São Paulo, quarta-feira, 18 de novembro de 2009

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Chefe de polícia de Buenos Aires é demitido

Juiz responsável pela investigação não descarta hipótese de Cristina e Néstor Kirchner terem sido alvo de espionagem

Armazenamento de dados financeiros de políticos em computador pessoal derruba 2º indicado para chefia de força que ainda não opera


SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

O chefe da recém-criada Polícia Metropolitana de Buenos Aires, Osvaldo Chamorro, foi demitido ontem, em consequência de um escândalo que envolve a suspeita de espionagem à presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e ao seu marido, o ex-presidente e deputado eleito Néstor Kirchner.
O juiz federal Norberto Oyarbide comprovou que Chamorro armazenava em seu computador pessoal dados financeiros de diversos legisladores com afinidade aos temas de segurança pública bem como de membros do governo portenho, incluindo o chefe de gabinete do prefeito Mauricio Macri, Horacio Larreta.
Chamorro estava envolvido também nos pedidos à Justiça de escuta telefônica de diversos políticos e empresários argentinos. Os pedidos partiam de acusações falsas de participação dos "grampeados" em crimes e eram deferidos por dois juízes do interior do país.
O juiz afirmou que a hipótese de o casal presidencial ter sido alvo do pente fino de Chamorro ainda não foi comprovada.
Ao anunciar a demissão do policial, o secretário de Segurança e Justiça de Buenos Aires, Guillermo Montenegro, disse que seus atos não configuram espionagem. "Não é ilegal [o arquivamento de dados], porque é informação pública, mas nos parece que não é ético", afirmou. Macri estava ontem em viagem à Espanha, de onde determinou a demissão.
Chamorro é o segundo chefe designado pelo prefeito para a Polícia Metropolitana a ser afastado sob suspeita de atos ilegais, antes mesmo de a força policial entrar em operação.
O policial estava sendo investigado como elo no processo que envolve seu antecessor, Jorge Palacios, demitido do cargo acusado de envolvimento em grampo ilegal contra um ativista do caso Amia -atentado terrorista à sede da associação judaica, com 85 vítimas, em 1994, em Buenos Aires.
Palacios, ex-policial federal, é suspeito de ocultar provas do caso. Ontem, sua prisão foi pedida a Oyarbide, com base na acusação de escuta ilegal.
A Polícia Metropolitana do conservador Macri, adversário político dos Kirchner, deveria entrar em funcionamento em outubro passado, com 800 agentes, o que não ocorreu.
Num contexto de incremento de protestos de trabalhadores em Buenos Aires, a nova força policial foi interpretada como "tropa de choque" de Macri para reprimir os piquetes que frequentemente interrompem o trânsito na cidade.
Após a demissão de Palacios, Chamorro ficou interinamente em seu lugar. O plano de Macri era empossar Eugenio Burzaco na chefia da polícia, assim que ele conclua seu mandato como deputado, no próximo dia 10. Nessa data, Chamorro passaria a ser seu vice.


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