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ORIENTE MÉDIO
Diante do Parlamento agora dominado pelo grupo terrorista, o presidente palestino afirma que negociará com Israel
Na posse histórica, Abbas desafia Hamas
MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE TEL AVIV
O Parlamento palestino, com
maioria de deputados do Hamas,
tomou posse ontem em cerimônia histórica que, no entanto, foi
marcada pelas divergências entre
o grupo terrorista islâmico e o
presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas.
Durante a posse, Abbas disse
que seu governo continuará negociando com Israel e seguirá
comprometido com os acordos
assinados com o país. Ele não chegou a pedir abertamente que o
Hamas reconhecesse Israel, mas
ressaltou posições contrárias às
idéias radicais do grupo.
"Não vamos aceitar qualquer
questionamento da legitimidade
dos acordos. No momento em
que foram endossados, tornaram-se uma realidade política
com a qual continuamos comprometidos", disse Abbas.
"A Presidência e o governo vão
continuar respeitando nosso
compromisso com as negociações como uma escolha política
estratégica e pragmática", disse
ele. "Ao mesmo tempo, devemos
continuar fortalecendo e desenvolvendo formas de resistência de
natureza pacífica."
O Hamas tem 74 dos 132 deputados do Conselho Legislativo Palestino. Catorze legisladores, sendo dez do Hamas, estão presos em
Israel. O grupo defende em sua
carta de fundação a destruição de
Israel por meio da violência e a
instauração de um estado islâmico em toda a Palestina histórica, e
considera inválidos os acordos interinos de paz feitos até agora.
Desde 2001, o grupo foi responsável por mais de 60 atentados
suicidas em Israel, mas vem respeitando a trégua fechada entre
Abbas e Ariel Sharon no início de
2005. "Rejeitamos uma negociação com a ocupação nas atuais
condições, enquanto a ocupação e
a agressão continuarem", disse
Moshir Al Masri, porta-voz do
Hamas em Gaza.
Mas há indícios de que o Hamas
pode procurar uma saída política.
Em Damasco, Khaled Mashal,
chefe da sessão política do Hamas, disse que o grupo pode aceitar o plano de paz saudita, que
prevê a retirada israelense para as
linhas de antes da Guerra dos Seis
Dias (1967) e propõe uma trégua a
longo prazo. Israel não aceita.
Abbas também pediu a continuidade da participação dos EUA
nas negociações, o que o Hamas
também é contra. Mashal, que já
sofreu uma tentativa de assassinato por Israel, esteve no Sudão e na
Turquia durante a semana, em
busca de apoio internacional alternativo. Ele deve também procurar ajuda do Irã, da Rússia e da
Venezuela.
De comum com o Hamas, Abbas defendeu a libertação de todos os palestinos que estão presos
em Israel e a fundação de um Estado com Jerusalém como capital.
O presidente também criticou
as políticas unilaterais de Israel,
marcadas pela retirada de tropas e
assentamentos da faixa de Gaza e
do norte da Cisjordânia em agosto passado.
A sessão inaugural foi realizada
em Ramallah, na Cisjordânia. O
Parlamento tem outra sede, na Cidade de Gaza, porque os deputados foram proibidos por Israel de
sair do território. Os dois plenários são conectados por videoconferência.
Antes da cerimônia de posse,
cerca de 200 policiais palestinos
fizeram um protesto na frente da
sede do Parlamento em Gaza, exigindo o pagamento de salários
atrasados. Eles disseram que haviam sido contratados há dois
meses e que ainda não receberam.
Abbas pediu formalmente ao
Hamas formar um governo, por
ter maioria parlamentar. O grupo
anunciou na semana passada que
Ismail Haniye, de Gaza, deverá ser
apontado como primeiro-ministro. O professor de geografia Abdel Aziz Duaik, da Cisjordânia, foi
eleito presidente do Parlamento.
Haniye tem três semanas para
formar o governo e pode receber
mais duas, segundo a lei palestina.
Para ampliar sua legitimidade, o
Hamas deve incluir membros do
Fatah, partido de Abbas, mulheres e cristãos no gabinete. A formação também serve para aliviar
o temor de que o Hamas implantará leis religiosas mais duras nos
territórios palestinos.
Israel
O governo de Israel ameaça
adotar medidas de embargo contra os palestinos. Os israelenses
dizem que, com o Hamas no poder, a Autoridade Nacional Palestina passará a ser considerada
uma "entidade terrorista".
O gabinete de Ehud Olmert estuda proibir a entrada de trabalhadores palestinos, o comércio
entre os territórios com Israel e o
congelamento dos contatos diplomáticos com a Autoridade Nacional Palestina. Na tarde de ontem já estava programado o fechamento da passagem de Erez,
entre Gaza e Israel, a partir de hoje. Mas as decisões finais serão tomadas depois que o Hamas formar o governo e definir suas posições.
O recém-nomeado embaixador
do Egito na faixa de Gaza, Ashraf
Akr, disse que seu país pode servir
como ponte diplomática entre a
Autoridade Nacional Palestina
controlada pelo Hamas e Israel.
"Estamos dispostos a facilitar o
diálogo, não há outra alternativa,
a não ser conversar", disse.
"Mas, em relação às divisões internas entre os palestinos, por enquanto não podemos fazer nada."
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