São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2007

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Chavista anti-reforma definirá referendo

40% dos que apóiam Chávez são contra mudanças na Carta, diz pesquisador, mas ainda preferem se abster a "trair" presidente

Entre venezuelanos que afirmam que votarão no próximo dia 2, "sim" ganha por pouco; oposição hesita em convocar às urnas

DE CARACAS

Conhecido por sua capacidade de mobilizar o eleitorado em campanhas anteriores, o presidente Hugo Chávez tem agora a abstenção como o principal aliado para vencer o referendo sobre a reforma constitucional, daqui a duas semanas, revelam pesquisas de opinião.
Segundo o levantamento da empresa Hinterlaces, 55% das pessoas acham que a reforma prejudica o país e obedece a um "interesse pessoal" de Chávez. Na intenção de voto, apenas 31% optariam pela aprovação, contra 45% que rejeitariam a proposta -os demais 24% não sabem ou não responderam.
Mas Chávez leva vantagem -ainda que dentro da margem de erro- quando se examina a inclinação dos que estão decididos a comparecer às urnas na Venezuela, país onde o voto não é obrigatório.
Dentro do universo dos que disseram que votarão (61% do total), 45% optaram pelo "sim" e 43% escolheram o "não", um empate técnico -a margem de erro é de quatro pontos percentuais, para cima ou para baixo. O Hinterlaces entrevistou 1.113 pessoas por telefone em 13 dos 24 Estados venezuelanos entre os últimos dias 6 e 9.
O projeto de reforma constitucional, que será votado em 2 de dezembro, prevê a reeleição indefinida para presidente, aumenta as atribuições do Poder Executivo e concede benefícios sociais, como a redução da jornada de trabalho.

Limbo
O diretor do instituto Datanálisis, Luis Vicente León, tem estimativas mais favoráveis a Chávez. Com base em sua última pesquisa, calcula que a reforma constitucional seria aprovada hoje com 60%.
Apesar da reticência de parte da oposição em fazer campanha pelo voto, paradoxalmente a maior tendência à abstenção está entre os chavistas que rejeitam a reforma, segundo León. "Sessenta por cento dos chavistas dizem que vão votar, mas outros 40% dizem que não votarão porque preferem o "não". Então a abstenção do "não" é por causa dos chavistas. Não é o antichavista que não votará", disse à Folha.
"As pessoas ficam como num limbo: "Não gosto da reforma, mas gosto do Chávez. Não sou traidor, prefiro não votar"."
Para o diretor do Datanálisis, a tarefa da oposição seria convencer os chavistas contrários à reforma a votar. "Esse chavista é indispensável para o "não" ganhar. Se a oposição não convencê-los, não poderá ganhar."
O problema é que não há consenso entre as forças oposicionistas. Os ruidosos líderes estudantis, por exemplo, até hoje não defenderam o comparecimento às urnas e exigem adiar o referendo para 2008. Entre os que chamaram ao voto se destacam o governador de Zulia, Manuel Rosales, segundo colocado nas eleições presidenciais de dezembro, e o ex-ministro da Defesa Raúl Isaías Baduel, recém-rompido com Chávez. (FABIANO MAISONNAVE)


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