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São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Comandante diz que os americanos agora são alvo também de iraquianos comuns, devido à ocupação

Hostilidade é generalizada, admitem EUA

DA REDAÇÃO

Em meio aos constantes ataques de guerrilha, os soldados americanos no Iraque se deparam agora com ataques vindos da população comum, revoltada com a ocupação. A revelação foi feita pelo comandante das tropas americanas no país, general Ricardo Sanchez, em entrevista publicada ontem pelo jornal londrino "The Times". Relatórios de inteligência citados pelo "New York Times" ratificam a informação.
Diante da cada vez pior situação de segurança no país, as forças americanas aumentaram o número de ações de busca e patrulhamento nas regiões mais tensas. Mas as operações vêm alimentando o ressentimento da população, com revistas cada vez mais invasivas que, frequentemente, ignoram os costumes sociais e religiosos iraquianos.
"Temos percebido que, quando cometemos um incidente de conduta durante nossas operações, quando matamos um civil inocente, eles buscam vingança baseados em seus valores éticos e culturais", disse Sanchez.
Não foram registradas baixas em ações hostis entre as fileiras americanas ontem -no pós-guerra essas mortes somam 72-, mas uma série de ataques a bomba em Al Taji, ao norte de Bagdá, deixou feridos.
Outro soldado foi morto em um "incidente não-hostil com uma arma", segundo o comando americano. Ao todo, as baixas americanas no pós-guerra somam 156.
Segundo Sanchez, as forças da coalizão estão tentando "assegurar, quando um erro é cometido e inadvertidamente acabam matando alguém, que seja feita a coisa certa culturalmente, que é cuidarmos da família [da vítima]", disse o general, sem detalhar o procedimento nesses casos.
O jornal americano "The New York Times" citou, em uma reportagem divulgada ontem em sua edição on-line, que novos relatórios dos serviços de inteligência dos EUA alertam o comando militar para o fato de que, nos próximos meses, o maior inimigo das tropas no país deve ser o ressentimento da população.

De libertadores a invasores
"Para muitos iraquianos, nós não somos mais os caras que depuseram [o ex-ditador] Saddam [Hussein], mas aqueles que estão derrubando suas portas e se intrometendo entre suas mulheres e filhas", disse um funcionário do Departamento da Defesa -que não quis ser identificado pelo jornal nova-iorquino.
Ainda citando funcionários do departamento, a reportagem afirma que a perspectiva para a situação de segurança iraquiana é muito diferente daquela descrita pelo presidente George W. Bush e pelo secretário da Defesa, Donald Rumsfeld.
O governo dos EUA frequentemente atribui os ataques sofridos por suas tropas no Iraque a "simpatizantes do regime deposto" ou a "terroristas estrangeiros" que se infiltrariam pelas fronteiras do país, além de citar "criminosos iraquianos comuns".
Entretanto uma pesquisa recente feita por uma agência de inteligência do Departamento de Estado -cujo resultado é confidencial- mostraria um alto grau de hostilidade à presença americana no país, afirmaram os funcionários. Essa hostilidade se estenderia muito além do chamado "Triângulo Sunita", região a noroeste de Bagdá que concentra simpatizantes do regime deposto e tem sido palco frequente de ataques, chegando inclusive ao sul, onde a maioria da população é xiita e, no início da ocupação, mostrava maior receptividade às forças anglo-americanas.
Um oficial militar citado pelo jornal teria afirmado que, recentemente, as recompensas oferecidas no Iraque por ataques a soldados dos EUA subiram para até US$ 5.000.


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