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Vítimas iraquianas culpam os EUA por ataques
IAN FISHER
DO "NEW YORK TIMES", EM BAGDÁ
A bomba foi preparada para
matar soldados americanos, mas,
de novo, atingiu iraquianos. Destinada a atingir dois veículos militares que passavam, a explosão no
mês passado acertou em cheio
um ônibus no leste de Bagdá, matando três passageiros. Haider
Kassim, 11, se arrastou da carnificina com uma perna estraçalhada
por um pedaço de projétil. Mas
ele se recusou a ser atendido até
que sua mãe e sua tia, ambas muito mais machucadas, fossem medicadas.
Cada vez mais, os iraquianos
são vítimas deste novo estágio da
guerra, que continua mesmo com
a captura do ex-ditador Saddam
Hussein. As emoções que estão
aflorando não são simples.
O pai de Haider, Aziz, 43, orgulhoso da bravura do menino, elogiou também os americanos por
livrar o Iraque de Saddam. Mas
ele disse que sua família nunca teria se ferido se os americanos tivessem ficado em casa -e que,
mesmo se ele soubesse quem lançou aquela bomba, não contaria
aos americanos.
"Não quero cooperar com os
americanos", disse Aziz no hospital Al Kindi, onde seu filho, sua
mulher e sua irmã se recuperam.
"Eles são ocupantes."
Os iraquianos não parecem culpar os EUA diretamente pela insurgência que tem matado e mutilado iraquianos, intencionalmente ou em explosões em que
inocentes se ferem.
Mas entrevistas com essas novas vítimas, seus familiares e pessoas próximas parecem confirmar preocupações de alguns funcionários americanos de que a tática dos insurgentes está erodindo
a confiança na missão americana
no país, apesar de os autores dos
ataques serem na maioria leais a
Saddam e odiados pela maioria
dos iraquianos.
"Meu povo está matando meu
povo. Isso me deixa muito furioso", disse Rend Abdullah, um farmacêutico que prestou socorro
em ações que deixaram vários iraquianos feridos por ataques recentes. "A paz nesse país é tarefa
dos americanos. Eles têm uma
responsabilidade conosco agora."
Essa dinâmica -raiva contra os
EUA por ações de outros- não é
surpresa para o Exército americano, que afirma que os insurgentes
passaram a atacar iraquianos, alvos mais fáceis porque a segurança em torno dos soldados americanos aumentou.
Os insurgentes assassinaram
políticos e policiais por serem
"colaboradores", balearam iraquianos dirigindo caminhões para os militares e explodiram bombas em ruas movimentadas.
Não há estatísticas oficiais sobre
o número de iraquianos mortos e
feridos por outros iraquianos,
mas o número de ataques desse tipo havia duplicado antes da prisão de Saddam. Durante o mês sagrado do Ramadã, que praticamente coincidiu com novembro,
houve 74 ações contra civis e 82
contra forças de segurança iraquianas. Os militares não responderam a pedidos de informação
sobre ataques mais recentes.
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