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Previdência argentina ganha 2,5 mi filiados
Contra-reforma de Néstor Kirchner fez voltarem a contribuir com o Estado 20% dos que estavam no setor privado
Troca de planos, iniciada em abril de 2007 e encerrada ontem, abasteceu cofres do governo com cerca de US$ 2,5 bilhões no ano passado
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
Mais de 1,2 milhão de argentinos decidiram deixar seus
planos de Previdência privada e
voltar a contribuir com o Estado na contra-reforma previdenciária iniciada pelo governo
Néstor Kirchner em abril do
ano passado e encerrada no último dia 15.
Além deles, outro 1 milhão de
contribuintes que se enquadrava em categorias preestabelecidas pelo governo (professores,
pesquisadores, juízes, diplomatas e contribuintes com mais de
50 anos e menos de US$ 6.350
em suas contas) foi automaticamente transferido ao Estado.
Mais 250 mil novos contribuintes se somaram por não terem
optado expressamente pelo sistema privado -antes da contra-reforma, quem não declarava sua opção era incluído automaticamente na Previdência
privada.
Com esses cerca de 2,5 milhões de novos contribuintes,
os cofres do governo receberam no ano passado cerca de
US$ 2,5 bilhões, quase um terço
dos US$ 8,3 bilhões que permitiram ao país cumprir sua meta
de superávit fiscal primário de
3,2% em 2007.
O índice dos que aproveitaram a janela aberta por Kirchner para voltar ao Estado representa 20% dos filiados aos
planos de Previdência privados. Com isso, o sistema privado concentra agora 53% dos
contribuintes argentinos, contra 47% no Estado.
Em 1994, o então presidente
Carlos Menem criou a lei que
determinava que o trabalhador
que não fizesse uma opção expressa fosse incluído na Previdência privada. Além disso, tornara impossível que, uma vez
feita a opção por um plano privado, o contribuinte regressasse ao Estado. O governo Kirchner criou a contra-reforma para albergar aqueles que ficaram
decepcionados com os fundos
de pensão na crise de 2001,
quando perderam boa parte do
que tinham investido, pois o dinheiro havia sido direcionado a
títulos do Tesouro argentino,
que se desvalorizaram muito.
Diferenças
Agora, uma nova oportunidade para os contribuintes do
sistema privado migrarem para
o Estado só será dada em 2012.
Mesmo assim, os homens que
até lá completarem 55 anos e as
mulheres que passarem dos 50
não terão mais essa chance.
A maior diferença para quem
opta pelo Estado é a garantia de
uma aposentadoria mínima independentemente de quanto
tenha contribuído. Além disso,
o valor que receberá será aumentado a cada reajuste concedido pelo governo -só nos dois
últimos anos, o governo Kirchner aumentou três vezes o salário dos aposentados.
Já quem opta por um plano
privado pode ter uma rentabilidade maior, conforme os investimentos feitos pelos fundos de
pensão, mas não garante um
salário mínimo. Uma vantagem
que os planos privados tinham
sobre a Previdência pública foi
cancelada pelo governo. A partir deste mês, os contribuintes
dos dois sistemas terão descontados dos seus salários 11%
mensais. O valor já era esse para o setor público, mas até o ano
passado era de 7% para os contribuintes do sistema privado.
Para quem ganha mais, a troca pode ser desvantajosa: os filiados aos planos privados, ao
contrário dos que contribuem
no Estado, não têm um teto para suas aposentadorias, recebendo de acordo com aquilo
que contribuíram. Além disso,
o trabalhador pode optar por
receber o dinheiro que aplicou
na Previdência privada a qualquer momento, enquanto pelo
sistema estatal é preciso cumprir os pré-requisitos para se
aposentar.
O governo argentino, embora
trabalhasse inicialmente com
uma expectativa de ao menos
30% de regresso de contribuintes ao sistema, comemorou as
cifras. "É um bom nível de
transferência. E marca que o
sistema público recuperou legitimidade social", disse Claudio
Moroni, presidente da Anses
(equivalente argentino ao
INSS) e um dos que optou por
retornar ao Estado.
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