São Paulo, domingo, 18 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GUERRA SEM LIMITES

Reunidos em congresso sobre terror, especialistas prevêem cooptação de muçulmanos europeus para jihad

Europa teme refluxo e ação de terroristas treinados no Iraque

MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE HERZELIYA (ISRAEL)

Países da Europa ocidental temem que muçulmanos radicais que participam da insurgência no Iraque voltem ao continente treinados em técnicas de terrorismo urbano e atraiam membros das comunidades islâmicas locais para o jihad global.
"Entre os estrangeiros que participam da insurgência no Iraque, há aspirantes a jihadistas de diversos países membros da União Européia. Aqueles que voltarem para a Europa podem ter adquirido conhecimentos em guerra urbana que representam um perigo claro para a sociedade européia", disse Gijs de Vries, coordenador de combate ao terrorismo da UE.
"Muitos vão tentar explorar sua posição para incentivar a violência extremista nas comunidades islâmicas da Europa", disse De Vries durante conferência de quatro dias sobre o impacto do terrorismo, realizada em Herzeliya (Israel), com acadêmicos e autoridades de mais de 50 países.
A ameaça é vista com mais gravidade em países com comunidades islâmicas expressivas, como Reino Unido, Alemanha, Suécia, Holanda e França, sobretudo após os atentados executados por muçulmanos britânicos em Londres. A comunidade islâmica na Europa é estimada em 15 milhões.
"Não sabemos exatamente quantos muçulmanos europeus saíram. Não sabemos se um número significativo voltou ou voltará. Mas sabemos que um pequeno número pode executar ataques devastadores", disse Ernst Uhrlau, diretor de Coordenação de Inteligência do governo alemão.
Para Bruce Hoffman, diretor da organização de contraterrorismo Rand, dos EUA, considerado um dos maiores especialistas do assunto naquele país, os ex-combatentes no Iraque vão voltar para a Europa treinados e com experiência de combate em guerrilha urbana, seqüestros e execuções e procurar apoio local.
"Eles vão tentar recrutar jovens muçulmanos assimilados pelas culturas dos países", disse Hoffmann, que estima que 3.000 britânicos muçulmanos já tenham sido treinados pela Al Qaeda.
Não é só o conhecimento de ex-combatentes do Iraque que preocupa. Instruções para fabricar bombas caseiras e para deixar o maior número possível de vítimas estão disponíveis em sites.
"Hoje existe uma "Universidade Aberta do Jihad" na internet. Os radicais podem aprender não somente a fazer bombas, mas também a ideologia extremista", disse Reuven Paz, pesquisador de movimentos islâmicos do Centro Interdisciplinar de Herzeliya.
Outra preocupação da Europa é a adoção do mesmo tipo de violência extremista por jovens marginalizados pela sociedade. "Eles podem recorrer à violência, até mesmo a ataques suicidas, se não forem oferecidas alternativas sociais", disse o comissário de polícia de Londres James Hart.

Jurisprudência e preparo
Quanto ao uso de uso de armas não-convencionais por grupos islâmicos radicais, os debates concluíram que equipes médicas e pesquisadores conhecem o tema, mas que não há coordenação com lideranças políticas. "A questão sobre as armas de destruição em massa é "quando" e "onde'", disse Klaus Naumann, ex-presidente do Comitê Militar da Otan.
A tendência na Europa e nos EUA prevista para os próximos anos é de maior redução de liberdades civis pela segurança comum, revisão das convenções internacionais sobre guerras e criação de novas regras jurídicas adaptadas ao combate urbano.
"Os governos vão ter que encontrar o equilíbrio entre o combate efetivo ao terrorismo, os danos aos valores das sociedades e a legitimidade do poder", disse Boaz Ganor, do Instituto de Política Internacional de Contraterrorismo de Herzeliya (ICT).
Para Alan Dershowitz, da Faculdade de Direito da Universidade Harvard, enquanto em Israel as leis sobre terrorismo são decididas conforme a necessidade, outros países ainda não sabem como lidar com os dilemas de combate terroristas em meio à população. "Hoje não há jurisprudência sobre prevenção do terrorismo. Isso ainda levará tempo."


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Análise: Sobre o erro de reconstruir Nova Orleans
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.