São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2007

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Bagdá veta empresa de segurança americana

Responsável por proteger diplomatas, Blackwater matou dez civis; firmas não são sujeitas a leis de guerra

DA REDAÇÃO

O Iraque anunciou ontem a cassação da licença de funcionamento da Blackwater, empresa de segurança privada americana envolvida domingo num tiroteio que matou um policial e dez civis em Bagdá.
A empresa, que possui helicópteros, blindados e armas pesadas, opera em território iraquiano com um número desconhecido de agentes -ela e suas congêneres mantêm 48 mil homens no país- e é responsável pela segurança dos diplomatas dos Estados Unidos.
Esses milicianos, que não estão sujeitos aos tribunais ou à disciplina militares, integram um contingente bem maior de 180 mil funcionários de 630 empresas, que executam tarefas como transporte e cozinha, terceirizadas pelos EUA.
Já no domingo o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al Maliki, qualificou o incidente de "crime", e seu ministro do Interior, Jawad al Bolani, disse que o governo "não poderia ficar em silêncio". Os iraquianos se referem aos agentes da Blackwater como "mercenários" e criticam dispositivo baixado em 2004 pelas autoridades americanas de ocupação, recentemente revalidado, pelo qual funcionários de segurança privada não estão sujeitos à legislação local e não podem ser processados por abusos.
O ministro da Defesa, Abdul al Obaidi, disse que "esses criminosos que mataram inocentes deveriam ser punidos" e que o governo exigiria indenizações aos familiares das vítimas.

Comboio diplomático
O incidente de anteontem ocorreu no bairro sunita de Mansur. A passagem de um comboio com diplomatas americanos foi precedida a certa distância pela explosão de um carro-bomba. Os agentes privados passaram a disparar contra pedestres em fuga, alegando crer serem terroristas que montavam uma emboscada.
Porta-voz da embaixada americana disse que o comboio com diplomatas atravessava a praça Nisoor quando, em reação ao um carro-bomba, desencadeou-se um tiroteio. A versão omite o envolvimento da Blackwater e desconhece a existência de vítimas civis.
O porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, disse que seu país não havia sido oficialmente notificado da cassação da licença da Blackwater. Afirmou que a secretária Condoleezza Rice telefonaria ao premiê Maliki e afirmaria que os EUA investigariam o incidente. Ainda lamentou que "vidas inocentes" tenham sido sacrificadas.
A empresa de segurança, fundada em 1997 pelo católico conservador Erik Prince, tem um campo de treinamento na Carolina do Norte e recebe US$ 800 milhões para atuar no Iraque e no Afeganistão.
Robert Young Pelton, um dos muitos autores de livros sobre a Blackwater, disse à Associated Press que os agentes "usam metralhadoras como se fossem buzinas" e são conhecidos no Iraque por sua agressividade. Mas não matam por prazer.
Em dezembro do ano passado um agente da empresa, embriagado, atirou e matou um guarda-costas do vice-presidente Adel Abdul Mahdi. Ele foi repatriado sem ter sido julgado. Em maio último um segurança da empresa matou um motorista iraquiano, "suspeito" porque se aproximou de uma barreira próxima ao Ministério do Interior. Naquele mesmo mês, policiais envolvidos na segurança daquele ministério trocaram tiros com agentes da empresa privada.


Com agências internacionais


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