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FRANÇA
Em documento, cerca de 8.000 intelectuais dizem que o governo conservador está prejudicando as artes e as pesquisas
Chirac é acusado de "guerra à inteligência"
MARK JOHN
DA REUTERS, EM PARIS
Cerca de 8.000 intelectuais, artistas e cientistas franceses acusaram o governo, ontem, de travar
uma "guerra à inteligência" que,
disseram, está prejudicando as artes, a ciência e as pesquisas.
O governo conservador francês,
que enfrenta uma onda de greves
antes das eleições regionais de
março, não atribuiu importância
ao desafio dos intelectuais.
Segundo o abaixo-assinado publicado na revista "Les Inrockuptibles", o premiê Jean-Pierre Raffarin reduziu as verbas para a
educação e as pesquisas públicas e
golpeou o mundo das artes francesas, reduzindo os benefícios
previdenciários disponíveis para
artistas. "Essas áreas são alvos de
um ataque maciço que revela uma
nova forma de antiintelectualismo no interior do Estado. Estamos testemunhando uma política
proposital", disseram os intelectuais na petição, intitulada "Apelo
contra a guerra à inteligência".
Entre os signatários da petição
estão o filósofo Jacques Derrida,
os cineastas François Ozon e Catherine Breillat, o sociólogo Alain
Touraine e alguns pensadores de
esquerda como Daniel Cohn-Bendit, líder estudantil nos famosos protestos de 1968.
O rótulo de "intelectual" ainda é
algo ostentado com orgulho na
França, e os filósofos são presença
regular nos programas de TV. O
protesto dos intelectuais não parece representar uma ameaça real
ao governo, mas pode prejudicar
um pouco mais sua imagem antes
das eleições regionais, que representam um teste de seu desempenho na metade do mandato.
O governo enfrenta pressão das
greves de trabalhadores da saúde,
de ferroviários e de eletricitários,
justamente no momento em que
procura promover reformas e enxugar seu déficit orçamentário.
Os cortes no Orçamento já levaram cerca de 5.000 cientistas a
ameaçar com demissão em razão
dos baixos salários e da redução
de verbas para pesquisas, que, dizem, podem causar uma "fuga de
cérebros" -transferência de pesquisadores para o exterior.
No ano passado, Raffarin, que
cultiva uma imagem populista,
despertou a ira dos atores quando
reduziu seus benefícios sociais.
Neste ano ele entrou em choque
com os psicanalistas em torno de
uma lei que regulamenta seu setor
de atividade.
Desprezo
Durante um debate sobre a situação da França, em 2003, o premiê descreveu a intelligentsia, em
tom de desprezo, como "a rolha
de uma garrafa de champanhe,
que tenta avaliar sua qualidade
desde sua posição no alto".
"Há uma política de simplificação do debate público. Véu islâmico -contra ou a favor? Psiquiatra ou charlatão? Juiz de esquerda ou tira durão?", diz o abaixo-assinado, que acusa o governo
de "emburrecimento".
O governo de Raffarin -no
qual o chanceler, Dominique de
Villepin, é poeta com obras publicadas, e o ministro da Educação,
Luc Ferry, é filósofo formado-
rejeitou as acusações.
"Acho que devemos evitar
idéias simplistas e procurar não
confundir questões distintas",
disse o ministro da Cultura, Jean-Jacques Aillagon, à Reuters, após
a reunião semanal do gabinete.
"A impressão que se tem é que
existe uma motivação política por
trás disso."
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