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ANÁLISE
Quem fica e quem sai se Bush for reeleito
DAVID E. SANGER
DO "NEW YORK TIMES"
A 15 dias da eleição, Washington está se consumindo
em dois jogos. Um é óbvio, e
dele emana todo poder, emprego e influência: se será George
W. Bush ou John Kerry a ocupar o Salão Oval em janeiro.
Mas daí há a constante especulação, ouvida durante o almoço nos prédios ao redor da
Casa Branca: se o presidente
ainda for Bush, seria o segundo
mandato marcado por ataques
preventivos e unilateralismo
em luvas de seda ou pela construção de alianças de que Bush
falou nos três debates?
A pergunta mistifica mesmo
os "insiders", já que a resposta
influencia quem ficaria em um
segundo mandato Bush.
Há Donald Rumsfeld, uma
vez chamado de "estrela do
rock" pelo presidente, cuja audaciosa defesa de uma América
forte e robusta transformou-o
na voz do ataque preventivo e
no homem que ofendeu o Velho Continente.
Há Condoleezza Rice no
Conselho de Segurança Nacional, com o vocabulário realista
do interesse nacional, que assumiu para tomar de Rumsfeld a
coordenação da política do Iraque mas que foi acusada de ter
sido insuficientemente cética
sobre as informações que alimentaram o impulso à guerra.
E há o moderado da casa, Colin Powell, que como secretário
de Estado perdeu muitas batalhas, mas começou a ganhar algumas, sobre como lidar com a
Coréia do Norte e o Irã e como
reconstruir a ponte queimada
com os aliados.
Richard Haass, presidente do
Conselho de Relações Exteriores que deixou o Departamento de Estado em 2003 cansado
de perder batalhas políticas,
disse que "a campanha tem sugerido que haverá mais continuidade", mas pediu para ouvir com cautela idéias ditas no
vale-tudo do esforço eleitoral.
As especulações -algumas
bem-informadas, outras plantadas por pessoas com suas
próprias agendas- são assim:
"Rumsfeld é a chave para a
coisa toda", disse um alto funcionário do governo. Se ele
cair, deixará muitos lugares vazios no tabuleiro. Uma possibilidade é que o Pentágono deixe
de ser a base dos neoconservadores e abutres que pressionaram pela invasão do Iraque.
A maior suspeita, porém, é
que Rumsfeld não queira ir para lugar nenhum. Sair agora,
segundo seus auxiliares, pareceria aceitar a culpa por Abu
Ghraib e a falha em monitorar
as técnicas de interrogatório
usadas por oficiais do Afeganistão ao Iraque.
Se ele sair, porém, uma teoria
é que seria substituído por Rice, com quem freqüentemente
se chocou. Isso sinalizaria uma
mudança significativa. Foi Rice
quem exortou Rumsfeld, há
mais de um ano, a prestar atenção no tratamento dado aos detentos. E foi Rice, em nome do
presidente, quem criou o Grupo de Estabilização do Iraque
na Casa Branca, para assumir o
comando de uma ocupação
que dava errado.
No Departamento de Estado,
a hipótese principal é que Powell se cansou das disputas internas. Seus amigos dizem que
há uma chance de 20% de que
ele fique. Um deles chamou-o
de "eterno otimista", esperançoso de que, com o fim da campanha, poderá retomar as negociações de paz no Oriente
Médio ou trazer os aliados asiáticos para negociar com a Coréia do Norte. Ele estaria especialmente tentado a ficar se
Rumsfeld sair.
Se Powell sair, Bush poderia
escolher um velho amigo, como o secretário de Comércio,
Don Evans. Tom Ridge, o secretário de Segurança Interna,
seria outro candidato. Nenhum dos dois desafiaria a Casa Branca. E há Rice, que em
entrevista recente deu uma lista de suas conquistas diplomáticas além da guerra ao terror.
O principal cargo a observar
é o de assessor de segurança
nacional. Rice pode ficar se
Bush pressionar. Mas sua vaga
pode ir para seu vice, o advogado Stephen Hadley.
Mas até a manhã depois da
eleição, isso tudo é só especulação. "Honestamente, posso fazer uma previsão mais confiável de como seria a política externa de John Kerry do que a
nossa própria", disse um alto
funcionário americano.
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