São Paulo, domingo, 18 de setembro de 2005

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Bush foi alertado sobre danos de furacão em 2001

IURI DANTAS
DE WASHINGTON

Há pelo menos quatro anos o governo George W. Bush tem conhecimento dos estragos que um furacão superior à categoria três poderia causar na costa do golfo do México, no sudeste dos EUA, e em especial nos Estados da Louisiana, do Mississippi e do Alabama -justamente os que foram mais afetados pela passagem do Katrina, de categoria quatro, no final do mês passado.
Os alertas constam de relatórios produzidos pelo escritório do governo americano para o aconselhamento científico, que já investiu mais de US$ 20 bilhões nos últimos 13 anos na realização de pesquisas sobre o impacto das mudanças climáticas no país.
"A inundação da costa por enchentes levadas por tempestades, combinada à elevação do nível do mar, irá muito provavelmente aumentar as ameaças aos sistemas de água e esgoto, transportes e comunicação e às casas e outros prédios", afirma documento obtido pela Folha. Segundo a explicação técnica, o uso de "muito provavelmente" eqüivale a dizer que as chances variam de 80% a 100%.
O relatório, que é intitulado "Impactos da Mudança Climática nos Estados Unidos", foi apresentado ao presidente americano e ao Congresso tão logo ficou pronto, mas acabou não originando nenhuma resposta significativa.
O documento condena também a abordagem atual do problema e diagnostica, por exemplo, que o sistema de diques, utilizado para proteger Nova Orleans do lago Pontchartrain, não é adequado.
"Abordagens tradicionais como diques, estruturas elevadas e gabarito predial não são mais adequados por si sós, particularmente na zona costeira, à medida em que o nível do mar continua a elevar a probabilidade de inundações causadas por tempestades em todas as áreas da costa do sudeste", assinala o relatório.
"O impacto do Katrina e a destruição que o furacão causou eram assuntos bem conhecidos há anos pelo governo federal. Os diques não suportariam um furacão acima da categoria três. Nós realizamos várias reuniões sobre isso", afirma Anthony Janetos, que é co-autor do relatório e trabalha atualmente como conselheiro do governo Bush para a área de transportes.

Infra-estrutura
Ao comentar a previsibilidade da destruição provocada pelo furacão Katrina, Janetos ressalta que os problemas de infra-estrutura na região sudeste americana, em especial na costa do golfo do México, datam de décadas.
"As tubulações estão podres, velhas. Há trechos das estradas que ficam inundados com chuvas fortes. Isso já vem de mais de trinta anos", afirmou o especialista.
A categoria dos furacões é determinada com base na escala Saffir-Simpson, que varia de acordo com a velocidade dos ventos.
A escala vai de um -com ventos mais leves, de cerca de 129 km/h- a cinco -com ventos de mais de 250 km/h. O Katrina chegou a Nova Orleans no último dia 29 de agosto como um furacão da categoria quatro.

Aquecimento global
Um dos fatores de vulnerabilidade da costa do golfo do México às catástrofes naturais é o aquecimento global e a conseqüente elevação do nível do mar.
O conjunto de proteção natural da costa, como bancos de corais e ilhas, vem sendo devastado pela ocupação do homem nessa região americana há décadas.
"O sudeste é uma área propícia a freqüentes desastres climáticos naturais que afetam a vida humana e as propriedades. Quase metade dos desastres climáticos mais caros do país nos últimos 20 anos aconteceram no sudeste, custando à região mais de US$ 85 bilhões em danos, muitos associados a inundações e furacões", afirma o texto do documento.
A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional classificou o furacão Katrina como o mais destruidor a atingir o solo americano. O total de perdas, segundo analistas, deverá ultrapassar os US$ 125 bilhões, sendo US$ 60 bilhões nas mãos das seguradoras.


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