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Bagdá veta empresa de segurança americana
Responsável por proteger diplomatas, Blackwater matou dez civis; firmas não são sujeitas a leis de guerra
DA REDAÇÃO
O Iraque anunciou ontem a
cassação da licença de funcionamento da Blackwater, empresa de segurança privada
americana envolvida domingo
num tiroteio que matou um policial e dez civis em Bagdá.
A empresa, que possui helicópteros, blindados e armas pesadas, opera em território iraquiano com um número desconhecido de agentes -ela e suas
congêneres mantêm 48 mil homens no país- e é responsável
pela segurança dos diplomatas
dos Estados Unidos.
Esses milicianos, que não estão sujeitos aos tribunais ou à
disciplina militares, integram
um contingente bem maior de
180 mil funcionários de 630
empresas, que executam tarefas como transporte e cozinha,
terceirizadas pelos EUA.
Já no domingo o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al Maliki, qualificou o incidente de
"crime", e seu ministro do Interior, Jawad al Bolani, disse que
o governo "não poderia ficar
em silêncio". Os iraquianos se
referem aos agentes da Blackwater como "mercenários" e
criticam dispositivo baixado
em 2004 pelas autoridades
americanas de ocupação, recentemente revalidado, pelo
qual funcionários de segurança
privada não estão sujeitos à legislação local e não podem ser
processados por abusos.
O ministro da Defesa, Abdul
al Obaidi, disse que "esses criminosos que mataram inocentes deveriam ser punidos" e que
o governo exigiria indenizações
aos familiares das vítimas.
Comboio diplomático
O incidente de anteontem
ocorreu no bairro sunita de
Mansur. A passagem de um
comboio com diplomatas americanos foi precedida a certa
distância pela explosão de um
carro-bomba. Os agentes privados passaram a disparar contra
pedestres em fuga, alegando
crer serem terroristas que
montavam uma emboscada.
Porta-voz da embaixada
americana disse que o comboio
com diplomatas atravessava a
praça Nisoor quando, em reação ao um carro-bomba, desencadeou-se um tiroteio. A versão
omite o envolvimento da
Blackwater e desconhece a
existência de vítimas civis.
O porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, disse que seu país não
havia sido oficialmente notificado da cassação da licença da
Blackwater. Afirmou que a secretária Condoleezza Rice telefonaria ao premiê Maliki e afirmaria que os EUA investigariam o incidente. Ainda lamentou que "vidas inocentes" tenham sido sacrificadas.
A empresa de segurança, fundada em 1997 pelo católico conservador Erik Prince, tem um
campo de treinamento na Carolina do Norte e recebe US$
800 milhões para atuar no Iraque e no Afeganistão.
Robert Young Pelton, um dos
muitos autores de livros sobre a
Blackwater, disse à Associated
Press que os agentes "usam
metralhadoras como se fossem
buzinas" e são conhecidos no
Iraque por sua agressividade.
Mas não matam por prazer.
Em dezembro do ano passado um agente da empresa, embriagado, atirou e matou um
guarda-costas do vice-presidente Adel Abdul Mahdi. Ele
foi repatriado sem ter sido julgado. Em maio último um segurança da empresa matou um
motorista iraquiano, "suspeito" porque se aproximou de
uma barreira próxima ao Ministério do Interior. Naquele
mesmo mês, policiais envolvidos na segurança daquele ministério trocaram tiros com
agentes da empresa privada.
Com agências internacionais
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