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Bush foi alertado sobre danos de furacão em 2001
IURI DANTAS
DE WASHINGTON
Há pelo menos quatro anos o
governo George W. Bush tem conhecimento dos estragos que um
furacão superior à categoria três
poderia causar na costa do golfo
do México, no sudeste dos EUA, e
em especial nos Estados da Louisiana, do Mississippi e do Alabama -justamente os que foram
mais afetados pela passagem do
Katrina, de categoria quatro, no
final do mês passado.
Os alertas constam de relatórios
produzidos pelo escritório do governo americano para o aconselhamento científico, que já investiu mais de US$ 20 bilhões nos últimos 13 anos na realização de
pesquisas sobre o impacto das
mudanças climáticas no país.
"A inundação da costa por enchentes levadas por tempestades,
combinada à elevação do nível do
mar, irá muito provavelmente aumentar as ameaças aos sistemas
de água e esgoto, transportes e comunicação e às casas e outros prédios", afirma documento obtido
pela Folha. Segundo a explicação
técnica, o uso de "muito provavelmente" eqüivale a dizer que as
chances variam de 80% a 100%.
O relatório, que é intitulado
"Impactos da Mudança Climática
nos Estados Unidos", foi apresentado ao presidente americano e ao
Congresso tão logo ficou pronto,
mas acabou não originando nenhuma resposta significativa.
O documento condena também
a abordagem atual do problema e
diagnostica, por exemplo, que o
sistema de diques, utilizado para
proteger Nova Orleans do lago
Pontchartrain, não é adequado.
"Abordagens tradicionais como
diques, estruturas elevadas e gabarito predial não são mais adequados por si sós, particularmente na zona costeira, à medida em
que o nível do mar continua a elevar a probabilidade de inundações causadas por tempestades
em todas as áreas da costa do sudeste", assinala o relatório.
"O impacto do Katrina e a destruição que o furacão causou
eram assuntos bem conhecidos
há anos pelo governo federal. Os
diques não suportariam um furacão acima da categoria três. Nós
realizamos várias reuniões sobre
isso", afirma Anthony Janetos,
que é co-autor do relatório e trabalha atualmente como conselheiro do governo Bush para a
área de transportes.
Infra-estrutura
Ao comentar a previsibilidade
da destruição provocada pelo furacão Katrina, Janetos ressalta
que os problemas de infra-estrutura na região sudeste americana,
em especial na costa do golfo do
México, datam de décadas.
"As tubulações estão podres, velhas. Há trechos das estradas que
ficam inundados com chuvas fortes. Isso já vem de mais de trinta
anos", afirmou o especialista.
A categoria dos furacões é determinada com base na escala Saffir-Simpson, que varia de acordo
com a velocidade dos ventos.
A escala vai de um -com ventos mais leves, de cerca de 129
km/h- a cinco -com ventos de
mais de 250 km/h. O Katrina chegou a Nova Orleans no último dia
29 de agosto como um furacão da
categoria quatro.
Aquecimento global
Um dos fatores de vulnerabilidade da costa do golfo do México
às catástrofes naturais é o aquecimento global e a conseqüente elevação do nível do mar.
O conjunto de proteção natural
da costa, como bancos de corais e
ilhas, vem sendo devastado pela
ocupação do homem nessa região
americana há décadas.
"O sudeste é uma área propícia
a freqüentes desastres climáticos
naturais que afetam a vida humana e as propriedades. Quase metade dos desastres climáticos mais
caros do país nos últimos 20 anos
aconteceram no sudeste, custando à região mais de US$ 85 bilhões
em danos, muitos associados a
inundações e furacões", afirma o
texto do documento.
A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional classificou o
furacão Katrina como o mais destruidor a atingir o solo americano.
O total de perdas, segundo analistas, deverá ultrapassar os US$ 125
bilhões, sendo US$ 60 bilhões nas
mãos das seguradoras.
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