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SUCESSÃO NOS EUA / FILME QUEIMADO
Longa sobre presidente estréia com polêmica
"W.", de Oliver Stone, usa livros-reportagem para fazer biografia dramatizada de Bush
"Ninguém me procurou", reclamou Jeb Bush, irmão do republicano, que chamou aspectos do filme do diretor de "JFK" e "Nixon" de porcaria
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
George W. Bush luta com todas as armas que ainda restam
e o pouco tempo que sobra a
sua Presidência para não entrar para a história apenas como aquele que deixará a seu sucessor não só a pior crise financeira das últimas décadas como
duas guerras em andamento.
Pois o filme "W.", cinebiografia dirigida por Oliver Stone
que estreou ontem nos EUA,
não ajudará seu legado. Com
foco na Guerra do Iraque, o longa pinta um retrato de um presidente despreparado que, movido por convicção religiosa e
desejo de se livrar da sombra do
pai, leva o país e o mundo a um
dos conflitos mais equivocados
da história recente.
Seria só mais uma crítica a
Bush, não fosse o diretor uma
voz ativa -polêmica e progressista, mas ativa- na discussão
política norte-americana. Stone já mirou as lentes em outros
dois presidentes americanos:
"JFK", sobre o processo que se
seguiu ao assassinato do democrata em 1963, e "Nixon", sobre
o processo que levou à renúncia
do republicano em 1974.
A repercussão em torno do
primeiro levou uma comissão
do Congresso a reexaminar as
circunstâncias do crime. É pouco provável que algo tão dramático aconteça com "W.", pois os
fatos não são inéditos e foram
retirados, segundo Stone, de
importantes livros de não-ficção -como a série do jornalista
Bob Woodward sobre Bush.
Ainda assim, a obra já causa
barulho. Jeb Bush, irmão do
presidente, disse anteontem
que a relação Bush pai-Bush filho tal como descrita no filme
"não passa de uma porcaria de
primeira qualidade". Reclamou
ainda que ninguém o contatou
para entrevistas prévias.
Em "W.", o ex-governador da
Flórida é retratado como a primeira opção do clã para continuar a linhagem de políticos, e
a eleição de seu irmão como governador do Texas é recebida
quase como um acidente. Stone
se defendeu dizendo que era
um retrato "justo e equilibrado" sobre a família.
Na pré-estréia, o diretor
agradeceu "aos jornalistas investigativos". "Muitos deles
trabalharam muito, e esse primeiro rascunho que fizeram foi
a base a partir da qual simplificamos e condensamos para fazer esse filme."
Seu longa é uma obra de ficção e abusa das liberdades do
gênero, como entrar na cabeça
do presidente ao tentar justificar atos que permanecem insuficientemente justificados. É a
parte mais dispensável. O melhor é a maneira com que apresenta os fatos relatados em tais
livros e reportagens.
Empacotados num roteiro
bem-feito, surpreendem ao relembrar o espectador a sucessão de desmandos, falta de comunicação e ligeireza que cercou a Guerra do Iraque.
A julgar por "W.", a história
não será grata com o presidente. Mas, como o Bush real disse
e o Bush ficcional (o ator Josh
Brolin, em grande atuação) repete no filme: "História? Todos
nós já estaremos mortos".
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