São Paulo, sábado, 18 de outubro de 2008

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Tensão leva cristãos indianos a conversão

Aumento de perseguições provoca adesões ao hinduísmo; premiê alerta para risco à integridade nacional

DA REDAÇÃO

O recrudescimento das tensões entre hindus e cristãos no leste da Índia está levando centenas a se converter ao hinduísmo, religião largamente majoritária no país. O agravamento da situação levou o premiê Manmohan Singh a alertar, na última segunda, que a violência religiosa é um risco à integridade nacional e ameaça os "valores fundamentais" do país.
Segundo a agência oficial IANS, o caso mais grave é no Estado de Orissa, onde pelo menos 36 pessoas morreram e 2.400 casas e 120 igrejas foram parcial ou totalmente destruídos desde o final de agosto, quando a morte de um líder hindu desencadeou a onda de violência contra os cristãos. Estima-se em mais de 600 os já convertidos ao hinduísmo.
Há ainda registros de violência em outros Estados, e centenas de mortes por toda a Índia nos últimos meses são atribuídas a motivações religiosas. No mosaico religioso, étnico, lingüístico e de castas indiano, 80% dos cerca de 1,1 bilhão de habitantes são hindus; 14%, muçulmanos; e 2,4%, cristãos.
Considerada a maior democracia do mundo, a Índia, desde a sua independência, em 1947, preserva o laicismo como condição para a integridade nacional, e a perseguição à minoria cristã levou, inclusive, o papa Bento 16 e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, a condenar a violência religiosa no país. Mas há também crescentes tensões entre hindus e muçulmanos.
A histórica rivalidade entre as duas principais religiões do país -que também opõe a Índia ao Paquistão na região da Caxemira- acentuou-se a partir dos últimos ataques a bomba em grandes cidades indianas, como os de Ahmedabad, em julho, e da capital Nova Déli, em setembro, reivindicados por extremistas islâmicos.
Singh atribuiu o aumento da violência a motivações políticas relacionadas às eleições legislativas de 2009. "Precisamos considerar até onde interesses políticos estão levando alguns de nós a encorajar forças desintegradoras", disse o premiê em encontro com chefes de governo dos 26 Estados indianos no Conselho de Integração Nacional, o primeiro desde 2005.
"A violência parece estar permeando a sociedade atualmente por todo o nosso país, seja a violência terrorista, seja a violência comunitária ou de motivação ideológica, como a adotada por radicais esquerdistas", disse Singh, em referência às guerrilhas maoístas. "Um ambiente de ódio e violência está sendo artificialmente criado."
A cena política indiana para as eleições legislativas de 2009 obriga o governista Partido do Congresso, de Singh, a se equilibrar entre a demanda das minorias religiosas pela preservação do laicismo e a da maioria hindu pela repressão ao extremismo islâmico. Muçulmanos queixam-se de perseguição.
O partido nacionalista hindu Bharatiya Janata, que governou o país entre 1998 e 2004, fatura politicamente com a radicalização e rouba terreno do governismo na medida em que Singh e o Partido do Congresso -liderado pela católica Sonia Gandhi- acenam às minorias étnicas e religiosas. As eleições ainda não têm data marcada, mas devem ocorrer até maio.
Nova Déli obteve recentemente a sua maior vitória política com a aprovação pelo Congresso americano do polêmico acordo de cooperação nuclear civil, mas enfrenta incertezas econômicas para 2009.

Com o "Financial Times" e agências internacionais



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