São Paulo, sábado, 18 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SUCESSÃO NOS EUA / FILME QUEIMADO

Longa sobre presidente estréia com polêmica

"W.", de Oliver Stone, usa livros-reportagem para fazer biografia dramatizada de Bush

"Ninguém me procurou", reclamou Jeb Bush, irmão do republicano, que chamou aspectos do filme do diretor de "JFK" e "Nixon" de porcaria

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

George W. Bush luta com todas as armas que ainda restam e o pouco tempo que sobra a sua Presidência para não entrar para a história apenas como aquele que deixará a seu sucessor não só a pior crise financeira das últimas décadas como duas guerras em andamento.
Pois o filme "W.", cinebiografia dirigida por Oliver Stone que estreou ontem nos EUA, não ajudará seu legado. Com foco na Guerra do Iraque, o longa pinta um retrato de um presidente despreparado que, movido por convicção religiosa e desejo de se livrar da sombra do pai, leva o país e o mundo a um dos conflitos mais equivocados da história recente.
Seria só mais uma crítica a Bush, não fosse o diretor uma voz ativa -polêmica e progressista, mas ativa- na discussão política norte-americana. Stone já mirou as lentes em outros dois presidentes americanos: "JFK", sobre o processo que se seguiu ao assassinato do democrata em 1963, e "Nixon", sobre o processo que levou à renúncia do republicano em 1974.
A repercussão em torno do primeiro levou uma comissão do Congresso a reexaminar as circunstâncias do crime. É pouco provável que algo tão dramático aconteça com "W.", pois os fatos não são inéditos e foram retirados, segundo Stone, de importantes livros de não-ficção -como a série do jornalista Bob Woodward sobre Bush.
Ainda assim, a obra já causa barulho. Jeb Bush, irmão do presidente, disse anteontem que a relação Bush pai-Bush filho tal como descrita no filme "não passa de uma porcaria de primeira qualidade". Reclamou ainda que ninguém o contatou para entrevistas prévias.
Em "W.", o ex-governador da Flórida é retratado como a primeira opção do clã para continuar a linhagem de políticos, e a eleição de seu irmão como governador do Texas é recebida quase como um acidente. Stone se defendeu dizendo que era um retrato "justo e equilibrado" sobre a família.
Na pré-estréia, o diretor agradeceu "aos jornalistas investigativos". "Muitos deles trabalharam muito, e esse primeiro rascunho que fizeram foi a base a partir da qual simplificamos e condensamos para fazer esse filme."
Seu longa é uma obra de ficção e abusa das liberdades do gênero, como entrar na cabeça do presidente ao tentar justificar atos que permanecem insuficientemente justificados. É a parte mais dispensável. O melhor é a maneira com que apresenta os fatos relatados em tais livros e reportagens.
Empacotados num roteiro bem-feito, surpreendem ao relembrar o espectador a sucessão de desmandos, falta de comunicação e ligeireza que cercou a Guerra do Iraque.
A julgar por "W.", a história não será grata com o presidente. Mas, como o Bush real disse e o Bush ficcional (o ator Josh Brolin, em grande atuação) repete no filme: "História? Todos nós já estaremos mortos".


Texto Anterior: Iraque: Bagdá e Washington estão próximos de acordo, diz "NYT"
Próximo Texto: Pós-olimpíada: China manterá regra de mídia mais flexível
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.