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Obama muda aos poucos política para América Latina
Medida que libera viagem a Cuba ganha força, e presidente acena com mudanças em lei para poupar família de imigrante
Reação do Departamento
de Estado a referendo na Venezuela foi um dos sinais de mudança de tom em direção mais progressista
Juan Barreto/France Presse
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Chávez em cerimônia; EUA elogiaram a participação "Cívica" |
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Nos últimos dias, embora
não tenha feito da região uma
prioridade de seu governo, como prometera na campanha, o
presidente Barack Obama vem
dando sinais que apontam para
a implantação de uma agenda
mais progressista para a América Latina. O mais recente veio
da reação amena do Departamento de Estado à vitória chavista no referendo de domingo.
Mas não foi o único. No último dia 4, foi apresentada ao
Congresso emenda que restabelece o direito de norte-americanos viajarem para Cuba e
vice-versa. A medida, batizada
Ato Pela Liberdade de Viajar a
Cuba, é assinada por três deputados democratas e dois republicanos e está sendo analisada
agora pela Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
Outras tentativas nesse sentido foram feitas em anos anteriores, mas, nos últimos oito
anos, pairavam sobre elas a
ameaça de veto de George W.
Bush. A medida de agora conta
com a simpatia expressa do
ocupante da Casa Branca. Obama declarou que um ato como
esse poderia ser o primeiro sinal efetivo da distensão que ele
pretende promover nas relações EUA-Cuba.
Também no campo doméstico o estado de espírito parece
mudar. Na semana passada, em
entrevista-surpresa ao apresentador de uma rádio de língua espanhola na região de Chicago, o presidente concordou
que mudanças na atual lei de
imigração são necessárias para
um tratamento mais justo dos
latinos em situação irregular
nos Estados Unidos.
Um dos assuntos da conversa
foram as blitze que, segundo
cálculos de entidades de defesa
de imigrantes, nos últimos
anos, prenderam ou deportaram cerca de 100 mil pais sem
documentos de permanência
que por isso foram separados
dos filhos nascidos nos EUA.
Indagado pelo radialista Rafael Pulido, nome artístico "El
Pistolero", se pretendia fazer
alguma coisa a respeito, Obama
disse que "levará em conta alguns dos danos que estão sendo
impostos a famílias que estão
aqui basicamente por conta da
falta de empregos no México".
O discurso é oposto ao pensamento predominante entre os
republicanos.
"Reciprocidade"
"Obama deve fazer mais gestos e adotar um tom mais civilizado em relação às questões da
América Latina", disse à Folha
Mark Weisbrot, diretor do progressista Center for Economic
and Policy Research, de Washington. "Mas parte disso é reciprocidade, porque a região
também deverá tratá-lo com
tom mais ameno do que o reservado a Bush."
A mudança de tom foi sentida nesta semana. Indagado sobre o êxito do presidente Hugo
Chávez no referendo de domingo, que aboliu o limite de
mandatos para cargos eletivos,
um porta-voz do Departamento de Estado disse que o resultado foi "totalmente coerente
com o processo democrático".
Menos de sete anos antes,
sob George W. Bush, durante
tentativa de golpe de Estado
que tirou o líder venezuelano
brevemente do poder, a Chancelaria havia dito que "ações
antidemocráticas cometidas
ou apoiadas pelo governo de
Chávez provocaram a crise".
Nem tudo é elogio, porém.
Uma das críticas feitas a Obama é a demora no preenchimento dos cargos-chave para a
região. Em sua defesa, no entanto, diga-se que o ritmo lento
não é privilégio do trato com a
América Latina. O presidente
ainda não indicou 2 dos 15 postos do próprio ministério.
Segundo cálculos de Paul
Light, especialista em transições presidenciais, o democrata apontou até agora cerca de
10% dos cargos que precisam
de aprovação do Senado.
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