São Paulo, domingo, 18 de setembro de 2005

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Partido da Esquerda pode ser fiel da balança

DO ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

O Partido da Esquerda, que nasceu em 17 de julho último para permitir que os membros da Wasg (Alternativa Eleitoral - Trabalho e Justiça Social) fizessem parte de uma lista conjunta com ex-comunistas da extinta Alemanha Oriental, poderá ser o fiel da balança nas eleições legislativas, hoje, na Alemanha.
Afinal, se os conservadores e os liberais não conseguirem obter mais de 50% das cadeiras do Bundestag, o bloco de centro-esquerda -que conta com o SPD (Partido Social-Democrata), do chanceler (premiê) Gerhard Schröder, e com os Verdes- somente poderá ter a maioria se se aliar ao Partido da Esquerda, de acordo com as últimas pesquisas.
Este remonta ao SED (Partido da Unidade Socialista da Alemanha), fundado em 1946, que governou a extinta Alemanha Oriental até 1989, ano da queda do Muro de Berlim. No início de 1990, depois da "revolução pacífica" que pôs fim à divisão da Alemanha, o SED transformou-se no PDS (Partido do Socialismo Democrático), liderado pelo advogado e defensor dos direitos humanos Gregor Gysi, que também fora membro do SED.
Desde então, o PDS manteve forte influência nos cinco Estados do leste, mas teve dificuldade em convencer o eleitorado do oeste de sua intenção de participar normalmente do jogo político democrático, já que suas origens ficaram marcadas pelos mais de 40 anos em que esteve à frente do regime comunista do leste.
No pleito legislativo de 2002, o PDS só conseguiu eleger dois parlamentares pela via direta, ficando com apenas 4,3% dos votos e, portanto, abaixo dos 5% (ou três deputados) exigidos pela lei para que sua votação proporcional também fosse levada em conta.
Para aproximar-se da Wasg, entretanto, o PDS mudou de nome, e o recém-criado Partido da Esquerda tem chances reais de tornar-se a terceira força no Bundestag. Ambas as legendas pretendem, de acordo com seus líderes, fundir-se numa só agremiação em 2006 ou em 2007.
A Wasg, fundada neste ano, é composta por membros da ala mais esquerdista do SPD que decidiram deixar o partido de Schröder por "discordar das políticas liberalizantes" do chanceler.
Seu principal líder é Oskar Lafontaine, ex-ministro das Finanças -afastado por Schröder no início de seu primeiro mandato, no final dos anos 90- e ex-presidente do SPD. O Partido da Esquerda defende o fim das reformas do mercado de trabalho, dos serviços públicos de saúde e da Previdência realizadas pela atual coalizão governamental.
Como salientou o cientista político Ulrich von Alemann, da Universidade de Düsseldorf, porém, a "plataforma do Partido da Esquerda não é factível" diante das pressões externas que sofre a economia alemã. "Ante a globalização, que impõe uma dura concorrência externa à Alemanha, o programa do Partido da Esquerda não tem como ser aplicado."
Para o socialista Dominique Strauss-Kahn, ex-ministro da Economia da França, a opção de Lafontaine de unir-se a aos ex-comunistas é "populista". O ex-líder social-democrata sabe que "suas promessas não poderão ser cumpridas" e busca "minar a esquerda tradicional", disse o francês. Mas é certo que elas poderão custar a Schröder a permanência no poder e ao SPD vários assentos no Bundestag. (MSM)

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