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São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 2003

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Vítimas iraquianas culpam os EUA por ataques

IAN FISHER
DO "NEW YORK TIMES", EM BAGDÁ

A bomba foi preparada para matar soldados americanos, mas, de novo, atingiu iraquianos. Destinada a atingir dois veículos militares que passavam, a explosão no mês passado acertou em cheio um ônibus no leste de Bagdá, matando três passageiros. Haider Kassim, 11, se arrastou da carnificina com uma perna estraçalhada por um pedaço de projétil. Mas ele se recusou a ser atendido até que sua mãe e sua tia, ambas muito mais machucadas, fossem medicadas.
Cada vez mais, os iraquianos são vítimas deste novo estágio da guerra, que continua mesmo com a captura do ex-ditador Saddam Hussein. As emoções que estão aflorando não são simples.
O pai de Haider, Aziz, 43, orgulhoso da bravura do menino, elogiou também os americanos por livrar o Iraque de Saddam. Mas ele disse que sua família nunca teria se ferido se os americanos tivessem ficado em casa -e que, mesmo se ele soubesse quem lançou aquela bomba, não contaria aos americanos.
"Não quero cooperar com os americanos", disse Aziz no hospital Al Kindi, onde seu filho, sua mulher e sua irmã se recuperam. "Eles são ocupantes."
Os iraquianos não parecem culpar os EUA diretamente pela insurgência que tem matado e mutilado iraquianos, intencionalmente ou em explosões em que inocentes se ferem.
Mas entrevistas com essas novas vítimas, seus familiares e pessoas próximas parecem confirmar preocupações de alguns funcionários americanos de que a tática dos insurgentes está erodindo a confiança na missão americana no país, apesar de os autores dos ataques serem na maioria leais a Saddam e odiados pela maioria dos iraquianos.
"Meu povo está matando meu povo. Isso me deixa muito furioso", disse Rend Abdullah, um farmacêutico que prestou socorro em ações que deixaram vários iraquianos feridos por ataques recentes. "A paz nesse país é tarefa dos americanos. Eles têm uma responsabilidade conosco agora."
Essa dinâmica -raiva contra os EUA por ações de outros- não é surpresa para o Exército americano, que afirma que os insurgentes passaram a atacar iraquianos, alvos mais fáceis porque a segurança em torno dos soldados americanos aumentou.
Os insurgentes assassinaram políticos e policiais por serem "colaboradores", balearam iraquianos dirigindo caminhões para os militares e explodiram bombas em ruas movimentadas.
Não há estatísticas oficiais sobre o número de iraquianos mortos e feridos por outros iraquianos, mas o número de ataques desse tipo havia duplicado antes da prisão de Saddam. Durante o mês sagrado do Ramadã, que praticamente coincidiu com novembro, houve 74 ações contra civis e 82 contra forças de segurança iraquianas. Os militares não responderam a pedidos de informação sobre ataques mais recentes.


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