São Paulo, sábado, 19 de janeiro de 2008

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Sucesso de escolas cria boom católico

Pais batizam seus filhos para conseguir vagas nos disputados colégios católicos do Reino Unido

Crianças de 1 a 13 anos são 30,3% dos batizados no país; disputa por matrículas alimenta a expansão dos batismos "tardios"

RICHARD GARNER
DO "INDEPENDENT"

Pais desesperados para garantir aos seus filhos vagas nas muito procuradas escolas católicas do Reino Unido são responsáveis por uma alta no número de batismos católicos "tardios". Dados de pesquisa recente demonstram que batismos de crianças com idade entre 1 e 13 anos respondem agora por 30,3% das adesões ao catolicismo, ante apenas 5,4% há 50 anos. Isso representa uma ascensão de 6.925 para 20.141 crianças batizadas.
No mesmo período, a porcentagem de batismos católicos "no berço" caiu de 85% dos novos fiéis para 64%. Os números demonstram que houve 108.996 batismos no berço em 1958 ante 42.425 em 2005, o último número para o qual existem dados disponíveis. Tom Spencer, do Centro de Pesquisa Pastoral, a organização responsável pelo levantamento, disse que a ascensão no número de batismos "tardios" estava sendo alimentada pelo desejo de ex-católicos ou de adeptos não muito fervorosos da religião de garantir para seus filhos vagas nas procuradas escolas católicas britânicas. Ele afirma que hoje as escolas católicas contam com recursos financeiros superiores aos dos anos 50, quando estavam "empobrecidas". Como resultado, elas se tornaram capazes de oferecer educação de padrão mais elevado e seu desempenho nos exames melhorou.
"Quando chegamos aos anos 70, as escolas católicas tinham superado aquele período de pobreza e estavam se tornando boas, muito boas ou excelentes", disse Spencer. "Em função disso, a demanda por vagas nessas instituições cresceu não apenas entre os católicos mas também no restante da comunidade. O interesse representa um grande reconhecimento da comunidade britânica mais ampla à qualidade do ensino no sistema escolar católico."
Os números foram divulgados apenas três dias depois que Ed Balls, secretário da Infância, Educação e Família, anunciou que o governo havia deixado de lado seus programas de apoio à expansão das escolas religiosas.
O anúncio marca a primeira grande alteração da política educacional promovida na administração de Tony Blair. O ex-premiê desejava promover um sistema sob o qual as escolas religiosas formariam parceria com as academias públicas criadas por ele, sob a alegação de que os resultados superiores que aquelas obtinham nos exames significavam que era preciso promover a difusão de suas práticas de ensino eficientes junto às escolas urbanas.

Seleção
No entanto a informação é contestada pelo professor Alan Smithers, diretor do Centro de Educação e Emprego da Universidade de Buckingham, que afirma que as escolas religiosas se saíam melhor nos exames porque lhes era facultado selecionar mais os seus alunos e não em função da religião em si.
Oona Stannard, diretora do Serviço Católico de Educação da Inglaterra e País de Gales, disse que a igreja apreciava o fato de que as pessoas continuassem procurando batismo para seus filhos, ainda que mais tarde do que o normal. Ela reconhece que "é possível que haja pessoas que, à medida que seus bebês crescem, comecem a considerar de maneira mais cuidadosa a questão da educação e decidam que querem batizar seus filhos para que tenham a melhor oportunidade possível de freqüentar uma escola católica. Que a criança se torne parte da igreja e que o relacionamento entre sua família e a igreja se reforce só podem ser vistos como fatos positivos, não importa que a criança venha ou não a desfrutar dos benefícios de uma educação católica no futuro".

Professores sem religião
Enquanto isso, as escolas religiosas britânicas estão enfrentando crise de recrutamento, devido à baixa disponibilidade de profissionais cristãos de ensino para ocupar cargos letivos ou de direção. A Universidade Hope, de Liverpool, a única universidade ecumênica da Europa, realizou um evento sobre carreiras na semana passada, dirigido especificamente a estudantes que estejam considerando seguir carreira letiva em escolas religiosas.
Paul Gaunt, diretor interino de desenvolvimento de carreiras naquela universidade, afirma que, "se não tratarmos agora do declínio no recrutamento de professores praticantes de religião, o futuro será sombrio para as escolas religiosas do Reino Unido."


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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