São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Washington teme ataques em retaliação a guerra contra Bagdá

EUA monitoram iraquianos no país

DAVID JOHNSTON
DON VAN NATTA JR.
DO "THE NEW YORK TIMES"

O governo Bush começou a monitorar iraquianos que vivem nos EUA em um esforço para identificar ameaças terroristas domésticas representadas por simpatizantes do regime de Bagdá, disseram autoridades do governo.
O programa de inteligência envolve o rastreamento de milhares de cidadãos iraquianos e iraquiano-americanos com dupla cidadania que estudam nos EUA ou trabalham em empresas privadas, que podem representar riscos numa guerra contra o Iraque.
Alguns alvos da operação estão sendo monitorados eletronicamente, com mandados de segurança nacional. Outros estão sendo selecionados para serem recrutados como informantes. Em caso de uma invasão do Iraque, a missão seria intensificada com a detenção de iraquianos e simpatizantes suspeitos de planejar ações terroristas domésticas.
Os funcionários do governo que confirmaram as linhas gerais do programa o fizeram em uma aparente tentativa de responder a críticas de que as agências de inteligência norte-americanas estão falhando na guerra contra o terror.
Gordon Johndroe, porta-voz do Escritório de Segurança Interna da Casa Branca, não quis comentar o programa de vigilância.
Autoridades federais pretendem iniciar entrevistas -voluntárias- com árabes-americanos na próxima semana, pedindo-lhes para relatar qualquer atividade suspeita relacionada ao Iraque.
O esforço das agências de inteligência, especialmente o FBI, para fortalecer seus programas antiterror ocorrem em um momento de sérias discussões sobre a criação de um órgão como o MI-5, agência britânica que coleta informações sobre ameaças internas.
Funcionários de contraterrorismo do governo Bush se encontraram em uma reunião, dirigida por Condoleezza Rice, a assessora para assuntos de segurança nacional de George W. Bush, para discutir a retirada das responsabilidades sobre a segurança interna do FBI. Ninguém até agora propôs formalmente a criação de uma agência de inteligência doméstica.
Outra parte da nova operação de inteligência irá avaliar se o governo do ditador Saddam Hussein se envolveu em alguma ação que poderia ameaçar interesses americanos no país ou no exterior. Também será traçada a movimentação de dinheiro do governo iraquiano e de organizações simpáticas a Saddam.

Exemplo da Guerra do Golfo
A operação recorre à experiência de um programa de menor escala realizado durante a Guerra do Golfo, quando o FBI e o Serviço de Imigração e Naturalização dos EUA conduziram entrevistas e investigaram iraquianos e árabes-americanos.
Um grande número de agências participam da nova operação, incluindo o Pentágono, o FBI, a CIA, o Serviço de Imigração, o Departamento de Estado e a Agência de Segurança Nacional. A operação também intensificaria o monitoramento do serviço de inteligência estrangeiro do Iraque, que acreditam operar sob cobertura diplomática da missão iraquiana na ONU. "Este é o maior e mais agressivo programa desse tipo que já tivemos", disse um alto funcionário do governo.
O senador democrata Bob Graham, presidente do Comitê de Inteligência do Senado, disse na semana passada que as agências de inteligência falharam na avaliação da amplitude total das ameaças que podem se originar de uma guerra com o Iraque.
Analistas disseram que durante anos as autoridades rastrearam o movimento de grupos militantes islâmicos nos EUA envolvidos em arrecadação ou atividades criminais. Mas membros da Al Qaeda viviam calmamente e, com algumas exceções, não violaram a lei. O senador disse que o FBI não conseguiu providenciar informações sobre grupos militantes islâmicos com presença nos EUA.
Autoridades dizem que o serviço de inteligência iraquiano aprendeu com as falhas em atividades terroristas durante a Guerra do Golfo. Após a guerra, Bagdá executou mal uma tentativa de assassinar o ex-presidente George Bush durante visita ao Kuwait em 1993, o que resultou em um ataque contra o quartel-general da inteligência iraquiana em Bagdá.



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