São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

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Obama muda aos poucos política para América Latina

Medida que libera viagem a Cuba ganha força, e presidente acena com mudanças em lei para poupar família de imigrante

Reação do Departamento de Estado a referendo na Venezuela foi um dos sinais de mudança de tom em direção mais progressista

Juan Barreto/France Presse
Chávez em cerimônia; EUA elogiaram a participação "Cívica"


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Nos últimos dias, embora não tenha feito da região uma prioridade de seu governo, como prometera na campanha, o presidente Barack Obama vem dando sinais que apontam para a implantação de uma agenda mais progressista para a América Latina. O mais recente veio da reação amena do Departamento de Estado à vitória chavista no referendo de domingo.
Mas não foi o único. No último dia 4, foi apresentada ao Congresso emenda que restabelece o direito de norte-americanos viajarem para Cuba e vice-versa. A medida, batizada Ato Pela Liberdade de Viajar a Cuba, é assinada por três deputados democratas e dois republicanos e está sendo analisada agora pela Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
Outras tentativas nesse sentido foram feitas em anos anteriores, mas, nos últimos oito anos, pairavam sobre elas a ameaça de veto de George W. Bush. A medida de agora conta com a simpatia expressa do ocupante da Casa Branca. Obama declarou que um ato como esse poderia ser o primeiro sinal efetivo da distensão que ele pretende promover nas relações EUA-Cuba.
Também no campo doméstico o estado de espírito parece mudar. Na semana passada, em entrevista-surpresa ao apresentador de uma rádio de língua espanhola na região de Chicago, o presidente concordou que mudanças na atual lei de imigração são necessárias para um tratamento mais justo dos latinos em situação irregular nos Estados Unidos.
Um dos assuntos da conversa foram as blitze que, segundo cálculos de entidades de defesa de imigrantes, nos últimos anos, prenderam ou deportaram cerca de 100 mil pais sem documentos de permanência que por isso foram separados dos filhos nascidos nos EUA.
Indagado pelo radialista Rafael Pulido, nome artístico "El Pistolero", se pretendia fazer alguma coisa a respeito, Obama disse que "levará em conta alguns dos danos que estão sendo impostos a famílias que estão aqui basicamente por conta da falta de empregos no México". O discurso é oposto ao pensamento predominante entre os republicanos.

"Reciprocidade"
"Obama deve fazer mais gestos e adotar um tom mais civilizado em relação às questões da América Latina", disse à Folha Mark Weisbrot, diretor do progressista Center for Economic and Policy Research, de Washington. "Mas parte disso é reciprocidade, porque a região também deverá tratá-lo com tom mais ameno do que o reservado a Bush."
A mudança de tom foi sentida nesta semana. Indagado sobre o êxito do presidente Hugo Chávez no referendo de domingo, que aboliu o limite de mandatos para cargos eletivos, um porta-voz do Departamento de Estado disse que o resultado foi "totalmente coerente com o processo democrático".
Menos de sete anos antes, sob George W. Bush, durante tentativa de golpe de Estado que tirou o líder venezuelano brevemente do poder, a Chancelaria havia dito que "ações antidemocráticas cometidas ou apoiadas pelo governo de Chávez provocaram a crise".
Nem tudo é elogio, porém. Uma das críticas feitas a Obama é a demora no preenchimento dos cargos-chave para a região. Em sua defesa, no entanto, diga-se que o ritmo lento não é privilégio do trato com a América Latina. O presidente ainda não indicou 2 dos 15 postos do próprio ministério.
Segundo cálculos de Paul Light, especialista em transições presidenciais, o democrata apontou até agora cerca de 10% dos cargos que precisam de aprovação do Senado.


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