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Kosovo tem apoio de potências ocidentais
Mas independência da Província esbarra em resistência de aliados da Sérvia e de países que enfrentam separatismos
UE libera membros para interpretar lei internacional como lhes convier; na ONU, presidente sérvio diz que houve violação do direito
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha e Itália
reconheceram ontem a soberania de Kosovo, um dia depois de
a Província sérvia ter declarado
sua independência. Embora o
apoio das principais potências
ocidentais dê um impulso fundamental para o novo país, a relutância de parte da comunidade internacional em fazer o
mesmo indica que os desafios
diplomáticos de Kosovo ainda
estão longe de terminar.
O gesto do governo americano, já esperado, ocorreu na
Tanzânia, onde o presidente
George W. Bush está em visita
oficial. Em um comunicado, a
secretária de Estado, Condoleeza Rice, anunciou que o país
havia aceito o pedido de Kosovo de estabelecer relações diplomáticas."Os Estados Unidos
hoje reconheceram formalmente Kosovo como um Estado soberano e independente.
Nós parabenizamos a população de Kosovo nesta ocasião
histórica", disse Rice.
Numa resposta aos que, como a Rússia, condenaram a
emancipação de Kosovo por
considerar que ela pode gerar
tensões separatistas em outras
regiões, Rice disse que a história recente dos Bálcãs justifica
o apoio americano ao ato unilateral e negou que ele signifique
um precedente perigoso.
"À luz dos conflitos dos anos
90, a independência é a única
opção viável para promover a
estabilidade", afirmou.
No segundo dia de debates no
Conselho de Segurança da
ONU sobre o assunto, o presidente sérvio, Boris Tadic, pediu
que a declaração de independência seja anulada. "O Estado
sérvio nasceu em Kosovo, que
representa parte central de
nossa identidade", disse Tadic.
"Um país amante da paz, com
um povo europeu orgulhoso,
está tendo arrancada parte de
sua identidade, tradição e história. Este ato anula a lei internacional, atropela a justiça e
entroniza a injustiça."
Com os membros permanentes do Conselho de Segurança
divididos -EUA, Reino Unido
e França apoiando a soberania
kosovar; Rússia e China contra-, a reunião mais uma vez
acabou sem consenso.
Para a França, primeiro país
a anunciar o reconhecimento, a
independência de Kosovo representa o início de tempos
melhores. "É o fim dos problemas nos Bálcãs", disse o ministro do Exterior, Bernard
Kouchner. Reino Unido, Alemanha e Itália anunciaram que
seguirão a França. Dentro da
União Européia, persistiram as
divergências.
Europa dividida
Durante uma reunião em
Bruxelas, o bloco europeu tentou demonstrar unidade, mas
não chegou a uma posição unânime. Pelo menos 20 dos 27
países do bloco indicaram que
reconhecerão a soberania do
território, um passo que Espanha, Grécia, Chipre, Romênia e
Eslováquia por ora descartam.
Os chanceleres europeus
adotaram uma proposta de
consenso da Espanha, evitando
discutir o princípio estabelecido pela independência de Kosovo, mas ressaltando que ela
não serve de precedente para
outros casos. O comunicado diz
que cabe a cada país decidir como reagir à declaração de Kosovo segundo sua própria interpretação da lei internacional.
Alguns dos países que se
opõem ao gesto têm seus próprios fantasmas secessionistas.
A Espanha, por exemplo, está
sob permanente alerta contra
as demandas de separatistas do
País Basco e da Catalunha. E o
Chipre teme que a parte turca
do país, que não tem reconhecimento internacional, possa ganhar legitimidade.
Apesar das divisões, a UE se
prepara para enviar uma missão policial e administrativa
com cerca de 2.000 pessoas a
Kosovo. A missão irá substituir
a equipe da ONU que administra a Província desde 1999, após
a intervenção da Otan contra a
repressão sérvia aos separatistas kosovares.
Preocupações semelhantes
se estendem à Ásia, onde China, Indonésia e Sri Lanka criticaram o gesto de Kosovo. O governo chinês, que já ameaçou
agir militarmente contra a independência de Taiwan, se disse preocupado com a estabilidade nos Bálcãs. "A China está
preocupada com o grave e negativo impacto na estabilidade
da região e na meta de estabelecer uma sociedade multiétnica
em Kosovo", disse porta-voz.
Com agências internacionais
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