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Partido da Esquerda pode ser fiel da balança
DO ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
O Partido da Esquerda, que
nasceu em 17 de julho último para
permitir que os membros da
Wasg (Alternativa Eleitoral -
Trabalho e Justiça Social) fizessem parte de uma lista conjunta
com ex-comunistas da extinta
Alemanha Oriental, poderá ser o
fiel da balança nas eleições legislativas, hoje, na Alemanha.
Afinal, se os conservadores e os
liberais não conseguirem obter
mais de 50% das cadeiras do Bundestag, o bloco de centro-esquerda -que conta com o SPD (Partido Social-Democrata), do chanceler (premiê) Gerhard Schröder,
e com os Verdes- somente poderá ter a maioria se se aliar ao
Partido da Esquerda, de acordo
com as últimas pesquisas.
Este remonta ao SED (Partido
da Unidade Socialista da Alemanha), fundado em 1946, que governou a extinta Alemanha
Oriental até 1989, ano da queda do
Muro de Berlim. No início de
1990, depois da "revolução pacífica" que pôs fim à divisão da Alemanha, o SED transformou-se no
PDS (Partido do Socialismo Democrático), liderado pelo advogado e defensor dos direitos humanos Gregor Gysi, que também fora membro do SED.
Desde então, o PDS manteve
forte influência nos cinco Estados
do leste, mas teve dificuldade em
convencer o eleitorado do oeste
de sua intenção de participar normalmente do jogo político democrático, já que suas origens ficaram marcadas pelos mais de 40
anos em que esteve à frente do regime comunista do leste.
No pleito legislativo de 2002, o
PDS só conseguiu eleger dois parlamentares pela via direta, ficando com apenas 4,3% dos votos e,
portanto, abaixo dos 5% (ou três
deputados) exigidos pela lei para
que sua votação proporcional
também fosse levada em conta.
Para aproximar-se da Wasg, entretanto, o PDS mudou de nome,
e o recém-criado Partido da Esquerda tem chances reais de tornar-se a terceira força no Bundestag. Ambas as legendas pretendem, de acordo com seus líderes,
fundir-se numa só agremiação
em 2006 ou em 2007.
A Wasg, fundada neste ano, é
composta por membros da ala
mais esquerdista do SPD que decidiram deixar o partido de
Schröder por "discordar das políticas liberalizantes" do chanceler.
Seu principal líder é Oskar Lafontaine, ex-ministro das Finanças -afastado por Schröder no
início de seu primeiro mandato,
no final dos anos 90- e ex-presidente do SPD. O Partido da Esquerda defende o fim das reformas do mercado de trabalho, dos
serviços públicos de saúde e da
Previdência realizadas pela atual
coalizão governamental.
Como salientou o cientista político Ulrich von Alemann, da Universidade de Düsseldorf, porém, a
"plataforma do Partido da Esquerda não é factível" diante das
pressões externas que sofre a economia alemã. "Ante a globalização, que impõe uma dura concorrência externa à Alemanha, o programa do Partido da Esquerda
não tem como ser aplicado."
Para o socialista Dominique
Strauss-Kahn, ex-ministro da
Economia da França, a opção de
Lafontaine de unir-se a aos ex-comunistas é "populista". O ex-líder
social-democrata sabe que "suas
promessas não poderão ser cumpridas" e busca "minar a esquerda tradicional", disse o francês.
Mas é certo que elas poderão custar a Schröder a permanência no
poder e ao SPD vários assentos no
Bundestag.
(MSM)
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