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ALEMANHA VOTA
Tradicionalmente afeitos ao consenso, patrões e empregados alemães se opõem quanto à natureza de mudanças
Para sindicatos, reforma é imprescindível
DO ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
Sindicatos patronais e de trabalhadores alemães concordam que
diversas reformas são imprescindíveis para dinamizar a economia
do país. Todavia as medidas por
eles preconizadas divergem radicalmente. Os primeiros privilegiam a flexibilização do mercado
de trabalho, a redução das contribuições sociais etc. Os outros preferem um aumento das despesas
públicas, visando dar o impulso
primordial para que a economia
volte a ter um crescimento sustentável e apostando no lado social da economia de mercado.
O antagonismo lembra um clássico debate acadêmico entre economistas favoráveis e contrários
às políticas defendidas pelo britânico John Maynard Keynes (1883-1946) para combater a recessão.
Na Alemanha atual, no entanto, a
disputa opõe agentes socioeconômicos que, desde os anos 50, sempre procuraram soluções consensuais para suas diferenças: patrões e empregados.
Após o fim da Segunda Guerra,
a economia social de mercado
alemã -motivo de orgulho de
sua população até pouco tempo
atrás- encontra suas bases no
tão decantado "modelo alemão",
sistema no qual as classes patronal e trabalhadora, amparadas
pelo governo e por bancos (muitas vezes, estatais), procuram chegar a soluções de compromisso
para problemas que as afligem.
Desde as últimas eleições legislativas, porém, o modelo vem sendo
posto em xeque.
As pífias taxas de crescimento
apresentadas pela Alemanha desde a década de 90 -exceto em
2000, quando foi de 3%- estão
por trás da crise. Depois de três
anos de crescimento quase inexistente, o total de riquezas produzidas no país aumentou apenas
1,6% em 2004.
Para o patronato, o número que
faz soar o sinal de alarme é o de falências e de concordatas de empresas (sobretudo pequenas e
médias): entre 25 mil e 35 mil em
2005, segundo projeções. Para a
classe trabalhadora, por outro lado, o que incomoda é o desemprego, que atinge 4,7 milhões de
pessoas. Ou seja, 11,4% da mão-de-obra ativa da Alemanha.
"Os níveis de desemprego, que
se vêm mantendo elevados há
quase uma década, não serão reduzidos se não houver importantes investimentos governamentais diretos em nossa economia",
afirmou à Folha Markus Franz,
porta-voz da Federação dos Sindicatos Alemães.
Para ele, o governo do social-democrata Gerhard Schröder aplicou políticas nefastas à economia,
pois não privilegiou o poder de
compra dos trabalhadores. Estes,
segundo Franz, são os "agentes
socioeconômicos que darão novo
rumo à economia alemã por meio
de suas despesas cotidianas, que
serão mais altas e contribuirão
para reduzir o desemprego se o
poder aquisitivo da população for
fortalecido". Contudo ele considera a alternativa eleitoral a
Schröder, a conservadora Angela
Merkel, ainda pior. "Seu programa econômico é socialmente injusto e continuará a prejudicar a
demanda interna. Na realidade,
os trabalhadores não têm grandes
opções eleitorais na Alemanha
atual, pois sabemos que o Partido
da Esquerda prega medidas que,
embora sejam em parte positivas,
não têm como bancar", disse.
Martina Helmerich, do IG Metall, um dos maiores sindicatos da
Europa, vai mais longe. "A redução dos custos do trabalho proposta por Merkel só seria favorável aos empregadores. Precisamos de investimentos públicos
para fortalecer a demanda interna
e de menos "regras de mercado"
vindas de Bruxelas", afirmou, aludindo às diretivas da União Européia sobre a flexibilização do mercado de trabalho.
Sindicatos patronais
Já para os empregadores, é necessário "aliviar os custos que pesam sobre as empresas, que constituem os verdadeiros agentes do
crescimento" econômico. "Devemos aprofundar as reformas iniciadas por Schröder, que foram
relevantes. O problema dos social-democratas é que eles até fizeram algumas reformas importantes, mas não souberam explicá-las à população", apontou Volker Treier, da Câmara de Comércio e de Indústria Alemã.
"Somos contrários ao aumento
do imposto sobre o valor agregado proposto por Merkel, mas
acreditamos que, no geral, suas
propostas sejam mais adequadas
à situação atual da Alemanha.
Precisamos flexibilizar os mercados e reduzir seus custos se quisermos atrair investimentos externos", acrescentou Treier.
Já René Hagemann-Miksitis, da
Federação das Indústrias Alemãs,
ressaltou a necessidade de "investir em tecnologia de ponta para
que a Alemanha continue sendo
um dos Estados mais avançados"
do planeta. "Se os custos ligados
ao mercado de trabalho continuarem altos, nosso mercado interno
continuará a encolher gradativamente, e não haverá como voltar
atrás."
(MÁRCIO SENNE DE MORAES)
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