano estão o governo italiano (Berlusconi), os socialistas franceses e o megainvestidor George Soros, um trio no mínimo heterogêneo.
A vantagem, dizem defensores de economias semifalidas, como a da Grécia, está no fato de esses títulos, se forem lançados, trazerem juros mais baixos que os atualmente praticados.
Mas seriam, ao mesmo tempo, juros mais altos que os oferecidos pelos títulos da dívida pública alemã, de risco praticamente nulo. Em outras palavras, seria jogar no colo de Berlim os custos reais para trazer a prosperidade às Bolsas e impedir o quebra-quebra que afundaria o euro de vez.
De certo modo, a Europa, pelo atalho da zona do euro, chegou à hora da verdade. Qualquer passo ambicioso pisará em território sob a guarda das soberanias nacionais.
Adotar a mesma alíquota para todos os impostos? Irlanda e muitos outros rejeitariam. Definir limites draconianos de gastos? Péssima ideia, quando é por investimentos públicos que coligações se municiam para o calendário eleitoral. A Europa está condenada a prosseguir em sua integração. Nem que seja para, no fim, todos chorarem juntos.


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