São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004

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CARIBE

Líder de esquadrão da morte que agiu no país durante a ditadura de 1991-94 aproveita o caos e participa do levante

Ex-militares voltam ao Haiti para se juntar à rebelião

DA REDAÇÃO

A situação política no Haiti ficou ainda mais instável, com as notícias da volta para o país de ex-líderes militares rivais do presidente Jean-Bertrand Aristide e de que policiais estão fugindo e abandonando seus postos em diversas cidades.
Louis-Jodel Chamblain, líder de um esquadrão da morte e milícia de direita que aterrorizou a população durante a ditadura militar de 1991 a 1994, abandonou seu exílio na vizinha República Dominicana e cruzou a fronteira de volta para o Haiti. Entre outros ex-militares e policiais que regressaram para participar da rebelião contra Aristide também está Guy Philippe, ex-chefe da polícia de Cap-Haitien.
"O Exército não está mais desmobilizado", disse Joseph Jean-Baptiste, ex-sargento preso nos anos 90 sob a acusação de conspiração. Aristide desmanchou as Forças Armadas em 1995 -hoje o Haiti tem somente uma polícia com 5.000 integrantes. Baptiste está em Hinche, cidade de 50 mil habitantes que caiu sob o controle de 50 rebeldes liderados por Chamblain na segunda-feira.
Em Cap-Haitien, a segunda maior cidade do país, guardas que ainda não fugiram estão isolados dentro da sede da polícia. Eles dizem não ter condições de defender a cidade contra ataques.
A revolta começou no último dia 5, com a tomada de Gonaives. Até agora, cerca de outras dez cidades caíram sob o controle dos insurgentes, e mais de 60 pessoas morreram. Os rebeldes controlam as estradas que ligam a capital, Porto Príncipe, ao norte e a oeste, em direção à República Dominicana. Muitas cidades estão sem telefone e eletricidade, e os preços de alimentos e combustíveis dispararam nas regiões sob domínio dos guerrilheiros.
A oposição a Aristide ganhou força a partir de 2000, quando eleições legislativas foram canceladas depois de acusações de fraudes por parte do governo.
O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, descartou o envio de ajuda ao país do Caribe. "Francamente, não há nenhum entusiasmo agora para mandarmos forças para acabar com a violência", disse Powell. Um alto funcionário do governo americano disse que Aristide rejeitou a sugestão de convocação de eleições presidenciais antecipadas como forma de acabar com a crise. O mandato de Aristide termina em 2006.
A França está fazendo uma série de consultas a outros países para ver se há apoio para uma intervenção externa. "A França não propôs formalmente uma força da ONU. Poderia ser uma força civil, uma força policial. Há diversas opções possíveis", afirmou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
O ex-padre Aristide foi eleito presidente em 1990. Sete meses depois foi deposto por um golpe militar. Em 1994, voltou ao poder depois que os EUA enviaram 20 mil soldados para restabelecer a ordem democrática. Aristide deixou a Presidência em 1996 e em 2000 ganhou novo mandato, em eleição questionada pela oposição e por observadores.


Com agências internacionais


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