São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2010 |
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CLÓVIS ROSSI Adeus a Lula, desafio a Dilma
A CÚPULA DO G20 em Seul, nos dias 11 e 12 de novembro, marcará a despedida de Luiz Inácio Lula da Silva e o início dos desafios para a sua sucessora, Dilma Rousseff (sucessora, claro, se as urnas confirmarem as pesquisas disponíveis). Um duplo desafio, aliás: de performance, hoje componente vital da diplomacia presidencial, e de enfoques econômicos. Explico melhor: Lula parece decidido a levar Dilma à cúpula para que ela faça sua primeira apresentação à sociedade internacional, no caso aos grandes do mundo. O G20, como se sabe, reúne os governantes das 21 maiores economias, mais FMI, União Europeia, Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio. É claro que o espetáculo maior será dado pelo próprio Lula, já que será seu último grande momento na arena internacional. Pelo depoimento de quem acompanha os bastidores do G20, o presidente brasileiro realmente impressiona seus pares. Embora monoglota, dirige-se a eles como se todos entendessem português. Mas acompanha-o sempre um intérprete impecável, chamado Sérgio Ferreira, que leva para o inglês as palavras de Lula -e conserva a atenção dos "companheiros" governantes ao que é hoje o decano do G20. Dilma não terá ainda participação destacada, por ser apenas presidenta eleita, mas sua performance nas conversas a que fatalmente será levada não pode ficar muito longe do padrão usual do padrinho. Agora, os desafios digamos técnicos. Há três grandes assuntos na pauta do G20: 1 - O debate entre austeridade fiscal versus manutenção/ampliação dos estímulos oficiais, para evitar que o mundo rico volte a cair em recessão ou tenha uma recuperação anêmica. O Brasil defende os estímulos, mas não é um tema essencial para o país. 2 - A discussão sobre o crescimento "equilibrado" no planeta, codinome para atacar o câmbio chinês, excessivamente desvalorizado. Aqui, sim, o Brasil tem algo a dizer: o ministro Guido Mantega já reclamou do valor do yuan e, agora, fala, no plural, das desvalorizações de moedas. O que o governo Dilma tem a dizer a respeito? 3 - A batalha por voz e voto no FMI. Parecia vencida, quando, na cúpula de Pittsburgh (EUA), há um ano, o G20 decidira um aumento de 5 pontos percentuais nas cotas dos países emergentes, que sairia dos países ricos sobrerrepresentados (leia-se Europa). Era o que queria o Brasil. Acontece que, depois de Pittsburgh, o jogo se encaminhou para tirar peso também de países emergentes, chamados de "não dinâmicos", tais como Arábia Saudita e Argentina. Se isso acontecer, a distribuição de poder continuará distorcida (hoje é de 60,5% para os desenvolvidos e o resto para os emergentes). Lula foi um leão nessa batalha, o que não deixa a Dilma outra alternativa que não seja lutar com o mesmo afinco. Mas o resultado não está definido e, seja qual for, acabará caindo na conta da nova gestão. Texto Anterior: Papa critica marginalização do cristianismo Próximo Texto: Eleição afegã tem recorde de candidatas Índice | Comunicar Erros |
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