São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2004

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ANÁLISE

Quem fica e quem sai se Bush for reeleito

DAVID E. SANGER
DO "NEW YORK TIMES"

A 15 dias da eleição, Washington está se consumindo em dois jogos. Um é óbvio, e dele emana todo poder, emprego e influência: se será George W. Bush ou John Kerry a ocupar o Salão Oval em janeiro.
Mas daí há a constante especulação, ouvida durante o almoço nos prédios ao redor da Casa Branca: se o presidente ainda for Bush, seria o segundo mandato marcado por ataques preventivos e unilateralismo em luvas de seda ou pela construção de alianças de que Bush falou nos três debates?
A pergunta mistifica mesmo os "insiders", já que a resposta influencia quem ficaria em um segundo mandato Bush.
Há Donald Rumsfeld, uma vez chamado de "estrela do rock" pelo presidente, cuja audaciosa defesa de uma América forte e robusta transformou-o na voz do ataque preventivo e no homem que ofendeu o Velho Continente.
Há Condoleezza Rice no Conselho de Segurança Nacional, com o vocabulário realista do interesse nacional, que assumiu para tomar de Rumsfeld a coordenação da política do Iraque mas que foi acusada de ter sido insuficientemente cética sobre as informações que alimentaram o impulso à guerra.
E há o moderado da casa, Colin Powell, que como secretário de Estado perdeu muitas batalhas, mas começou a ganhar algumas, sobre como lidar com a Coréia do Norte e o Irã e como reconstruir a ponte queimada com os aliados.
Richard Haass, presidente do Conselho de Relações Exteriores que deixou o Departamento de Estado em 2003 cansado de perder batalhas políticas, disse que "a campanha tem sugerido que haverá mais continuidade", mas pediu para ouvir com cautela idéias ditas no vale-tudo do esforço eleitoral.
As especulações -algumas bem-informadas, outras plantadas por pessoas com suas próprias agendas- são assim:
"Rumsfeld é a chave para a coisa toda", disse um alto funcionário do governo. Se ele cair, deixará muitos lugares vazios no tabuleiro. Uma possibilidade é que o Pentágono deixe de ser a base dos neoconservadores e abutres que pressionaram pela invasão do Iraque.
A maior suspeita, porém, é que Rumsfeld não queira ir para lugar nenhum. Sair agora, segundo seus auxiliares, pareceria aceitar a culpa por Abu Ghraib e a falha em monitorar as técnicas de interrogatório usadas por oficiais do Afeganistão ao Iraque.
Se ele sair, porém, uma teoria é que seria substituído por Rice, com quem freqüentemente se chocou. Isso sinalizaria uma mudança significativa. Foi Rice quem exortou Rumsfeld, há mais de um ano, a prestar atenção no tratamento dado aos detentos. E foi Rice, em nome do presidente, quem criou o Grupo de Estabilização do Iraque na Casa Branca, para assumir o comando de uma ocupação que dava errado.
No Departamento de Estado, a hipótese principal é que Powell se cansou das disputas internas. Seus amigos dizem que há uma chance de 20% de que ele fique. Um deles chamou-o de "eterno otimista", esperançoso de que, com o fim da campanha, poderá retomar as negociações de paz no Oriente Médio ou trazer os aliados asiáticos para negociar com a Coréia do Norte. Ele estaria especialmente tentado a ficar se Rumsfeld sair.
Se Powell sair, Bush poderia escolher um velho amigo, como o secretário de Comércio, Don Evans. Tom Ridge, o secretário de Segurança Interna, seria outro candidato. Nenhum dos dois desafiaria a Casa Branca. E há Rice, que em entrevista recente deu uma lista de suas conquistas diplomáticas além da guerra ao terror.
O principal cargo a observar é o de assessor de segurança nacional. Rice pode ficar se Bush pressionar. Mas sua vaga pode ir para seu vice, o advogado Stephen Hadley.
Mas até a manhã depois da eleição, isso tudo é só especulação. "Honestamente, posso fazer uma previsão mais confiável de como seria a política externa de John Kerry do que a nossa própria", disse um alto funcionário americano.


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